Por: Barroso da
Fonte
O director do Notícias de Vila
Real, no seu periscópio semanal, de 1 de Outubro, sob o título Bardam...! abordou um problema corrosivo,
asqueroso e enfermiço. Foi implementado pelo processo democrático, resistiu a todas
as temperaturas ideológicas, entrou no domínio da prescrição e está aí,
espalhado por todo o país, como o «toyta que veio para ficar». Quando ganhou
foros de cidadania nacional, foi criada uma instituição para acabar com essas
excrescências democráticas. Chamou-se-lhe «alto comissariado contra a
corrupção». Foi seu único titular, um distinto coronel do MFA que por ser sério
e competente, não resistiu por muito tempo. Tomou posse em 26 de Outubro de
1988 e cessou funções em 17 de Maio de 1993, por extinção do organismo. Os usos
e abusos foram tais e tantos que, tal
como a mentira que, de muitas vezes repetida, entra no léxico como verdade
absoluta, assim a corrosão, o asco e o nojo que tresandam sem que os serviços
sanitários o extingam.
Aquilo que o ilustre jurista Caseiro Marques escreveu nesse periscópio
subscrevo-o eu, integralmente. Os chamados assessores políticos são como o
ébola, paludismo ou febre de Dengue: entram-no corpo como doença sorrateira.
Acordamos e já temos de atalhar com aspirina, sais de frutos ou xás de marmeleiro.
Tive um percurso de vida bastante
diversificado. E também por isso, me baseei, ao longo dos meus 60 anos de
jornalismo, por experiência própria. Em 1984 confrontei-me com um caso da mais
perfeita corrupção, quando exercia as funções de director da comunicação social
na zona norte. O meu chefe hierárquico viera de Lisboa ao Porto, em funções
partidárias e outras que não refiro por serem do foro privado. Interrompi as
férias ao único motorista para que fosse à Estação da Campanhã buscar esse meu
superior hierárquico e que ficasse às suas ordens, até segunda-feira. Na
quarta-feira seguinte recebi, na Delegação, uma factura de 108 mil escudos para
liquidar, sabendo esse dirigente nacional que eu não tinha autonomia jurídica
para pagar, fosse o que fosse. Afinal não
fora uma só pessoa, mas duas, a gerar aquele encargo em duas noites, no melhor
hotel do Porto. Remeti para esses dois responsáveis a referida factura. Uma
semana depois chegava-me um ofício a dar por finda a minha comissão de serviço
de três anos. Os jornais da época deram notícia detalhada. Mesmo assim
participei ao Alto Comissário contra a Corrupção que me consolou: «Os
directores gerais estão na dependência de um órgão de soberania» e a nossa
competência não pode interferir...»
Regressado a Guimarães fui convidado a
concorrer à Câmara, numa lista partidária. Pela primeira e única vez, o partido
pelo qual eu concorrera ganhou, sozinho, as eleições e pela margem de 118
votos. Num concelho com 125 mil eleitores, com direito a 11 vereadores,
percebe-se que o acto fora muito disputado. Nessa altura nenhum dos quatro
membros da lista vencedora recrutou no
exterior qualquer assessor, chefe de gabinete ou mero estafeta, fosse para o
que fosse. Como membro do executivo a tempo inteiro, tive, por delegação, todas
as competências inerentes: à cultura,
desporto, turismo, tempos livres, serviços administrativos, imprensa e
formação. A autarquia tinha um orçamento anual de catorze milhões de contos.
Uma das três assinaturas obrigatórias era a minha. Pois não tive no meu
gabinete, ou fora dele, entre 1 de Fevereiro de 1986 e 31 de Janeiro de 1990
qualquer elemento estranho ao serviço, nem qualquer viatura distribuída, com ou
sem motorista. Apenas foi destacada pela chefe de secretaria, uma funcionária
administrativa que me apoiava. Nunca
marquei audiências para os dias seguintes. Nunca usei as minhas mãos para
conduzir uma viatura da Câmara. O próprio presidente da Câmara, sempre que
acompanhava visitas oficiais, usava um Mercedes que fora herdado do Estado
Novo. E, no último ano de mandato, para conseguir uma viatura nova, quase caiu
o Carmo e a Trindade, porque, a oposição contava com 6 vereadores, contra quatro e 1 neutro. O
representante da CDU ora votava a favor, ora contra.
O que se seguiu, desde 1 de
Fevereiro de 1990, até Outubro de 2013 foi um fandango minhoto. O Presidente da
Câmara recrutou catorze assessores. Cada vereador chamou, de dentro ou de fora,
o número que entendeu. Cada vereador teve à sua mercê as viaturas que quis e os
motoristas da sua simpatia. Candidatos desse partido que perderam em Câmaras
vizinhas, fizeram ali estágios remunerados de quatro anos para as presidenciais
seguintes. Se perdiam tinham a assessoria garantida. Cada chefe e cada assessor
passou a ter carro às suas ordens. O número de funcionários duplicou. Guimarães
tem hoje três tipos de policiamento. Cruzam-se diariamente nas mesmas ruas,
estes três tipos de autoridade urbana: PSP, Polícia Municipal e Polícia da
Vitrus que é uma das muitas cooperativas Municipais. Aí se aninham os
familiares, os correlegionários e amigalhaços. Não estranhe, pois, Dr. Caseiro
Marques. Se Vila Real só recrutou uma dúzia no exterior da Câmara, ainda vá que
não vá. Na cidade onde vivo e onde fui autarca, o presidente que perdeu comigo,
beneficiou da «entrega do ouro ao bandido» para ganhar em 1990. Apenas saiu por
força da lei, em fins de 2013. E foi condecorado dia 10 de Junho pelo Chefe de
Estado...
Barroso da
Fonte
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