quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Nigéria - O massacre no "Gigante de Pés de Barro"


Massacre na Nigéria a cristãos
A Federação da Nigéria data de 1914. O Norte foi gerido pelo Britânicos de acordo com a indirect rule, e o Sul, cristianizado, era mais escolarizado, onde se formaram elites numerosas. As clivagens regionais, religiosas e étnicas permaneceram. Este gigante africano acede à independência em 1960. Porém, o país é rapidamente rasgado por vários conflitos. O mais violento foi a guerra do Biafra (1967-70), que opunha os Ibo (apoiados pela França, Israel e Portugal) à federação (apoiada pela Grã-Bretanha e a antiga URSS). O número de mortos desse conflito calcula-se em mais de um milhão. Desde essa altura tem-se observado uma alternância de regimes civis e militares, de Chefes de Estado muçulmanos e cristãos.
Atlas das Relações internacionais,
Plátano, , 2009
Com 924.000Km2, para os actuais 160 milhões de habitantes (290 milhões previstos para 2050), o Estado federal da Nigéria continua a ser um “gigante com pés de barro”, pois combina fortes desigualdades de rendimentos com recursos petrolíferos importantes (3% do total mundial), mas mal geridos. No delta do Níger, o roubo de barris de petróleo está calculado em 100.000 barris diários. A sua instabilidade económica e o seu potencial de potência regional foram reduzidos pela constante instabilidade politica. As linhas de fractura são de três ordens: confessional, regional e histórica. O mosaico étnico está distribuído por três grandes grupos: Haussa e Peul muçulmanos a norte (33%), Irouba a sudoeste (31%) e Ibo cristianizados a leste (12%). O exército que ocupa o poder por intermitência, participando na distribuição do rendimento petrolífero, desempenha um papel central. Os movimentos islâmicos são plurais, sufisma das confrarias tradicionais, movimentos de tipo salafista e movimento mahdistas.
Acontece que, no passado dia 25 (dia de Natal), duas igrejas cristãs foram incendiadas e os seus fies (cerca de 35, diz a comunicação social sem vergonha alguma) foram queimados vivos, como é visível em imagem que nos chegou através de mão amiga onde se observa que ultrapassa, em muito, o número avançado pela comunicação social[1]. Acompanhada de legenda: “Merece a atenção e divulgação de todo aquele que professa a fé em Jesus Cristo!!! Um verdadeiro absurdo! Triste demais, mas a pura realidade! “.
Na verdade, é a repetição de Pompeia e Herculano. Só que desta vez não foi a Natureza, foi o próprio Homem.
Armando Palavras

Alguma bibliografia para consulta:

ALMEIDA, Eugénio Costa, África, Trajectos Políticos, religiosos e Culturais, Autonomia 27, 2004
BONIFACE, Pascal; VÉDRINE, Hubert, Atlas das Crises e dos Conflitos, Plátano Ed. 2010
BUTCHER, Tim, Á Caça do Diabo, Bertrand, 2011
BUTCHER, Tim, Rio de Sangue, Bertrand, 2009
CORREIA, Amílcar, A Balada do Níger, Civilização, 2007
SINGER, Peter, Crianças em Armas, Pedra da Lua, 2008
BEAH, Ishmael, Uma Longa Caminhada, Casa das Letras, 2007 (relato pessoal)

[1] Em África estes crimes são comuns após a época das independências. Na África Central além da Nigéria, temos casos como os da Serra Leoa e Libéria. O caso do Ruanda, do Congo (a que já dedicamos artigo neste blogue), Somália, Eritreia, Sudão, Drafur, Zimbabué, etc., etc.

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