quinta-feira, 27 de julho de 2023

A FEBRE DO LÍTIO

 

                                                                   A FEBRE DO LÍTIO

 

Dizem que existe em Barroso                                                     

Esse mineral famoso                                                                                                             

Tão raro, e tão procurado                                                                 

Só se lembram destas terras

Onde há minerais para as guerras

E pró estudo avançado.

 

Mas nós já estamos fartos

De sermos prejudicados

Não queremos ser acionistas

Desses oportunistas

Que só nos têm explorado.

 

O lucro sem segurança

Está na nossa lembrança

A riqueza aqui tirada

Não queremos escavação

Nem danosa exploração

Nesta linda terra amada.

 

Preservar o ambiente

É tudo que queremos sempre

Ar puro, e água cristalina

Nesta tão rara beleza

Em Barroso com certeza

Não chegará a haver mina.

                                       

 

Somos hoje tão falados

De certo modo invejados

Queremos viver desse jeito

Exigimos ser escutados

Devidamente informados

Dignos do maior respeito.

 

Conservar é o que queremos

As nossas águas saudáveis

As lindas paisagens que temos

As nossas serras intactas

E não cheias de buracos

É tudo o que pretendemos.

 

Não queremos sentir mais

Os abusos do passado

Do tempo dos nossos pais

Sofrendo efeitos fatais

Ficando prejudicados.

 

Sofremos nestas paragens

Os efeitos das barragens

E a exploração da Borralha

Mudando a natureza

Destruindo a beleza

Maldita vilã canalha.


Os que gostam de Barroso/ Usamos esta doutrina/ Neste ambiente formoso/ Dizemos um não à mina/.

Depois de pedidos todos os esclarecimentos sobre a exploração do lítio em Barroso, poucas respostas satisfatórias foram dadas, e ninguém assume as responsabilidades. Os habitantes das áreas abrangidas, têm todo o direito de pedir informações concretas sobre o impacto da exploração, os seus benefícios, e os prejuízos que o seu efeito implicará; podem e devem exigir-se as devidas garantias. Na minha opinião, a preservação das águas, é o fator mais importante.

É criminoso tornar uma terra considerada Património Agrícola Mundial, e que as suas águas já abastecem uma área considerável de habitantes, e pode vir a abastecer muitos mais, transformá-la num átrio de poluição. No passado fomos prejudicados com a exploração do volfrâmio, nas minas da Borralha, que deixaram os nossos campos e os nossos montes esburacados, e projetaram várias nascentes nas profundezas das minas de onde as águas saem poluídas. A conservação do meio ambiente deve ser preservada, todos os produtos da terra explorados não podem causar efeitos nocivos para a saúde, e bem-estar dos seus habitantes.

As coisas quando começam mal, raramente acabam bem, os governantes e os responsáveis locais, têm o dever de tomar as devidas providências de modo a não prejudicar o meio- ambiente, o ar puro e saudável que aqui se respira. Mesmo que o ministério do ambiente garanta a exploração com todo o rigor ambiental, terá de ter a concordância dos residentes das áreas abrangidas porque são eles que vão sofrer as consequências.

Entre os anos 1914/1916, os habitantes de Salto, fizeram forte oposição ao governo, revoltando-se contra a anexação da freguesia de Salto a Cabeceiras de Basto, (ver Questão de Salto, de José Dias Batista,) e depois de várias sentenças contrárias, mantiveram Salto em Barroso, será que já não há sangue desse nas veias dos barrosões? 


Júlio de Barros



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