terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Já cá cantam, 60 anos na folha de serviço público do Notícias de Mirandela


JORGE LAGE


 Com um grave problema da saúde do subdirector do jornal, Arnaldo Pinto, a quem desejamos uma total recuperação, o Notícias de Mirandela passou por dificuldades acrescidas de logística. O Director, Jerónimo Pinto, passou a não ter tempo para tanto trabalho da tipografia e do jornal. Uma medida acertada foi passar o jornal de quinzenário para mensal. Contudo, o trabalho pouco diminui porque é preciso, em simultâneo, permanência e deslocações ao exterior, atender o público e fazer trabalhos tipográficos ou de logística. O Município e os mirandelenses só vão sentir a sua falta e a sua importância quando não o tiverem. Quando tiverem que ir a Bragança, a Valpaços, a Chaves ou Vila Real para cumprirem formalidades processuais ou mendigarem a inclusão desta ou daquela notícia que lhes parece importante. Aí não olharão a apoios. O Notícias de Mirandela é dos mirandelenses e do Município e há uma cumplicidade ao longo dos anos. Muito mirandelense a primeira vez que pegou num jornal foi no Notícias de Mirandela. No final da década de cinquenta, do séc. passado, o número que saía na véspera da Festa da Senhora do Amparo (não há melhor Santa que a nossa) era quase um livrinho, tal era o número de folhas. O fundador, José Estêvão Rego e depois os filhos, até tinham margem para meter folhas de cores diferentes. Lembro-me quando o meu saudoso Pai levou o jornal para casa e a minha Mãe questionou o pequeno gasto, como se fosso um desperdício ou uma prosmeirice: - Para que é queres o jornal, Eugenho! O meu Pai foi peremptório: - Não vês que tem muitas folhas e com cores? São muitas notícias. É sempre bem sabermos o que sucede. Eu, pasmado, peguei no jornal e comecei a folhear… Era um jornal mágico. A minha Bila tinha um jornal com letras e figuras. Tinha quadras e poemas, alguns com cores amarelas, outras folhas de outras cores. Certo é que a partir daquele momento nunca mais esqueci o Notícias de Mirandela passou a ser a minha maior referência cultural. Logo na página da frente tinha a Ponte Romana e o rio Tua por baixo dela. O meu mundo só se estendia aos rios Rabaçal e Tuela? Não era bem assim… Só havia o Rio dos Lavadouros (Rabaçal) que era onde as mulheres da minha terra faziam as barrelas à roupa e lavavam as negras penas e as mágoas e o Rio da Barca (Tuela) que era o ponto de passagem para Mirandela pela mão do Zé Bnadito, o barqueiro em permanência, dia e noite. Depois, havia o Rio da Bila (Tua). Os nomes oficiais só quando, na escola primária, íbamos ao mapa para os cantarmos e apontarmos. Voltando ao nosso jornal… Dou comigo a pensar que fazer e escrever jornais era só para gente importante. Ler ou pegar num jornal era um grande feito. De quando em vez lá havia um ou outro que decidia botar a realização duma festa ou nascimento de um filho ou o aniversário. Alto! Ainda havia uns atrevidos: cavalheiro sério, de boas posses e bem falado, deseja conhecer menina séria. Voltando ao jornal, parece-me que esta nova equipa camarária já é mais das novas tecnologias, mas a imprensa escrita também deve ter o seu lugar, por sinal mais seguro do que o mundo virtual. Basta ver a pouca vergonha que anda por aí, no jogo do gato e do rato, e os juízes a entreterem-se com um mundo duvidoso, em que qualquer habilidoso pode colocar a justiça a andar como as marmotas de rabo na boca, devido a e-mails e telefonemas ou mensagens. Assim, com mais de trinta anos de pés e mãos com o nosso jornal quis deixar aqui um pequena reflexão, para todos olharmos para este bem cultural, formativo e informativo. Os dourados cinquenta anos do Notícias de Mirandela mexeram, então, na consciência dos políticos locais e a Assembleia Municipal votou a atribuição da medalha da cidade ao jornal vice-decano de Trás-os-Montes pelo serviço prestado a Mirandela, aos mirandelenses e à região. Todos lhe devemos muitos. Trabalhou-se muito pela terra e fez-se História local e nacional. A História da Imprensa em Portugal, tem que contar com o Notícias de Mirandela. Alguns de nós, não daríamos passos tão largos na escrita se não fosse o nosso jornal a dar-nos confiança para irmos mais além. Chegados aqui, pergunto se por mais uma década ao serviço de Mirandela e dos mirandelenses o Notícias de Mirandela não deve hoje ser credor de um voto de felicitações e louvor? Diz o sábio rifão do nosso laborioso povo que «quem promete, em dívidas se mete». Então, se a mesquinhez de algum ou alguns ronhosos de outrora não deixaram que se cumprisse o que a soberana Assembleia Municipal atribuiu: a medalha da cidade ao Notícias de Mirandela. Não lembra mesmo ao Diabo o Município não cumprir a palavra dada. Parabéns ao jornal e aos directores!

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