BARROSO da FONTE |
Na
última edição deste Jornal, vinda a público no dia 30 de Maio, em toda a sua
pagina 11, noticiei um «caso grave» que se vive, a céu aberto, naquele que foi
o centro vital, dos dois aldeamentos, mandados construir pela Junta de
Colonização Interna, nas décadas de 1940/1950. Nasci nesse tempo, minha irmã
mais velha teve direito a uma casa dessas e aí nasceram os seus sete filhos que
emigraram. Além de casas tiveram direito
a terrenos que mais tarde deixaram, por terem emigrado. Sempre entendi esse
projeto como obra meritória. E, ainda hoje, quando ali passo, tenho saudades de
quando ali ajudava meus familiares, nas fainas agrícolas.
Conheci o saudoso Regente Agrícola Pisco,
Homem que pautou a sua vida pela lisura, pela competência e pela honradez,
virtudes que se perderam e que não posso deixar de invocar. Vivia ele no
«chamado Centro» das duas aldeias: «de Barroso» e de «Criande». Era uma espécie
de responsável dos aldeamentos existentes na região do alto Barroso (Montalegre
e Boticas). O de Cri- ande situa-se aos pés de Morgade e, quem não souber a
história, pensa que se trata da mesma povoação. Mas não: são duas, ainda que
fundidas. Ali passava a antiga Estrada Nacional: Braga-Chaves. Na década de
1960 mudou mais para norte: passando por: Friães,Viade, Parafita, Penedones, S.
Vicente. Nesse espaço foram plantados muitos pinheiros que, por bem cuidados,
bem distribuídos e com a água da Barragem à sua volta, possibilitaram, ali, uma
espécie de ilha que no verão servia de praia aos passantes e pescadores.
Esse núcleo cresceu, urbanizou-se e tornou-se
uma zona de lazer. Teve uma pousada, estação de serviço para reparação de
alfaias agrícolas e até teve direito a uma rotunda, que terá servido de modelo
para a chusma delas que povoam hoje as cidades e vilas de norte a sul do país.
Com
a revolução dos cravos e com a perseguição a quem não barricou as ruas,
preferindo manter-se, calmo e sereno, cumprindo, honestamente, as suas
competências, o referido técnico e família mudaram-se para a cidade e, por lá
reconstruiram as suas vidas. A ingratidão fez vítimas inocentes que prepararam
o céu para quem, em condições normais, merecia o purgatório.
Com o simbolismo desta metáfora, em 27 de
Maio último, chegaram ao meu conhecimento imagens comprovativas de que esse
apetecível espaço, já depois de ter sido inaugurado pelo então e atual ministro
Capoulas Santos, em 1998, o Centro de Formação Profissional Agrário de Barroso,
virou antro de todo o tipo de monstruosidades. Espaços que, de confortáveis
salas da aulas, ricamente equipadas com monitores audiovisuais, quadros,
computadores, pastas, ficheiros, material vídeo, viraram o lamaçal que ali está.
Certamente, quem me fez chegar essas provas, sabendo que sou jornalista, dizia-me
«O sr. costuma escrever que as pessoas da sua terra são sérias e civilizadas.
Eu sou pescador e fui chamado para ver aquela lixeira. Faça também uma visita a
esse local. E depois escreva acerca daquilo que viu». No fim de semana seguinte
cumpri o desafio. E escrevi o que veio a público, informando, fosse quem fosse,
que me desse uma explicação para que eu
pudesse esclarecer os leitores, acerca daquela montureira que envergonha não só
as autoridades implicadas, como os Barrosões e cidadãos em geral.
Inseri, inclusive nessa página de jornal,
cópia de 2 tipos de envelopes, perfeitamente utilizáveis, com a agravante de
que foram feitos vários milhares deles com a gravação de correio azul pela
litografia Maia. Andam por lá, aos pontapés de todos, sabendo-se que foram
pagos pelo erário público e cada um vale 1,10 euros. Essa estrumeira sem
portas, de céu aberto, com tudo esventrado, sujo, inútil, com carcaças de
plasmas, de estantes, de televisores, de cadernos escolares, de pastas com os
cadastros de alunos, de contas, de diplomas, de camisas de Vénus, de cd's,mais
lembra um terramoto do que um sítio aprazível, centro de formação, escola ou
mero dormitório. Ninguém pode culpar ninguém, de levar dali, seja o que for,
porque está aos deus-dará, entre pinheiros e silvados, um mundo que permitiu a
muita gente, para o bem e para o mal, esbanjar o património nacional No mês que
decorreu fui diversas vezes a Montalegre. Cumprimentei muita gente. Penso que
alguma dessa gente é co-responsável. Ninguém, absolutamente ninguém, me
questionou, me fez qualquer observação, nem chegou à redação do Jornal qualquer reparo. Esperaria que chegasse
qualquer explicação justificativa. O espaço desta crónica serviria para dar
possível justificação que assumisse o descuido, ou até da própria Câmara, a
informar que iria proceder à limpeza desse espaço.
Pelos
vistos é o jornalista que não merece crédito e que anda neste mundo ou está
ligado a esta terra para levantar problemas a quem não tem culpa nenhuma.
Pela minha parte cumpri apenas o dever de
informar, não acusando, seja quem for. É uma missão que cumpro desde há 62
anos. Tenho a minha carteira profissional em dia, nada consta no meu cadastro
acerca de direitos caducados. E por isso podem todos os pescadores da Barragem
de Pisões, visitar esse e todos os lugares com ou sem história. A não ser os
pinheiros que são do domínio público, tudo aquilo que ali existe, em bom ou mau
estado, timbrado ou manuscrito, entrou no domínio público e nada ali existe que
tenha portas convencionais, que seja
proibido para levar ou consultar.
Dizem-me
que sucede o mesmo no Posto Experimental da Veiga, entre a Vila, Meixedo e
Codeçoso.
Um
concelho a saque, um património público que tão útil foi no tempo em que me
criei e que, entre no domínio público como se vivessemos no reino das bananas.
Barroso da Fonte
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