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Texto enviado por Carlos D’Abreu
Ribadelago, a morte de uma aldeia
Local: Sala de Exposições do Centro Cultural de Vila Nova de Foz Côa
Autor: Asociación Hijos de Ribadelago
Ribadelago, aldeia da comarca de Sanábria (vizinha do concelho de Bragança), fundada na Alta Idade Média próximo do belo lago glaciar, desapareceu do mapa numa madrugada do mês de Janeiro de 1959, arrastada por uma tromba de água proveniente do rebentamento do paredão da barragem hidroeléctrica de Vega de Tera, inaugurada cerca de 3 anos antes.
Na tragédia, pereceram 144 dos seus 549 habitantes – dos quais somente se recuperaram 28 cadáveres –, 60% das casas foram arrasadas e morreram 1.500 animais.
Foi a aldeia reconstruída, num outro local, a que o ditador Franco chamou “Ribadelago de Franco”, hoje “Ribadelago Nuevo”.
Esta exposição pretende homenagear as vítimas dessa tragédia e contribuir para não deixar cair no esquecimento, a dívida que o povo de Espanha tem para com estes sanabreses, nossos vizinhos raianos e irmãos no infortúnio, num momento em que o Douro Transmontano é alvo da soberba humana na questão do PNBEPH
Ribadelago - A morte súbita de uma aldeia provocada pelo rebentamento de uma barragem
Esta exposição relata o lamento pungente de Ribadelago, uma aldeia da Comarca de Sanabria, (Zamora), que foi devastada por uma torrente de 8.000.000 de metros cúbicos de água, após o rebentamento da barragem hidroeléctrica de Vega de Tera na madrugada do dia 9 de Janeiro de 1959, causando a morte trágica por afogamento de 144 pessoas.
A exposição oferece uma ampla reportagem fotográfica das gentes de Ribadelago, das casas arrasadas e das primeiras imagens registadas pelos jornalistas junto das equipas de resgate.
Nela, os painéis vão descrevendo detalhadamente as primeiras 48 horas do trágico acontecimento, a sua repercussão na imprensa nacional e internacional, a construção deficiente da barragem, a famosa “Lenda do Lago” e a aldeia submersa, a primeira mulher carteira de Espanha, a construção da nova Ribadelago, bem como a descrição de testemunhas e sobreviventes.
Nos vídeos recolhem-se declarações de testemunhas directas dos acontecimentos, que nos dão conta dos dramáticos momentos vividos após a tragédia e que, ainda hoje, não foram capazes de esquecer. Um vídeo de cerca de cinquenta minutos de duração, resume fielmente os factos, intercalando notícias do regime de Franco transmitidas sobre a catástrofe e a propaganda às grandes infra-estruturas que então levava a cabo e das quais fazia gala. Nessa altura, Espanha era um país isolado, pois toda a comunidade internacional condenava o regime ditatorial. Franco silenciou e ocultou ao mundo a desgraça de Ribadelago, mas apesar disso, vários países europeus enviaram ajuda humanitária para os sobreviventes desalojados. A maior parte dela, não chegou aos necessitados. Razão pela qual, ainda hoje, a democracia espanhola continua em dívida para com Ribadelago. Mormente porque os judicialmente responsabilizados pela ruptura da barragem, foram rapidamente perdoados pelo ditador, pese embora não terem observado na sua construção, as mais elementares medidas de segurança e protecção relativamente à aldeia de Ribadelago, localizada a jusante.
Através desta exposição, tomamos consciência da perversão moral que em muitas ocasiões leva à obtenção ilimitada e irracional de enormes benefícios económicos por parte de grandes corporações empresariais que, como no caso da hidroeléctrica de Moncabril (construtora da presa de Vega de Tera), não duvidou em construir uma barragem (a que rebentou), com escassos materiais, de rápida e barata execução, e com insuficientes medidas de prevenção e segurança, obcecados com a sua conclusão rápida para que começasse a produzir electricidade. Afinal de contas, mais abaixo, na humilde aldeia de Ribadelago ninguém podia protestar contra tais atropelos, porque poderosos membros do regime político, eram accionistas da empresa proprietária da barragem.
Assim sendo, a Norte da Península Ibérica, temos oito milhões de metros cúbicos de memória para que não enterrem Ribadelago no esquecimento. E esta exposição honra-nos a todos, unindo os dois povos irmãos contra a injustiça e o olvido.
Por fim, acrescente-se que a exposição é propriedade da Associação Filhos de Ribadelago e foi criada para comemorar o quinquagésimo aniversário da tragédia, graças à tenacidade, à entrega desinteressada e à boa vontade de pessoas como David Seoane e Felipe San Román, Presidente e Secretário da dita associação, respectivamente.
JRB/Cd’A
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