Agora que António Lobo Xavier deixou o politicamente
correcto para exercer, de facto, uma análise séria de comentador, vale a pena
ouvi-lo.
Quanto aos seus colegas de jornada, entram por um
ouvido e saem pelo outro.
A propósito do último caso politico entre o
Presidente da República e o primeiro-ministro, diz-nos na última sessão da Circulatura do
Quadrado de 31 de Março de 2021:
“Não se pode saber, com a prática orçamental
deste Governo (“cativações à la Centeno”), se uma lei produz aumento de
despesa ou não”, até porque “nenhum Orçamento deste Governo chegou ao limite da
despesa”.
“Estas leis majoram os apoios sociais que estavam
previstos, mas não é seguro que aumentem a despesa total do Orçamento do Estado
(OE)”.
“Com toda a
probabilidade será possível fazer aquela despesa sem aumentar o limite total do
OE”.
Nessa altura [disse o Conselheiro de Estado], o Presidente enviou uma carta ao
primeiro-ministro perguntando se iria invocar a norma-travão constitucional que
impede aumento de despesas e redução de receitas e António Costa respondeu
dizendo que não, pois conseguia acomodar a despesa e “não queria abrir um
conflito institucional com a Assembleia da República” — um episódio que foi
noticiado pelo Expresso.
Lobo Xavier lembrou que o Governo argumentou então que
recorrer à lei-travão era “uma prerrogativa que podia exercer ou não, consoante
a sua conveniência e juízo, mas não tem o dever de o fazer”. Exactamente o contrário do que António Costa agora
defendeu.
Lobo Xavier diz ainda: “O que diz o Presidente é isto:
não quererá o primeiro-ministro, nesta situação grave, ter sobre a lei-travão a
posição tão simpática e adequadora que teve há oito meses, em circunstâncias semelhantes?”.
E sobre a questão da direita se ter juntado à esquerda
nesta questão, Lobo xavier disse: “o Presidente da República não quer ser o
tabelião desses diferendos”, dizendo que compreende a promulgação do Presidente
também como “uma questão de autoridade moral”. Por um lado, porque o próprio Marcelo Rebelo de Sousa tem defendido o
aumento de apoios sociais. Por outro, porque não terá gostado de ver divulgada
a carta que lhe foi enviada por António Costa para o “informar” que aqueles
apoios sociais violavam a norma-travão: “Esse recado [do primeiro-ministro]
perturbou a articulação de funções, porque foi interpretado como uma pressão
pública”. Sublinhou que “Ao Presidente da República não caiu bem a pressão pública”.
Uma análise correcta de Lobo Xavier; de verdadeiro comentador.
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