Por José
Estevão
Este Juiz vai ser o principal alvo da
defesa de Sócrates. Não podendo justificar as fraudes e corrupções, os “amigos”
de Sócrates irão tentar destruir o sistema judicial e os Juízes, e esperar que
um futuro governo socialista volte a colocar na justiça, paus-mandados como
Monteiro, Cândida e Noronha.
Um dos mais aplicados nessa “obra” é
Proença de Carvalho.
Se isso acontecer, Portugal será
catalogado como um país de quarto mundo, de corruptos e sem dignidade.
Esperemos que não.
Carlos Alexandre: o juiz que enfrenta o
sistema...
Temido por muitos, admirado por
tantos, o juiz do ‘ticão’, que tem os principais processos de corrupção não
cede a pressões.
Não gosta das "forças
ocultas" e vê o combate ao crime como uma missão. Recebe ameaças mas
insiste nas buscas a poderosos.
O seu refúgio é Mação, a terra que o
viu nascer há 52 anos. Há quem pense que o juiz "não tem medo", há
quem diga que o controla.
Quando os noticiários começaram a
avançar que Ricardo Salgado, ex-presidente do BES, estava a ser detido, as
conversas nos cafés e nas ruas de Mação voltaram a focar-se em Carlos
Alexandre. O filho da terra que tinha partido há 35 anos para Lisboa em busca
de um papel central na luta contra o crime ia interrogar o todo-poderoso da
banca portuguesa e os seus conterrâneos voltaram a gabar-lhe a coragem.
Vasco Estrela é há dez meses
presidente da Câmara de Mação, vila ribatejana que viu nascer a 24 de Março de
1962 Carlos Manuel Lopes Alexandre, filho mais novo de José Alexandre, carteiro
de profissão, e de Narcisa, reformada da indústria de lanifícios. O autarca não
pertence à geração do juiz que fez buscas a Isaltino Morais e que levou Armado
Vara a julgamento mas conhece-o bem. Até porque "toda a gente em Mação se
conhece", diz ao Diário Económico, e o juiz nunca deixou de visitar a sua
terra-natal aos fins de semana. É aí, aliás, que consegue descomprimir das
complexas investigações aos crimes de colarinho branco que acompanha e desligar-se
das pressões que, aqui e ali, vai sofrendo.
Para uns, é quase um
"justiceiro", um Baltazar Garzon português. É assim que é visto pela
maioria dos seus conterrâneos, por amigos e por aqueles que com ele trabalham.
Para outros, é um juiz com sede de protagonismo e intuitos persecutórios. Uma
crítica que usualmente é feita nos jornais mas sempre atribuída a fonte não
identificada.
Poucos arriscam dar a cara para criticar o
juiz que nos últimos anos tem abanado o poder e o sistema e as declarações em
‘on' que existem são normalmente de amigos e aliados, que lhe elogiam a
obstinação e reforçam essa imagem de justiceiro".
Tanto é amado, como odiado. Mas
todos lhe têm respeito, nem que seja por temerem os segredos que possa conhecer
depois de ouvir milhares e milhares de escutas que são feitas a
individualidades portuguesas.
Juiz titular do Tribunal Central de
Instrução Criminal, conhecido na gíria judiciária por ‘ticão', Carlos Alexandre
teve e tem em mãos há oito anos os processos mais complexos e mediáticos no
combate ao branqueamento de capitais, tráfico de influências, fuga ao fisco e
associação criminosa.
Quem já não ouviu falar do caso Portucale,
do BPN, da Operação Furacão, do Apito Dourado, do Face Oculta ou do Monte Branco?
Tudo nomes de mega-investigações da PJ e
do Ministério Público que passaram pela secretária do chamado ‘super-juiz'.
Todos processos que envolvem parte da elite política, empresarial e financeira
nacional.
Sobre a sua vida privada e métodos de
actuação pouco se sabe. Carlos Alexandre não se expõe. Estudou pela telescola,
cursou Direito na Faculdade de Lisboa e começou desde logo a lutar por um lugar
no ‘ticão', onde entrou como auxiliar em 2004. Dois anos depois era titular.
Percebe-se que é firme na forma como
actua. Diz quem o conhece que imprime um "cunho pessoal" ao que faz,
que gosta de "participar em tudo", que tem preferência por fazer
inquirições e despachos de pronúncia e faz questão de fazer buscas de surpresa,
pela manhã.
Foi o que fez a Isaltino Morais, que lhe
abriu a porta de casa ainda de roupão. Este "voluntarismo" é o que
mais irrita os suspeitos, os advogados
e até muitos colegas magistrados. Na anterior direcção do sindicato, muitos não
apreciavam os seus métodos.
Um juiz discreto que enfrenta as ameaças
Carlos Alexandre não dá entrevistas,
raramente fala à comunicação social e evita participar em seminários. Mantendo
esta linha não respondeu às questões do Diário Económico.
As poucas vezes que falou foi para se
insurgir contra o que pensava serem interferências no seu trabalho e para
deixar o aviso de que não cede a pressões. Foi o que aconteceu em Fevereiro de
2011, quando o Governo de Sócrates lhe baixou o ‘plafond' do telemóvel para 15
euros e o juiz retaliou, entregando o aparelho ao tribunal. Ou quando - estava
a pronúncia no Face Oculta prestes a sair - o PS veio dizer que ele não estava
a conseguir dar conta de todos os processos e era preciso indicar um segundo
juiz para o ‘ticão'. O magistrado não gostou, fez saber através de gente
próxima que as estatísticas eram falsas e insinuou, numa carta dirigida ao
Conselho Superior da Magistratura, que a intenção do governo podia "ter
outros fundamentos". Afastá-lo, leia-se.
Mais tarde diria à revista Ânimo
que, com ele, "a verdade fala sempre mais alto", como quem diz: não
vale a pena ameaçarem.
E as ameaças existiram, algumas
veladas.
Ainda hoje, Carlos Alexandre se
lembra do dia em que a sua casa em Linda-a-Velha , Oeiras, foi assaltada e
deixaram um revólver desactivado em cima da foto de um dos filhos (tem dois).
Ainda hoje se comenta em Mação o estranho atropelamento de que foi vítima a sua
mulher, Floribela, natural do Alandroal. São recentes as ameaças veladas que
recebeu de Angola - fotocópias de notícias publicadas no jornal do regime que
chegaram ao seu correio - por causa da investigação a Álvaro Sobrinho, ex-
presidente do BES Angola.
Os amigos perguntam-lhe como
consegue. Responde que não pode ter medo, que a lei e a justiça estão acima.
"Não sei se tem receio ou não mas o que o move é o cumprimento da lei e se
os dados entregues justificam uma busca ele avança", diz ao Diário
Económico um procurador que trabalhou com o ‘super-juiz'. Um magistrado
judicial que o conhece dos tempos de estágio, em Cascais, acredita mesmo que
Carlos Alexandre "não tem medo" e actua como actua, afrontando
poderosos, porque "tem um sentido de justiça arreigado" e uma aversão
profunda "às forças ocultas".
Pronuncia mesmo perante
"dúvida razoável"
Não gosta do sistema instalado,
assumiu a luta contra a corrupção como missão e vive a insatisfação de saber
que há muito crime que não é investigado, diz quem com ele priva. O magistrado
que defende o fim dos paraísos fiscais tem tendência para levar arguidos a
julgamento mesmo que a investigação mostre apenas "dúvida razoável".
Mas a lei permite que o faça. Acaba por ver arguidos serem absolvidos em
julgamento e essa é uma crítica que os inimigos lhe fazem. O juiz responde com
rigor no trabalho. Sabe que é escrutinado à lupa e não deixa pontas soltas nos
despachos, nem erros processuais. Não tem queixas, nem processos disciplinares
no CSM, apenas uma lista numerosa de pedidos de escusa de juiz. Os advogados
tentam afastá-lo. Temem-no.
Para reforçar a sua confiança
pediu uma inspecção. Teve ‘Muito Bom'.
É nesta tensão, neste limbo, que
vive o ‘super-juiz'. Um fio da navalha que não o travou na hora de pronunciar
ex-ministros do PSD, de investigar quadros do PS e da vida empresarial no Face
Oculta e de aparecer de surpresa no BPN com Rosário Teixeira, o procurador com
quem faz equipa em muitas operações. Sabe que tem muitos inimigos. Em 2006,
quando comprou casa em Linda-a-Velha e quis fazer remodelações, a Câmara de
Oeiras, então liderada por Isaltino, embargou a obra e encharcou o juiz - já a
mexer na investigação ao autarca por fuga ao fisco - de burocracia. No fim,
conseguiu resolver a situação mas não se livrou de multas.
É entre amigos de longa data que o
‘super-juiz' tenta fugir à pressão diária. Muitos destes amigos nasceram em
Mação. E voltamos à terra. Não se pode falar de Carlos Alexandre sem falar de
Mação. É aqui que despe a capa do ‘super-juiz' e tenta ser um normal cidadão.
Se é que isso é possível.
Sim ou não, Carlos Alexandre tenta.
Na terra, dispensa a segurança
pessoal que se viu obrigado a ter quando começou a receber ameaças. Passeia
pelas ruas e participa em actividades. Gosta de ler mas os processos complexos
tiram-lhe tempo, gosta de estar em família, aprecia tradições e um bom convívio
com amigos. Mas de trabalho só fala mesmo (e pouco) com os amigos de profunda
confiança. "Em Mação, veste outra pele, até costuma assumir o sotaque
maçanico", conta o deputado Duarte Marques, seu conterrâneo. Nas festas da
Páscoa, faz questão de carregar o andor, como católico convicto que é, relata o
presidente da Câmara, e só assuntos de trabalho o fazem faltar ao jantar dos
ex-alunos do colégio, o que aconteceu este ano.
Mação poderá não receber tão
depressa a visita do juiz. As investigações do Monte Branco e ao BES estão no
auge, operações que atingem o todo-poderoso que fez arguido a semana passada. E
que prometem fazer tremer, de novo, o poder. E o sistema.
Sem comentários:
Enviar um comentário