David
Boder, um psicólogo americano de origem russa e judeu, captou no ano de 1946,
em antigas bobinas de arame, melodias que os prisioneiros judeus cantavam nos
campos de concentração, em iídiche e em alemão.
Com
o fim da Guerra, Boder decidiu gravar o sofrimento das vítimas, dando voz aos
sobreviventes, para tentar perceber o impacto psicológico daquelas atrocidades
sofridas.
Percorreu
vários campos de refugiados (França, Itália, Suíça e Alemanha), onde
entrevistou 130 sobreviventes judeus. Gravou um total de 200 daquelas bobinas
de arame, nas quais os entrevistados contavam as suas histórias pessoais e as
suas experiências nos campos de concentração. Entre essas duas centenas de
bobinas, uma continha as canções dos prisioneiros, que Boder gravou nesse verão
no campo de Hénonville, em França.
Mais
tarde, o psicólogo que faleceu em 1961, referiu em livro a bobina com as
canções, mas pensava-se que estava perdida.
Andaram
perdidas durante 70 anos, mas a sua descoberta, por mera casualidade, numa
velha bobina mal catalogada, e um rasgo de inventividade tecnológica de uma
equipa da Universidade de Akron, nos Estados Unidos, resgataram do passado um
conjunto de canções do Holocausto: as Canções de
Hénonville.
Também
nos campos estalinistas a música tinha sentido simbólico. Em kolimá, quando os
pelotões fuzilavam sem descanso Varlam
Chalamov diz-nos: “Durante meses, de dia como de noite, por ocasião das
chamadas da manhã e da noite, foram lidas inúmeras condenações à morte. Com um
frio de cinquenta graus negativos, os prisioneiros músicos – de delito comum –
tocavam uma marcha antes e depois da leitura de cada ordem. As tochas fumegantes
não conseguiam atravessar as trevas e concentravam centenas de olhares nas
folhas de papel fino cobertas de gelo em que estavam inscritas as horríveis
mensagens”.
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