Vamos
lá. Ao contrário dos que culpam a globalização pelas desgraças da Terra, não
gosto do proteccionismo económico. Ao contrário dos que privilegiam produtos
indígenas, não gosto de nacionalistas. Ao contrário dos que berram contra a
economia "de casino", não gosto da economia de substituição e menos
da de subsistência. Ao contrário dos que insistem nas virtudes do
"investimento" público, não gosto de trafulhas. Ao contrário dos que
veneram líderes latinos e folclóricos, não gosto de populistas. Ao contrário
dos que se entusiasmaram com a Primavera Árabe, não gosto de revoluções, pelas
armas ou pelo Twitter. Ao contrário dos que confundem Ocidente e imperialismo,
não gosto da ideia de um mundo sem a NATO. Ao contrário dos que aplaudem o
boicote a israelitas, não gosto de segregações motivadas por crença, etnia ou
nacionalidade. Ao contrário dos que elegeram em duas ocasiões o engº Sócrates,
não gosto de pantomineiros. Ao contrário dos que se sentem muito confortáveis
com o dr. Costa, não gosto de políticos com vocabulário e responsabilidade
comparáveis aos de uma criança de 7 anos.
Esta
declaração de desinteresses visa separar águas e outros líquidos. Uma pessoa
tem de ter cautela para não se misturar com a gente que, concordando em quase
tudo com o sr. Trump, inventa ou distorce factos para "provar" que
discorda imenso. Nos últimos dias, talvez para não maçar o povo com a subida
fulgurante das taxas de juro, os nossos media, embora não só os nossos,
decidiram recorrer a extraordinários argumentos a fim de demonstrar a vasta
perversidade do novo Presidente americano.
Um
dos "argumentos" prende-se com o muro: o sr. Trump promete erguer um
muro ao longo da fronteira dos EUA com o México. É desagradável? Sem dúvida.
Principalmente é mentira, na medida em que o muro, ou cerca de um terço dele,
já existe, e começou a ser construído nos tolerantes tempos de Bill Clinton.
Além disso, as críticas a muros que impedem entradas são suspeitas quando vêm
de apreciadores de muros que impedem saídas.
Um
segundo "argumento" é o veto da admissão de refugiados. Monstruoso?
Ou nem tanto, se levarmos em conta que após 90 dias o limite anual chegará aos
50 mil, aproximadamente a média da generosa administração Obama. A
despropósito: antes de 2016, Obama na prática recusou refugiados sírios, cujo
sofrimento hoje enche o noticiário para exibir a desumanidade do sr. Trump. De
resto, a empatia de inúmeras almas pelos deserdados da sorte termina no momento
em que fecham à chave a porta de casa.
Um
terceiro "argumento" refastela-se nas manchetes do tipo: "Todos
contra Trump." Todos excepto a maioria local que, de acordo com as
sondagens, apoia cada decisão do sujeito e, se calhar, até votou nele. É esquisito,
mas às vezes a ralé não obedece à sra. Meryl Streep.
E
por aí fora, em patranhas sucessivas e – esperam os iluminados – suficientes
para convencer as massas a detestar o sr. Trump. Tipicamente, os iluminados não
compreendem que foi essa arrogância que consagrou o homem. E fingem não
compreender que, removidas as patranhas e dois ou três pormenores, o homem
representa aquilo de que eles gostam. E de que eu, repito, não gosto.
Acordos
de cavalheiros
Dois
anos após as primeiras notícias (do Correio da Manhã) sobre o assunto, a
Entidade Reguladora para a Comunicação Social decidiu não investigar a
influência do eng.º Sócrates na administração e nas direcções de certo grupo de
media. Apesar da prolongada reflexão, há muito que o presidente da ERC possuía
um palpite sobre as conclusões a tirar: "Um cavalheiro não comenta
escutas", atirou em Março passado. Ficou por apurar com exactidão para que
é que um cavalheiro serve. Mas, se não formos picuinhas, já temos uma ideia.
O
MAU
Se
calhar
Quando,
há tempos, os juros pela emissão de dívida a 10 anos passaram os 4%, o PR
garantiu não haver razão para alarme. Ficámos descansados: estava subentendido
que o PR incrementaria a ração diária de selfies até os juros cederem à força
dos "afectos". Agora que os juros voltam aos 4,2%, começamos a
alarmar- -nos. Se calhar – imagine-se –, isto não vai lá só com beijinhos e
ternuras. Se calhar – nem é bom pensar –, a realidade é menos influenciável do
que se pensava. Se calhar – querem lá ver? –, o PR percebe pouco disto.
Plano
Nacional de Loucura
Descobriu-se
que um livro recomendado pelo ministério às crianças do 8.º ano inclui doses
generosas de "rachas", "cus", "pilas" e
"putas". Seguiu-se a típica indignação. Ninguém se indigna pela obra
em causa ser uma provável porcaria. Ou pela imensa lista de recomendações
conter 19 (!) produtos de José Fanha, 10 de Manuel Alegre, 9 da antiga
comissária do PNL e 5 de Isabel Allende. Ou pelo facto de uma aberração como o
PNL sequer existir. Para cúmulo, a inclusão do livro citado deveu-se, cito, a
"lapso informático". O resto é de propósito.
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