Jorge Lage
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4- Morte na nabarega – Conheci o Luís (do
Carolino) Alves (António, por matreirice do prior que lhe fez o registo de
assento paroquial) há mais de quarenta anos, quando casei na sua aldeia,
Lebução – Valpaços, e passei a ser vizinho. Nesse tempo, ainda engrossavam o
lar um tio e uma tia e os irmãos, Aninhas e Acácio. Com o andar dos anos
partiram os tios e, mais recentemente, os irmãos. Nos últimos anos, era uma
sobrinha que mais o assistia e visitava. A nossa amizade e respeito mútuo
construiu-se com boa vizinhança, ainda ele tinha um Volkswagen dos anos
sessenta e com o convívio no Café do Tótó Gordo (leia-se António Ventuzelos) em
que os respeitáveis anciãos tinham assento e voz. Era um ás na sueca, no
estenderete e na escopa (jogo adoptado da Galiza). Mas, um dia triste o Café do
Tótó não abriu mais a porta. As Áfricas não lhe devem ter dado tempo para fazer
casamento. Era forte e muito calmo, não dispensando o cigarro. Os seus
conselhos ou opiniões eram escutados e a sua voz calma. Nas minhas deslocações
a Lebução encontrava-o nas escadas ou no alpendre da sua casa para uma palavra
e depois do jantar ou da ceia no Café do Mário. Muitas vezes o interpelava para
ouvir um conselho ou uma opinião. Quando a crise dos PEC e da Troika apertou
mais, perguntei-lhe: - ó Sr. Luís, Portugal vai vencer a crise? E a resposta
não se fez rogada: - bô era! Não bejo jeitos, porque as silvas continuam a crescer debaixo dos castanheiros! E guardei bem a sua máxima de economia. De
facto os partidos (e os políticos) em vez de se unirem cada qual escorna para
seu lado o feno da ilusão e da mentira. Voltei a receber dele uma grande e
sábia lição para o meu livro «Memórias da Maria Castanha» que registei em corpo
de escrita. Nos últimos anos o amigo Luís mostrava-se mais distante, mas sempre
pronto para um cumprimento que eu abraçava como algo de raro e precioso. Em
princípios de Setembro encontro-o sentado nas escadas e cumprimento-o com um
abraço mais demorado e disse-lhe quanto o estimava e que me fazia falta vê-lo
ali. Ao largá-lo vi que os seus olhos estavam molhados. Nunca o tinha visto
desesperado, quanto mais com os olhos rasos de água!!!... Pareceu-me que foi
uma despedida de amigos e tive que lhe abrir o meu coração. Ontem (14 de
Setembro) telefonei ao Fernando do Tótó, para saber da saúde do pai, e a
notícia não se fez esperar: - sabia que morreu o Luís do Carolino faz hoje uma
semana? Uma bomba nos tímpanos e uma tristeza imensa na minha alma. Na aldeia
vão morrendo os que restam e já ninguém informa ninguém, apenas o sino dá o
toque de finados. O Luís, com noventa anos, andava, nas Roseiras, a semear à
manta o nabal e caiu de bruços sobre a terra húmida e mimosa da futura
nabarega. Acorreu o Manuel do Tótó e outros, mas apenas havia a registar o
óbito. Até sempre amigo Luís e uma saudação sentida à família!
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