ALBERTO GONÇALVES -
Diário de Noticias
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Convidaram-me
para discutir no Expresso da Meia-Noite as dificuldades de Pedro Passos Coelho
em aguentar-se na liderança do PSD. Não fui, mas já que há interessados na
minha opinião, ei-la.
Critiquei
muito o dr. Passos Coelho quando, aí por 2008, ele era a oposição dentro do
partido, e quase tanto quando, pouco depois, ele se estreou na oposição ao
governo. À época, se a memória não me falha, achei-o demasiado tolerante
perante os perigosos desvarios do eng. Sócrates. Cheguei a achá--lo ao serviço
do eng. Sócrates, um exagero justificado de início pelos elogios do dr. Soares
(por exemplo) e pelo empenho com que combatia a dra. Ferreira Leite, além das
duvidosas companhias que o rodeavam.
Ao
contrário do que sucedeu com parte destas, em debandada mal perceberam que não
influenciariam o poder, adquiri uma espécie de simpatia pelo dr. Passos Coelho
no tempo em que foi primeiro-ministro. Embora a aplicação parcial das medidas
da troika - as quais nos livraram provisoriamente da bancarrota - se ficasse
pela superfície e não beliscasse os hábitos da casa e do Estado, pareceu-me que
a oportunidade desperdiçada se deveu menos ao dr. Passos Coelho do que ao
entulho partidário e ao "sistema" que o tolhiam. Hoje, altura em que,
sob a aprovação do "sistema", o entulho volta a agitar-se para trocar
de chefe, tenho dele a melhor das impressões que se pode ter de um político:
por comparação, não é mau de todo.
Se
fosse, não causaria o vasto incómodo que por aí se observa. É impressionante a
quantidade de vozes que se levantam, ou conspiram baixinho, para exigir o
sumiço do dr. Passos Coelho. Dos "barões", "notáveis",
"ilustres" e anónimos do PSD, ansiosos por voltar a partilhar o bolo,
a emissários assumidos ou dissimulados da esquerda, meio mundo roga ao dr.
Passos Coelho que saia do caminho, o caminho dourado da União Nacional. Existe
a convicção generalizada de que o homem é um desmancha-prazeres e o último
obstáculo a celebrarmos em consenso o país da abundância e dos
"afectos". O problema é o país da abundância e dos
"afectos" ser uma mentira, uma estratégia que conta com a anestesia
geral para despedaçar a sofrível herança anterior a benefício das clientelas,
do sucesso eleitoral e, pior, de alucinações ideológicas.
Não
sei se, por este andar, o dr. Passos Coelho vai a algum lado. Sei que a sua
teimosia em denunciar, nem sempre com assiduidade ou eficácia, a desgraça
iminente é uma alusão constante de que nós podíamos ter ido. E de que, se não
fomos, a culpa é nossa. Aparentemente sozinho, o dr. Passos Coelho recorda-nos
que não há soberania, progresso e outras coisas assim lindas sem
responsabilidade, realidade e a dose necessária de sacrifício. Donde o ódio que
suscita.
Domingo,
11 de Dezembro
Carros
de assalto
Em
2013, no auge da Era das Trevas, vulgo "governo de direita", o dr.
Costa levantou-se metaforicamente na Quadratura do Círculo para declarar que
"o desprezo pelos idosos" se estava a tornar
"insuportável". Felizmente, hoje Portugal voltou a dispor de um poder
político que presta atenção aos mais velhos. Entre outras dádivas, vai obrigar
os condutores acima dos 65 anos a pagar aulas de "formação" se quiserem
renovar a carta de condução. O dr. Costa - ou alguém por ele - lembrou-se dos
idosos e concluiu que são taralhoucos.
A
verdade é que as estatísticas não mentem: dos 593 mortos nas estradas nacionais
em 2015, 29% pertenciam ao segmento etário em causa (o qual representa apenas
uns 20% da população). Mas as estatísticas também não ajudam: quase metade dos
"seniores" (os eufemismos são às resmas) falecidos foram atropelados,
o que não só permite suspeitar que, pelo menos ao volante, os elementos da
"terceira idade" (eu não disse?) possuem uma destreza idêntica às
idades restantes como suscita dúvidas acerca da utilidade da
"formação" citada. Se calhar, os cidadãos avançados em anos (isto já
é excessivo) carecem é de aulas para andar a pé. E se o governo perceber que
lhes pode arrancar uns trocos à conta disso, de certeza que as terão.
Os
anciãos (chega, não chega?) devem estar cheios de saudade do tempo em que
ninguém lhes ligava nenhuma. Mas aquilo é gente saudosista por natureza.
Sexta-feira,
16 de Dezembro
Paraísos
policiais
Nem
menciono os cidadãos de origem portuguesa hospedados em cadeias venezuelanas
por razões políticas. Mas sabem dos três enviados da SIC e do Expresso presos
em Cuba sem razão aparente? Provavelmente, não, já que por cá o assunto mereceu
atenção idêntica à dedicada ao campeonato paquistanês de críquete. De qualquer
modo, o PSD, com a escassa moral que lhe resta após tolerar o lamento
parlamentar por Fidel, apresentou um voto de protesto contra o sucedido. O voto
mereceu o apoio do CDS, a oposição do PCP e a abstenção de PS e BE. É como
defender a "causa" homossexual enquanto se venera a Palestina: os
famosos "direitos humanos" terminam logo que começa a afinidade
ideológica. Para o que importa, os eleitores radicalmente distraídos ficam
então informados de que a maioria dos seus representantes na AR acha muitíssimo
bem, ou pelo menos não se importa, que jornalistas sejam detidos à toa. Também
convinha que alguém informasse os jornalistas.
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