quinta-feira, 30 de maio de 2024

Frei Diogo de Murça, Milhões e Guilhermino Pires: Um sábio, um herói militar e um mestre de artes gráficas

 

Seminario de Vila Real - Aspecto da Mesa que presidiu à Sessão Comemorativa das Bodas de Diamante do Seminário de Vila Real, realizada em 23 de Outubro de 2005. A contar da esquerda: António Guilhermino Pires, D. Joaquim Gonçalves (Bispo da Diocese de VR), Barroso da Fonte e Altino Moreira Cardoso.



Frei Diogo de Murça, Milhões e Guilhermino Pires:

Um sábio, um herói militar e um mestre de artes gráficas

Esta ridente vila, sede do concelho de Murça, embora das menos populosas do distrito de Vila Real, sempre se impôs pela qualidade dos seus filhos. Cito apenas três figuras nacionais de outros tantos séculos: XVI, XIX e XX.

Frei Diogo de Murça (?-1570) foi um frade Jerónimo, dos mais antigos que estudaram no estrangeiro e cuja competência, humanista e científica, fizeram dele o reitor da Universidade de Coimbra e fundador da Universidade da Costa (em Guimarães) entre 1537-1552. Faleceu em 1570 com fama de santidade. Acabou os seus dias na qualidade de refugiado na reforma administrativa, no Mosteiro Beneditino de Refojos, em Cabeceiras de Basto, onde foi sepultado.

Aníbal Augusto Milhais (1895-1970). Com 1,55 cm de altura e analfabeto foi, popularmente proclamado, herói nacional, sob o epíteto do seu Comandante: «tu és milhais, mas vales milhões».

O terceiro murcense que tem brilhado desde a década da segunda guerra mundial, até ao dia em que escrevo esta nota, chama-se António Guilhermino Pires, conforme se lê no registo civil, mas para os muitos amigos, e em nome do seu berço natal, desde a sua vida estudantil, usa o topónimo Zé de Murça. No cartão social refere que é, desde que cessou funções, na direção e ensino superior, Professor Jubilado, Com. Ord. S. Gregório Magno e Cavaleiro de Gutenberg.

Capa do livro póstumo de homenagem a
Júlio Geraldes, pelos antigos alunos dos
Salesianos do Porto. Publicado em
Dezembro de 2021, foi coordenado por
 Jorge do Santos e Guilhermino Pires,
que também tratou da elaboração gráfica.


Capa de Banalidades,
da autoria de João Felgueiras.
A coordenação editorial
deste volume esteve a cargo
de Guilhermino Pires,
 que também escreveu o Posfácio.



Citar Gutenberg é recuar ao século desta personagem que concebeu as artes gráficas, como «impressor e inventor alemão, Johannes Gutenberg. Nasceu na última década do século XIV no arcebispado de Mainz, na Alemanha, e morreu, provavelmente, em 1468. A ele se deve a invenção de um método original de impressão com tipos móveis».

Um dos referidos livros ofertados por G. Pires foi o livro comemorativo dos 50 anos da Uniarte Gráfica, sediada em Campanhã, no Porto. Desse luxuoso volume, dedicado a Francisco Cerqueira, respigamos esta “Reprodução da oficina tipográfica de Plantin, Antuérpia, 1570”. Tela propriedade da Uniarte.

 


Ora Guilhermino Pires herdou, de Frei Diogo de Murça, o gosto e a necessidade de evoluir, em saltos qualitativos, por parte dos humanos de todo o mundo. A evolução sempre foi uma meta, um gosto e uma necessidade, tanto mais que «a necessidade cria o órgão».

Para evoluir em qualquer ramo do Saber, é preciso começar pelo princípio de tudo. O exemplo de Frei Diogo foi deslocar-se às universidades do seu tempo. Um bom sábio ensina tudo aquilo que lhe foi útil, rejeitando as inutilidades que possam surgir em sentido contrário.

O Zé de Murça, o soldado Milhões e Frei Diogo foram um trio que elegi, nesta narrativa para informar os meus leitores que recebi, aos 85 anos de vida, uma espécie de prenda, por dois factores que invoco: por ter nascido, em Trás-os-Montes, no ano em deflagrou a 2ª Guerra Mundial. E, sobretudo, por ter seguido o ideário deste trio de comprovincianos que influíram no meu percurso de aprendizagem.

Tendo aprendido muito com os dois primeiros e, ainda, sem ter convivência com o terceiro, que apenas conheci pela sua obra, tive a oportunidade de inserir as suas biografias no I volume do Dicionário dos mais ilustres Transmontanos e Alto Durienses.

Evolução das técnicas de impressão
(in 
Uniarte / Francisco Cerqueira - 50 Anos
)
Os três volumes têm 1764 páginas. E preparo um quarto volume que espero, ainda, conseguir publicar. Esses três tomos ocuparam-me os anos de 1995 a 2004. Entretanto voltei à Universidade do Minho, onde fiz o mestrado e o doutoramento, investigando dois autores: Alberto Sampaio e Alfredo Pimenta. Ainda preparei outros trabalhos, nomeadamente o 4º volume daquele Dicionário. Prometi que aprontaria essa carga. Mas em Janeiro deste ano, com 71 anos de jornalismo activo e 85 de vida, dei comigo a confrontar-me com dificuldades físicas que me impedem de cumprir este desejo e esta promessa.

Confesso esta minha faceta para informar os meus eventuais leitores que me desculpem as eventuais e crescentes «gafes» que venha a cometer, nesta carreira de 7 décadas de «vício» do jornalismo, com a agravante de ser detentor, desde 2017, do título de Decano dos jornalistas portugueses.

 

Um mestre das artes gráficas

Há cerca de um mês Guilhermino Pires enviou-me, como oferta, quatro livros, dois dos quais sobre o complexo mundo da indústria gráfica. Tendo completado o curso de tipógrafo-compositor numa escola Salesiana, tornou-se, logo de seguida, ele próprio formador nestas escolas que foram referência no ensino profissional das tipografias.

«O mérito levou-o a Itália, onde obteve o diploma do Magistério Gráfico, licenciando-se, depois, em Ciências e Artes Gráficas. De volta a Portugal, e após passagem pelo Funchal, onde coordena a formação gráfica e gere a tipografia da Escola Salesiana, entra, em 1970, por concurso público, para a Imprensa Nacional. Mantém-se durante cerca de 25 anos na Direcção de Produção Gráfica, em anos de grande transformação, que começaram com a tipografia e acabaram no digital, passando pela fotocomposição», pode ler-se sobre Guilhermino Pires no Dicionário dos mais ilustras Transmontanos e Alto Durienses.

Polivalente em diversas atividades simultâneas, Guilhermino Pires foi promotor e iniciador dos cursos de bacharelato e de licenciatura bi-etápica em TAG (primeiros do género em Portugal e raros na Europa desde 1986, na altura em que Guilhermino foi Diretor da Imprensa Nacional - Casa da Moeda)».

Além disso, este ilustre murcense «foi o responsável pelos últimos catálogos de tipos da fundição tipográfica e redesenhou três séries de caracteres («Europa», «Bicentenário» e Lusitanas») que foram produzidos em liga metálica. Sai para se dedicar a outra paixão de sempre, a formação (a todos os níveis de ensino), fundando o Curso de Tecnologias e Artes Gráficas do Instituto Politécnico de Tomar (IPT), o primeiro em Portugal em que o ensino-aprendizagem das tecnologias e artes gráficas é elevado ao nível do Ensino Superior. No IPT, entre outras, criou uma oficina tipográfica de referência, reunindo um importante espólio cedido em grande parte pela Imprensa Nacional, além de doações de conhecidas empresas de materiais gráficos. É, provavelmente, quem mais sabe de tipografia de caracteres móveis. Continua a considerar-se um tipógrafo e vem partilhar um pouco do muito que sabe».

Nas recensões que são feitas a este «campeão» nacional das Artes Gráficas, fala-se da sua passagem, por 20 anos, de serviço prestado ao Instituto Politécnico de Tomar. Lecionou no IADE, na Universidade Católica e na Universidade Aberta, e foi diretor do Departamento de Tecnologia. Lê-se também que em junho de 2018 lhe foi imposta a insígnia da Associação Lusófona de Cavaleiro de Gutenberg pelo seu legado à indústria nacional das artes gráficas.

Foi durante vários anos o presidente da Organização Mundial dos Antigos Alunos do Ensino Católico. E, ainda hoje, está ligado a várias instituições culturais e religiosas, sobretudo pelos muitos e representativos organismos de interesse regional e nacional.

Guilhermino Pires, que acabou de completar 88 anos de idade, e tendo-se radicado em Lisboa, percorre dezenas daquelas insituições onde, regularmente, assume funções diretivas, ou aceita convites para falar, ou ouvir falar, naquelas associações culturais, artísticas, humanitárias, ou outras que tenham ligações a Trás-os-Montes.

Barroso da Fonte

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