JORGE LAGE |
Com um grave problema da saúde do
subdirector do jornal, Arnaldo Pinto, a quem desejamos uma total recuperação, o
Notícias de Mirandela passou por dificuldades acrescidas de logística. O
Director, Jerónimo Pinto, passou a não ter tempo para tanto trabalho da
tipografia e do jornal. Uma medida acertada foi passar o jornal de quinzenário
para mensal. Contudo, o trabalho pouco diminui porque é preciso, em simultâneo,
permanência e deslocações ao exterior, atender o público e fazer trabalhos
tipográficos ou de logística. O Município e os mirandelenses só vão sentir a
sua falta e a sua importância quando não o tiverem. Quando tiverem que ir a
Bragança, a Valpaços, a Chaves ou Vila Real para cumprirem formalidades
processuais ou mendigarem a inclusão desta ou daquela notícia que lhes parece
importante. Aí não olharão a apoios. O Notícias de Mirandela é dos
mirandelenses e do Município e há uma cumplicidade ao longo dos anos. Muito
mirandelense a primeira vez que pegou num jornal foi no Notícias de Mirandela.
No final da década de cinquenta, do séc. passado, o número que saía na véspera
da Festa da Senhora do Amparo (não há melhor Santa que a nossa) era quase um
livrinho, tal era o número de folhas. O fundador, José Estêvão Rego e depois os
filhos, até tinham margem para meter folhas de cores diferentes. Lembro-me
quando o meu saudoso Pai levou o jornal para casa e a minha Mãe questionou o
pequeno gasto, como se fosso um desperdício ou uma prosmeirice: - Para que é
queres o jornal, Eugenho! O meu Pai foi peremptório: - Não vês que tem muitas
folhas e com cores? São muitas notícias. É sempre bem sabermos o que sucede.
Eu, pasmado, peguei no jornal e comecei a folhear… Era um jornal mágico. A
minha Bila tinha um jornal com letras e figuras. Tinha quadras e poemas, alguns
com cores amarelas, outras folhas de outras cores. Certo é que a partir daquele
momento nunca mais esqueci o Notícias de Mirandela passou a ser a minha maior
referência cultural. Logo na página da frente tinha a Ponte Romana e o rio Tua
por baixo dela. O meu mundo só se estendia aos rios Rabaçal e Tuela? Não era
bem assim… Só havia o Rio dos Lavadouros (Rabaçal) que era onde as mulheres da
minha terra faziam as barrelas à roupa e lavavam as negras penas e as mágoas e
o Rio da Barca (Tuela) que era o ponto de passagem para Mirandela pela mão do
Zé Bnadito, o barqueiro em permanência, dia e noite. Depois, havia o Rio da
Bila (Tua). Os nomes oficiais só quando, na escola primária, íbamos ao mapa
para os cantarmos e apontarmos. Voltando ao nosso jornal… Dou comigo a pensar
que fazer e escrever jornais era só para gente importante. Ler ou pegar num
jornal era um grande feito. De quando em vez lá havia um ou outro que decidia
botar a realização duma festa ou nascimento de um filho ou o aniversário. Alto!
Ainda havia uns atrevidos: cavalheiro sério, de boas posses e bem falado,
deseja conhecer menina séria. Voltando ao jornal, parece-me que esta nova
equipa camarária já é mais das novas tecnologias, mas a imprensa escrita também
deve ter o seu lugar, por sinal mais seguro do que o mundo virtual. Basta ver a
pouca vergonha que anda por aí, no jogo do gato e do rato, e os juízes a
entreterem-se com um mundo duvidoso, em que qualquer habilidoso pode colocar a
justiça a andar como as marmotas de rabo na boca, devido a e-mails e
telefonemas ou mensagens. Assim, com mais de trinta anos de pés e mãos com o
nosso jornal quis deixar aqui um pequena reflexão, para todos olharmos para
este bem cultural, formativo e informativo. Os dourados cinquenta anos do
Notícias de Mirandela mexeram, então, na consciência dos políticos locais e a
Assembleia Municipal votou a atribuição da medalha da cidade ao jornal
vice-decano de Trás-os-Montes pelo serviço prestado a Mirandela, aos
mirandelenses e à região. Todos lhe devemos muitos. Trabalhou-se muito pela
terra e fez-se História local e nacional. A História da Imprensa em Portugal,
tem que contar com o Notícias de Mirandela. Alguns de nós, não daríamos passos
tão largos na escrita se não fosse o nosso jornal a dar-nos confiança para
irmos mais além. Chegados aqui, pergunto se por mais uma década ao serviço de
Mirandela e dos mirandelenses o Notícias de Mirandela não deve hoje ser credor
de um voto de felicitações e louvor? Diz o sábio rifão do nosso laborioso povo
que «quem promete, em dívidas se mete». Então, se a mesquinhez de algum ou
alguns ronhosos de outrora não deixaram que se cumprisse o que a soberana
Assembleia Municipal atribuiu: a medalha da cidade ao Notícias de Mirandela.
Não lembra mesmo ao Diabo o Município não cumprir a palavra dada. Parabéns ao
jornal e aos directores!
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