sexta-feira, 13 de maio de 2011

A Mentira Politica e a bancarrota


Ressuscitasse hoje o bacharel de Coimbra, o poeta da Pátria, Guerra Junqueiro, e não chegariam as considerações de tantos, para zurzir em quem nos conduziu tragicamente, em meia dúzia de anos, para a bancarrota.
Ressuscitasse o poeta, Eça ou Ramalho e o Povo acordaria a cinco de Junho.
                               Anónimo (Leitor de jornal nacional)

                         Não se acredita num mentiroso mesmo quando fala verdade
                                                                                                                 Cícero

Com a assinatura de Jonathan Swift, sai a público em Amesterdão no ano de 1733, um opúsculo intitulado Arte da Mentira Politica[1]. Todavia, este texto atribuído a Swift, devemo-lo ao punho de John Arbuthnot (1667-1735), médico da rainha Ana e autor satírico escocês que passou à posteridade como o criador da personagem de John Bull, que encarna para a eternidade o estereótipo do carácter nacional britânico. Arbuthnot era discreto e publicava anonimamente.
O texto começa por fornecer as bases fisiológicas da mentira, ligando-a ao lado da alma demoníaca como é tratada nos Evangelhos. O essencial do tratado reside, porém, nos efeitos políticos do fingimento. Questão que tem agitado a reflexão politica desde A República de Platão[2] até ao Principie[3] de Maquiavel. Deverá, para seu bem, esconder-se a verdade ao povo, enganá-lo com vista à sua salvação? A arte da mentira politica é de facto “a arte de fazer crer ao povo falsidades salutares, com determinado bom fim”. O povo “não tem direito nenhum à verdade politica”. E, em analogia com a personagem de La Fontaine, continua: O povo “é gelo ante as verdades, e fogo diante das mentiras”. A massa é crédula, mente e pode ser levada ao engano. A mentira é o seu elemento natural, sendo necessária “mais arte para convencer o povo de uma verdade salutar do que para o levar a querer numa falsidade salutar”.
O texto enumera depois uma tipologia das falsificações politicas, enumerando três tipos: a mentira por calúnia, a mentira por adição e a mentira por transladação. E avança que é preciso saber dar proporção ao engano e à verdade.
Para dar dignidade à mentira politica, o texto propõe a constituição de uma “sociedade de mentirosos” que deveria ter como tarefa exclusiva o embuste político. E para isso precisaria de uma massa de crédulos apta a repetir, a espalhar, a disseminar as falsas noticias que os outros forjaram. Porque “ não há homem que com maior encanto recite e propague uma mentira do que aquele que nela crê”. E esta confraria deve testar “mentiras experimentais”, para ver que depois morde o anzol.
O nosso século veio dar razão ao autor que, à época propunha uma associação artesanal de embusteiros. Hoje, como George Orwell[4] observou no seu tempo, existe um verdadeiro Ministério da Verdade destinado ao fabrico da Mentira.
O texto ainda diferencia as mentiras totalitárias das democráticas. E como afirmava Maquiavel, convém “ ser-se grande fingidor e dissimulador […] aquele que engane sempre há-de ter quem se deixe enganar”.
Na verdade, esta Arte da Mentira, reitera a lição de Maquiavel: “aí têm como vos mentem”.
No capítulo undécimo o autor conclui que uma mentira é mais fácil de ser combatida, opondo-lhe outra mentira.



[1] Publicado em português pela Fenda (1996).
[2] Fundação Calouste Gulbenkian (9ª edição), 2001.
[3] Guimarães Editores (13ª edição), 2007.
[4] Politica e Linguagem; O Triunfo dos Porcos (Europa América, 2005); 1984.

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