segunda-feira, 8 de abril de 2019

Uma determinada Literatura no período soviético



Aos que sofreram nos GULAG soviéticos
as agruras sofridas pelos judeus nos campos de extermínio nazis
e pelos chineses nos campos do deserto de Góbi.


Enquanto no Ocidente, durante todo o século XIX, autores como Baudelaire e Marx, entre outros, aproveitaram o processo de modernização em desenvolvimento para o usarem como fonte de energia e material criativo, nas áreas geográficas fora do Ocidente a modernização era inexistente. Foi essa a situação da Rússia durante todo o século XIX. A sua economia estagnava, e em alguns casos até regredia. Trotski reconhece-o na sua História da Revolução Russa, no I Volume: “O traço essencial e o mais constante da história da Rússia é a lentidão em que o país se desenvolveu, apresentando como consequência uma economia atrasada, uma estrutura social primitiva e baixo nível cultural."
Este atraso em relação ao Ocidente desempenhou um papel central na política e na cultura russas, da década de 1820 ao período soviético. Cerca de cem anos. A Rússia, em relação ao Ocidente, no século XIX, foi um arquétipo do Terceiro Mundo no século XX.
No início do século XX, o país com maior dimensão populacional em quase todos os outros padrões surgia em último. Em 1913 tinha o rendimento per capita mais baixo da Europa (exceptuando o Império Otomano), e a esperança de vida (30 anos) colocava-o século e meio atrás da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos da América. Tchékhov di-lo sarcasticamente na sua peça O Cerejal.
Contudo, esta era do subdesenvolvimento russo produziu, no espaço de duas gerações, uma das maiores literaturas do mundo. E, curiosamente, foi São Petersburgo, a capital imperial, a mais clara expressão de modernidade no solo russo do século XIX. Que iniciou uma tradição literária brilhante com características próprias. Assumida com Puchkine (no seu Cavaleiro de Bronze) e se estendeu a Gogol, Chernyshevski, Dostoievski e Bieli. Nela surge como personagem principal o “homem comum”, cujo destino é sempre o de vítima. Mas uma vítima cada vez mais audaciosa no século XIX, fruto das várias revoluções. Uma vítima que encarna a vida real de alguns dos autores. Dostoievswki, por exemplo, teve a vida moldada por dois acontecimentos. O seu pai morreu quando ele era ainda jovem, provavelmente assassinado por um dos seus servidores. Mais tarde, o autor de Recordações da Casa dos Mortos esteve prestes a ser executado por traição. Foi cruelmente conduzido ao cadafalso e deixado de olhos vendados à beira da morte, antes de ser informado que a pena fora comutada.
E como Dostoievski nenhum poeta, romancista ou dramaturgo russo terá trabalhado em condições normais de liberdade intelectual. Muito menos em condições favoráveis a essa liberdade.
Pode continuar a ler o “ensaio” AQUI, AQUI ou AQUI

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