Era uma vez um país
Onde o pão era contado
Onde quem tinha raiz
Tinha o fruto assegurado.
Onde quem tinha dinheiro
Tinha o operário algemado
Onde o escravo ceifeiro
Dormia no meio do gado.
Onde tossia o mineiro
Nas minas explorado
Onde morria primeiro
Quem nascia desgraçado.
Foi então que abril abriu
As portas da liberdade
E a nossa gente invadiu
A sua própria cidade.
Disse a primeira palavra
Na madrugada serena
Um poeta que cantava
O povo é quem mais ordena.
Agora que já floriu
A esperança na nossa terra
As portas que abril abriu
Nunca mais ninguém encerra.
Os cinquenta anos de abril
Tornaram-se enganadores
Porque quem veio a seguir
Foram os maiores traidores.
Direi mal, daqui não saio
Apenas canto o que é meu
Não sou como o papagaio
Que só diz o que aprendeu.
Os que bons conselhos dão
Às vezes fazem-me rir
Por ver que eles próprios são
Incapazes de os seguir.
Entre leigos e letrados
Fala só de vez em quando
Que nós às vezes calados
Dizemos mais que falando.
25 de abril de 2024, Júlio de Barros.
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