terça-feira, 12 de outubro de 2021

Abdulrazak Gurnah, Nobel de Literatura 2021


Escritor tanzaniano, nascido em Zanzibar e radicado na Inglaterra, Abdulrazak Gurnah fala sobre migração e a África para além da colonização, fugindo do clichê eurocentrista.

Migração para a fria e húmida Inglaterra

Com By the sea e seu antecessor Admiring silence, em que um narrador em primeira pessoa não identificado retorna a Zanzibar depois de 20 anos na Inglaterra, Gurnah se volta para a migração, que também faz parte da realidade de sua vida. Em 1964, a elite árabe, que por 200 anos governara a maioria africana em Zanzibar, foi derrubada. Em meio aos massacres que se sucederam, Gurnah acabou trocando Zanzibar pela Inglaterra.

Aos 21 anos, começou a escrever em inglês e não mais em suaíli, seu idioma materno. Gurnah estudou na Inglaterra e foi professor de literatura pós-colonial na Universidade de Kent por muitos anos, até recentemente. Em suas pesquisas, voltou-se para escritores como o Nobel nigeriano Wole Soyinka e o queniano Ngugi wa Thiong'o, que também estava entre os favoritos ao Nobel de Literatura deste ano.

Escolha surpreendente do Comitê do Prémio Nobel

Gurnah é o primeiro autor tanzaniano a receber o Prêmio Nobel e o primeiro escritor africano negro desde Wole Soyinka, premiado em 1986. Embora em grande parte desconhecido, o reconhecimento chega mais do que atrasado, comentou ao jornal britânico The Guardian Alexandra Pringle, sua editora de longa data na Bloomsbury. "Ele é um dos maiores escritores africanos vivos e ninguém nunca havia reparado nele. Isso me cortava o coração."

O próprio Gurnah não acreditou quando recebeu a ligação de Estocolmo. "Achei que fosse uma piada", consta do site do Prêmio Nobel. "Coisas desse tipo geralmente acontecem com semanas de antecedência."

Humor subtil

Thomas Brückner, tradutor dos livros de Gurnah para o alemão, valoriza sobretudo a sutileza do humor nos romances do escritor tanzaniano. "Ele escreve livros muito tranquilos, numa linguagem muito elegante, muito precisa, com uma observação muito atenta de suas personagens, de suas vidas interiores e também do que acontece em torno dessas figuras e, portanto, em torno do autor", disse à agência de notícias alemã DPA.

Brückner lamenta, porém, que de dez romances e diversos contos escritos por Gurnah, apenas cinco obras tenham sido traduzidas para o alemão – o último sendo Desertion, em 2006.

A última obra do autor faz inclusive referências à Alemanha. Lançado em 2020, Afterlives trata sobre o jovem Ilyas, que foi roubado dos pais pelas tropas alemãs, e anos depois retorna à aldeia natal para lutar contra seu próprio povo.

FONTE: https://www.opovo.com.br/vidaearte/2021/10/10/quem-e-abdulrazak-gurnah-nobel-de-literatura-2021.html

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