domingo, 25 de fevereiro de 2024

PARABÉNS A PE. FONTES - 22 DE FEVEREIRO 2024

 Por Maria da Graça

PARABÉNS A PE. FONTES - 22 DE FEVEREIRO 2024

18 - (EXCERTO)

"Não posso perder tempo com acontecimentos da terra. Sem que exista motivo para parar a minha vida, continuarei a minha existência como me propus narrar, ou alguém se propôs, nesta forma livre e ficcionada dos meus momentos. Estou no seminário. Ou antes, não estou. Vou a caminha de Tourém de carro. E até  aldeia, até esse tempo, há o seminário. Uma educação severa que proibia ler romances. A capela era  lugar ideal para os ler por ser lugar pouco vigiado. O local de oração sempre foi refugio de sossego. Talvez tivessem medo, os superiores, da presença de Deus que ali estava mais perto da Terra. Naquele recinto não incomodavam ninguém. Mesmo durante as eucaristias, quando os chinelos voavam de um lado para  o outro.


Era proibido vir de chinelos mas, à noite , depois do banho, ninguém cumpria essa regra. E como a Eucaristia era celebrada sempre nessa monotonia bafienta, tínhamos de encontrar formas de passar o tempo. Uma era arrastar bancos, obrigando alguém a ficar de pé. Outra, a mais perigosa e arrojada, era fazer de chinelos discos voadores quando os conseguíamos arrancar dos pés de algum moço distraído, Nunca participei dessas aventuras. Para mim bastava olhar e ver. Os sorrisos silenciosos esqueciam o tempo. Todavia tudo parou por alguns meses, quando um chinelo desgovernado, atirado pelo Chico, um rapaz robusto de Chaves, foi parar ao altar no momento da consagração do pão e do vinho. Virou o vinho. Não foi expulso porque o pai, um fabricante de móveis dava quantias avultadas para o seminário. O assunto foi silenciado e os chinelos deixaram de voar. Somente se moviam os bancos. 

Depois das férias, quando voltava para a severidade, levava sempre presunto e chouriços. A primeira vez. ainda não estava habituado aos costumes da casa, fui confiscado. Ficaram-me com todos os fumados. Deviam se rir de nós ao comê-los. Desejei-lhes silenciosamente que se entalassem até ao rabo com aqueles alimentos. Da segunda vez, e sabendo o que acontecia, guardei os produtos debaixo da capa e nas mangas do capote. Podia cheirar um pouco, mas nunca descobriram onde estavam, Sabíamos que nessa noite teríamos revista ao quarto. Pegava nos odores de porco divinais e escondia-os no penico. Nunca o utilizava a não ser para esse fim. Vinham, revistavam tudo, e partiam desolados. Com os produtos bem guardados e em nosso poder, marcávamos uma noite, eu mais seis, para nos juntarmos e fazermos uma pequena e silenciosa festa.

A preparação era cuidadosa ... ... ...

(...)

IN  PADRE FONTES - O Romance de Uma Vida

 

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