Escritora e Jornalista
António Costa nunca fez outra coisa na
vida senão servir a causa pública, o que torna a saída de cena mais patética.
Foi de missionário a demissionário
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NOVEMBRO 2023 08:23
Dignidade e elevação, portanto.
Mas, porém, todavia, contudo.
Recapitulemos. O Presidente
reuniu o Conselho de Estado antes de tomar uma decisão que acabou por ser só
dele. Uns dias depois da reunião, secreta, sigilosa, como compete a um
altíssimo e respeitabilíssimo órgão de consulta, apareceu no jornal “Público” o
relato de tudo o que tinha acontecido na reunião. Quem tinha dito o quê, quem
tinha votado a favor e contra a manutenção do Governo do PS com um
primeiro-ministro nomeado pelo primeiro-ministro demissionário. Apareceram as
fotografias, as cabecinhas de quem tinha votado o quê, para não restarem
dúvidas sobre a denúncia. E assim o sigilo se foi, na maior indignidade do
denunciante que, percebe-se, desejou com isto beneficiar o PS e dizer que gente
respeitável como o general Ramalho Eanes queria que o Governo continuasse.
Quebra de sigilo neste órgão deveria constituir motivo necessário e suficiente
para a sua dissolução. Deixou de ser o que pretendia ser.
A seguir, o Presidente tomou a
responsabilidade da decisão de dissolver, deixando o Governo em funções mais
uns meses. Decisão salomónica, que ninguém parece ter apreciado. Agradeceu ao
primeiro-ministro demissionário a dignidade e elevação e os anos de serviço
público. Faltavam mais anos do que os que o Presidente referiu, porque António
Costa está na causa pública desde sempre. Nunca fez outra coisa na vida senão
servir a causa pública, o que torna a saída de cena mais patética. Foi de
missionário a demissionário.
Entretanto, soubemos pelos
jornais duas coisas. Que Pedro Nuno Santos ia avançar e que José Luís Carneiro
também. Soubemos a seguir que Pedro Nuno Santos tinha almoçado com a personagem
Ascenso Simões, o que logo indicia que os almoços continuam a ser uma tradição
inquebrável em Portugal, com gastos despiciendos ou sem. A personagem Ascenso
confessou ao “Observador” que Vítor Escária precisava de duas lambadas na cara.
Não se sabe se terá dito focinho, a fórmula química exata de frase tão
portuguesa.
Havia ainda a história do
ministro caído em desgraça Galamba, que apesar de estar nas histórias do lítio
e do hidrogénio verde, era denunciado como consumidor de haxixe, “em casa”, e
como tendo usado o carro e o motorista da função para levar as filhas e para ir
“buscar vinho”. A preponderância dos vinhos nesta história está por investigar,
pode haver uma correlação. Talvez a operação se devesse chamar “Under the
Influence”, o termo inglês para condução sob o efeito do álcool, em vez de
Influencer. Galamba, do alto da dignidade, disse que não se demitia. E que
tinha condições para continuar.
Entretanto, Mário Centeno
quebrou o silêncio para dizer que tinha sido convidado, ou sondado, para
primeiro-ministro por Marcelo Rebelo de Sousa, uma entidade diferente do
Presidente. O Presidente nunca faria as coisas que o Marcelo faz. E foi o
Presidente que lhe respondeu, dizendo que não era verdade e que jamais o tinha
convidado ou sondado. Mário Centeno, prudentemente, retratou-se, e disse que
afinal não tinha sido convidado pelo Presidente. Era mentira. A bem da
dignidade.
Entretanto, o primeiro-ministro
falou à Nação, apesar de estar demissionário, em breve demitido quando os
pró-formas se efetivarem. Fez um novo comício de autodesculpabilização usando a
sede do Governo e, em tom magoado, disse que nunca tivera amigos, porque um
político da craveira dele não tem amigos, e que o dinheiro vivo que matou
Escária, e o matou a ele, era uma vergonha e não sabia de nada.
O povo acredita, e acredita que
António Costa nunca desviou um cêntimo para si mesmo. Não acredita que não
tivesse lido o currículo de Escária quando o contratou como chefe de gabinete e
que não soubesse que tipo de amizade entretivera com Lacerda durante tantos
anos, em que Lacerda se inseria em tudo o que era grande negócio do Estado com
o aval e complacência de Costa. Costa, inchado de húbris, cai sobre a própria
espada.
Em seguida, soubemos que Pedro
Nuno Santos ia “conversar” com Ana Catarina Mendes, em vez de “almoçar”. A
grande vantagem das mulheres é não apreciarem almoçaradas. Nem gastos não
despiciendos. Pelo menos, em comida. Por causa da linha, as mulheres são muito
disciplinadas.
Entretanto, o dito Galamba, que
nunca se demitiria e tinha condições para continuar, demitiu-se. Antes, tinha
avisado, se certas coisas não fossem feitas, por ele, entenda-se, perdíamos os
milhões do PRR. Depois de mim, o dilúvio.
Fiquemos por aqui. Qualquer
outro partido que fizesse metade, um terço destas patifarias e trapalhices, já
teria sido engolido vivo. O Partido Socialista, o seu corpus e a sua
ideologia esparsa e difusa, tanto é de esquerda como de centro como não é nada
a não ser a favor da sobrevivência política e pessoal, possui uma resistência
aos escândalos e desaires que os outros partidos não têm. António Costa é o
perfeito exemplar deste estado de coisas. Passos Coelho foi crucificado por muito
menos. O PS sobreviveu ao escândalo da Casa Pia, a única vez que correu perigo
sério e em que atiraram a matar para destruir o partido e seus dirigentes,
sobreviveu à demissão de Guterres, e fuga, sobreviveu ao escândalo de Sócrates,
único na história de democracia portuguesa, sobreviveu aos erros e horrores da
pandemia (que não foi o sucesso imputado a Costa, que a certa altura estava
mais interessado em trazer para Portugal um campeonato de futebol do que no
confinamento, chamando a isto um “prémio” aos médicos e trabalhadores do
Serviço Nacional de Saúde — a mais asinina frase da democracia portuguesa) e
sobreviveu aos escândalos deste Governo. Pedrógão, Tancos, negócios corruptos
da Defesa, o transfronteiriço de outro nomeado de Costa com cadáveres no
armário, e as guerras com os professores e os médicos. Fora o resto. A pouco e
pouco, por inércia, incompetência e arrogância do Governo, vimos esboroarem-se
o SNS e a educação pública.
Ora nada disto faz parar o PS
para pensar. O PS julga-se o único partido competente e inteligente para
governar a pátria, e acha-se o destinatário de um direito divino. O PS
comporta-se como uma monarquia, com famílias reais, uma aristocracia que não
renuncia aos privilégios, uma corte de serventes e serviçais, e direitos dinásticos.
O mote real é “Habituem-se!”. A insígnia é “contra tudo e contra todos”.
São socialistas e basta, o
título sugere uma supremacia moral. Este PS não aceita pactos de regime, usa a
direita ou a esquerda conforme lhe convém para se manter à tona. E acha-se a
única garantia contra o Chega e a ameaça corporizada em André Ventura. Na
verdade, usa Ventura como o papão da democracia, tal como usara Passos Coelho
como o papão da austeridade e da justiça social.
Com o mestre da sobrevivência
António Costa, todas estas características se acentuaram, agravadas pelo facto
de o pessoal político se ter desqualificado. A aristocracia dos tempos da
fundação era agora um corpo de videirinhos e trepadores sociais, com raras
exceções. A prova disto é que em Portugal a única coisa que se discute é
dinheiro, ou a falta dele.
O mundo está a arder, as causas
ditas humanistas ou ideológicas regressaram, há um veio de idealismo que
reaparece quando há guerra e crise aguda das nações e das potências.
Aqui, no cantinho, discute-se a
conta da mercearia e quem roubou no peso. Este PS não vai sair de cena com
facilidade, não admite a derrota, não tem escrúpulos morais. Não tem emprego.
“Um fraco rei faz fraca a forte
gente”, disse Luís de Camões.
FONTE:
https://expresso.pt/politica/crise/2023-11-16-Um-fraco-rei-6a89426b
Na minha Terra, a um Senhor bonito como este, chamam de "O Artista"... Promete vida folgada, milhões a esbanjar em indemnizações quase sem fazer contas, um Porche para cada um, nada de pagar as dívidas- até tremem as pernas aos alemães!, e se cá vêm, agarramos numa moto-serra como o outro - Portugal, a República dos diamantes ...- Só não há em Portugal camas que cheguem no Santa Maria para os doentes que há! Tenham vergonha na cara e construam instalações para cuidados paliativos!! Só cagança e tapam o sol com a peneira!!!
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