segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

A Corporação de Música da Vila de Fontes

Banda de Música de Freixo
de Espada à Cinta
Em meados do século XIX surgiu, por todo o país, um enorme interesse pelas bandas de música. Foram influenciadas pelas bandas militares, ou marciais, como era costume serem desiganadas. Normalmente eram fundadas como sociedades filarmónicas. Vila Real não foi excepção. A cidade e o termo, ou mesmo concelhos limítrofes. Em livro coordenado por Elísio Neves e por A. M. Pires Cabral[1], a que já neste blogue fizemos referência, este aspecto é abordado. Paulo Vaz de Carvalho discorre sobre Otílio Figueiredo, músico amador, já no século XX. Ângelo do Carmo Minhava lembra a famosa Marcha de Vila Real, composta por Monsenhor Minhava, na primeira metade do século XX, e Elísio Neves depois de nos informar que a Tuna Académica Vila-Realense foi fundada em 1895[2], elabora uma síntese sobre as filarmónicas da Vila e do termo em artigo intitulado A Música Em Vila Real, Algumas Achegas Para A Sua História.
O quadro que se segue dá conta desses elementos[3]:

Banda de Música
Ano de Fundação


Banda de Música de Mateus
1810
Banda de Música da Portela
1840
Banda de Música de Nogueira
1850
Música Instrumental de Vila Real
1861
Música de Arroios
1862
Banda de Música de Arroios
1864
Música de Arroios
1866
Música de Guiães
1864
Sociedade Musical de Vila Meã
1871
Sociedade Musical e Instrumental de Vila Meã
1873
Banda de Música Mosteirozense, de Mosteirô
1871
Banda de Música Marcial da Portela, Folhadela
1877, 1883,
Banda de Música da Portela, Folhadela
1896
Banda Marcial de Folhadela
1878
Música Instrumental e Igreja de Sabroso, Folhadela
1882
Banda Marcial de Sabroso, Folhadela
1888

 A Vila de Fontes também teve a sua “Banda”, noutras proporções e com outra designação: Corporação[4]. Como é visível em documento, cujo fragmento se publica, reproduzindo as passagens principais do mesmo. Esta escritura é fruto da investigação feita no Arquivo Distrital de Vila Real no ano de 2002, como é demonstrado pelo carimbo a vermelho no fragmento.
Fragmento do documento
Foi fundada em 1865[5], como se observa no início do documento: “Saibão Quantos este publico Instrumento de Escritura de ensino de Muzica ou como em Direito melhor lugar haja virem que no anno do Nascimento de Nosso Senhor Jezus Cristo de mil oitocentos sessenta e cinco aos doze dias do mes de Novembro neste lugar de Fontes Julgado de Santa Martha de Penaguião e Caza da Morada de João Ferreira da Costa” (…).
Como segundo outorgante apresentava-se “o professor da Corpuração Rafael do Nascimento Guedes Bonito do lugar da Cumieira”.
Perante as testemunhas e o tabelião, todos acordaram “em criar e estabelecer hũa corporação da Muzica com sede Neste lugar de Fontes, tomando como Mestre e Professor da mesma o segundo Outorgante Raphael do Nascimento Guedes Bonito para ensinar a cada um dos outorgantes alunos e filhos dos outorgantes pais o instrumento que escolherem”.
O contrato baseava-se nas seguintes condições: “Que haverá tres ensaios por semana sendo segundas, quartas e sextas-feiras, sendo estes durante a estação invernoza, de noute, e nas Mais quadras do ano, de dia e a hora que combinarem particolarmente segundo a melhor conveniencia dos alunos e do Mestre. Que as musicas são da obrigação e a custas dos alunos, salvo aquellas que o Mestre lhe querer prestar e fornecer – Que cada um dos alunos fica obrigado e sujeito ao Regolamento de conduta que for accordado entre todos, alunos e Mestre. Que este contrato de ensino durará tres annos desta data e em todo este tempo o Mestre acompanhará sempre a corporação em todos e quaisqueres funções a que forem = Que assim cada um dos outorgantes alunos pagará ao Mestre por seu ensino a quantia de seis Mil reis annuaes, pagos mensalmente em todo o tempo dos referidos tres anos” (…)[6]

 Armando Palavras




[1] Vila Real, História ao Café (2008).
[2] Idem, p. 415.
[3] Fizemos referência ao essencial.
[4] Cf. Os tectos durienses: a iconografia religiosa setecentista nas pinturas dos templos da região demarcada (Tese de Doutoramento), Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Lusíada de Lisboa, Área científica: História da Arte, Orientador: Prof. Doutor Luís Manuel Aguiar de Morais Teixeira; Coo-orientadora: Professora Doutora Isabel Mendonça.
[5] No texto da tese, publicada neste blogue, sobre este documento aparece uma lacuna (situação frequente em teses deste género). Em vez de 1865, aparece 1765. O dia e o mês estão correctos. No índice documental também não aparece a referência, mas sabe-se a fonte. À cota perdemos-lhe o rasto nos oito anos de investigação. Contudo, quando assim é, quando surge uma dúvida, recorre-se ao anexo documental. E aí está tudo correcto.
A propósito desta lacuna lembramos um episódio de há mais de 20 anos com um grupo de Amigos antigos. Num repasto bem regado, falava-se de Literatura. Veio à conversa Jorge Amado. Lembrei-lhes que “Nenhuma obra é perfeita sem gralhas”. E lembrei-lhes, a propósito, que o primeiro grande sucesso de Jorge Amado (tinha vendido mais de UM MILHÃO de exemplares) tinha, na sua primeira edição, mais de duas mil gralhas. E nesse mais de um milhão, nnguém havia notado!
[6] Transcrevemos o essencial do documento.

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