Escritor tanzaniano, nascido em Zanzibar e radicado na Inglaterra, Abdulrazak Gurnah fala sobre migração e a África para além da colonização, fugindo do clichê eurocentrista.
Migração para a fria e húmida Inglaterra
Com By the sea e seu antecessor Admiring silence, em
que um narrador em primeira pessoa não identificado retorna a Zanzibar depois
de 20 anos na Inglaterra, Gurnah se volta para a migração, que também faz parte
da realidade de sua vida. Em 1964, a elite árabe, que por 200 anos governara a
maioria africana em Zanzibar, foi derrubada. Em meio aos massacres que se
sucederam, Gurnah acabou trocando Zanzibar pela Inglaterra.
Aos 21 anos, começou a escrever em inglês e não mais
em suaíli, seu idioma materno. Gurnah estudou na Inglaterra e foi professor de
literatura pós-colonial na Universidade de Kent por muitos anos, até
recentemente. Em suas pesquisas, voltou-se para escritores como o Nobel
nigeriano Wole Soyinka e o queniano Ngugi wa Thiong'o, que também estava entre
os favoritos ao Nobel de Literatura deste ano.
Escolha surpreendente
do Comitê do Prémio Nobel
Gurnah é o primeiro autor tanzaniano a receber o
Prêmio Nobel e o primeiro escritor africano negro desde Wole Soyinka, premiado
em 1986. Embora em grande parte desconhecido, o reconhecimento chega mais do
que atrasado, comentou ao jornal britânico The Guardian Alexandra Pringle, sua
editora de longa data na Bloomsbury. "Ele é um dos maiores escritores
africanos vivos e ninguém nunca havia reparado nele. Isso me cortava o
coração."
O próprio Gurnah não acreditou quando recebeu a
ligação de Estocolmo. "Achei que fosse uma piada", consta do site do
Prêmio Nobel. "Coisas desse tipo geralmente acontecem com semanas de
antecedência."
Humor subtil
Thomas Brückner, tradutor dos livros de Gurnah para o
alemão, valoriza sobretudo a sutileza do humor nos romances do escritor
tanzaniano. "Ele escreve livros muito tranquilos, numa linguagem muito
elegante, muito precisa, com uma observação muito atenta de suas personagens,
de suas vidas interiores e também do que acontece em torno dessas figuras e,
portanto, em torno do autor", disse à agência de notícias alemã DPA.
Brückner lamenta, porém, que de dez romances e
diversos contos escritos por Gurnah, apenas cinco obras tenham sido traduzidas
para o alemão – o último sendo Desertion, em 2006.
A última obra do autor faz inclusive referências à
Alemanha. Lançado em 2020, Afterlives trata sobre o jovem Ilyas, que foi
roubado dos pais pelas tropas alemãs, e anos depois retorna à aldeia natal para
lutar contra seu próprio povo.
FONTE: https://www.opovo.com.br/vidaearte/2021/10/10/quem-e-abdulrazak-gurnah-nobel-de-literatura-2021.html
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