Aquilo que
escrevo, à hora em que o faço, é uma gritaria infernal, no território do
continente e nas ilhas.
Na vida familiar e
social ensina-se que não devemos elogiar-nos. Devem ser os outros a fazê-lo.
Mas, em política, é o contrário: são os políticos que se esfalfam aos quatro
ventos, em todas as direções e, à mais alta voz, berram, como doidos durante os
quinze dias de campanha e os meses que antecedem a abertura legal. Meio século
depois da revolução de Abril já deu para concluir que a pureza democrática se
esgota por cada novo escrutínio popular.
O XV Governo
Constitucional tomou posse, em 6 de abril de 2002, sendo chefiado por José
Manuel Durão Barroso, do Partido Social-Democrata e pelo Partido Popular, na
sequência das eleições de 17 de março de 2002. Coincidiu esse ato com o fim do
século XX e entrada no século XXI. Todos nós, portugueses, que tínhamos
conhecido os exageros do Estado Novo, contribuímos, cada um à sua maneira, para
harmonizar a sociedade a que pertencemos.
Já decorreu mais
um quarto de século. Sempre à espera de melhores políticos, de mais obras e de
menos promessas, de maiores consensos e de muito menos demagogia. Tudo ao
contrário, umas vezes por razões naturais, como a pandemia, outras vezes por
desonestidades, branqueamentos, oportunismos e incompetências.
Entre 2002 e 2004,
Durão Barroso deixou-se seduzir por um cargo Europeu que honrou Portugal, com
dois mandatos exemplares. Mas empobreceu a política interna que o então
Presidente da República, (Jorge Sampaio) agravou, com uma decisão polémica que
nunca mais serenou o clima político.
Desde aí,
alargou-se a criação de novos partidos políticos. Foi crescente a ambição
pessoal de alguns que se legalizaram mas sem representação parlamentar.
A ruralidade do
país atingiu um decréscimo inimaginável. O país, já de si, é um espaço pequeno
e tende a esvaziar-se do seu território original. Começou por ser o Condado
Portucalense. E, de ano para ano, é visível a perda de população na sua
periferia. Os políticos no ativo, somente se lembram deste minúsculo Condado
Portucalense por altura das eleições. Veja-se o desprezo sistemático, pelo
fechar de olhos, à Estrada Nacional 103 que foi aberta em pleno Salazarismo.
Não havia as máquinas de terraplanagem que há hoje. E, quer o traçado, quer o
piso, quer a sinalização, mais se assemelham às picadas das Províncias
Ultramarinas de Angola, Moçambique, Guiné ou Cabo Verde. O exemplo mais claro
da semelhança são os 274 kms que partem de Neiva, em Viana do Castelo, à cidade
de Bragança, passando pelos concelhos de Barcelos, Vieira do Minho, Boticas,
Póvoa de Lanhoso, Montalegre, Boticas, Chaves, Valpaços,Vinhais e Bragança.
Durão Barroso foi
o último governante a mexer na EN 103
Foi em 2002 que
Durão Barroso veio a Montalegre, em campanha. Aqui prometeu e renovou o piso
entre Ruivães Montalegre. Desde há 20 anos esse troço Salazarista não mais
beneficiou de obras, salvo alguns remendos, ali pela Venda Nova. Até hoje, essa
esfarrapada, antiga, salazarenta e quase lendária «picada», teve nestes
20 anos, quatro ministros: Mário Lino, António Mendonça, Pedro Marques e Pedro
Nuno Santos.
A
imprensa, os turistas e a generalidade dos transeuntes, sempre censuraram os
políticos, pelo desinteresse e falta de respeito, por quem aqui nasce, vive e
morre. Habituaram-se a elogiar, o fumeiro da região, e os 36 congressos que
catapultaram Vilar de Perdizes para a catedral da bruxaria e do paganismo.
Nunca este povo teve coragem de desobedecer aos seus fãs ideológicos. Eles
sabem que esses fãs mandam e comandam e que a justiça está prevenida para todas
as circunstâncias.
Representantes dos 12 municípios atravessados pela EN103 e o Presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal, Luís Pedro Martins, reuniram recentemente, em Bragança, com o intuito de implementar uma estratégia de valorização e promoção turística daquela via.
Os camaradas,
ministro Pedro Nuno Santos e o presidente Luís Fernandes, entenderam-se melhor
do que com Orlando Alves e Nuno Vaz, autarcas de Montalegre e de Chaves.
A EN 103 já tem
meia centena de anos desde o fim da ditadura e outros tantos de democracia.
Salazar gizou o traçado que ainda é o mesmo. Parte de Fão, passa em Braga, sobe
o Minho por Póvoa de Lanhoso, Salamonde, Ruivães, Venda Nova, Montalegre,
Boticas, Chaves, Valpaços, Rebordelo. Vinhais, Bragança. Se os mortos falassem
e os sucateiros tivessem guardados os destroços dos acidentes deste
primeiro século assistiríamos a uma guerra sem precedentes.
O drama dos
viandantes que neste século de enorme progresso viário, pudessem apresentar
queixa contra os eleitos locais, não chegariam as cadeias, nem os juízes para
todos os julgamentos.
Esta decisão de
Pedro Nuno Santos, foi herdada do seu antecessor que - ainda bem -anda lá pelos
aerópagos europeus, certamente, bem acomodado, como quantos para lá vão.
Estes 30 milhões
para 30 kms de Vinhais a Bragança ajudam a perceber como se administram os
dinheiros públicos e como vale a pena satisfazer os «nossos», em desfavor dos
«outros».
Se esta
metodologia foi experimentada em tempo de maioria relativa, agora, com a
maioria absoluta, ficou-se a saber que cada quilómetro custará um milhão de
euros e que a lógica nas adjudicações vai sempre depender da cara dos autarcas.
Em Janeiro de
2022, os representantes dos 12 concelhos atravessados pela EN 103, ao longo de
274 quilómetros, na companhia do Presidente do Turismo do Porto, Luís Pedro
Martins, reuniram em Bragança, em 18 de Janeiro com o intuito de implementar uma estratégia de
valorização e promoção turística 103.
Ignoro se este grupo de autarcas aceita que a rainha das
estradas salazaristas se apoia neste privilégio de Vinhais ou se discorda desta
«gracinha» do ministro mais ruidoso do último governo de Costa que se prepara
para o basqueiro dos porches da nova geração.
A hora certa para o ajuste de contas é no próximo domingo (10 de
Março).
Como vem a propósito e este órgão de comunicação social anda
desalinhado do regime, entendo reproduzir aqui a referida notícia que este
Marco representa bem visível da EN Salazarenta recorda os anos que levou a
construir e que tem um historial secular. Para os muitos que daqui somos este
trajeto mostra a distância que nos afasta, com frequência do país real.
A maior parte dos Portugueses que tem boas estradas, bons carros
e vivem nos meios urbanos, onde nada falta, este marco é curioso. Para os
residentes, em invernos rigorosos, com gelo, neve e nevoeiro, mais as curvas e
contra-curvas, a EN 103 é um inferno.
Barroso da Fonte
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