quarta-feira, 11 de junho de 2014

COSTA PEREIRA - Um pedaço de Portugal suspenso no alto-mar-XII


COSTA PEREIRA
Portugal, minha terra.
Descendo a Rua da Alfândega ao encontro da Avenida Álvaro Martins Homem lá vamos de imediato dar connosco na cosmopolita zona de recreio e lazer da Praia que tem ali os seus principais pólos de atracção mais evidenciados: num operacional porto marítimo, num areal sem similar na orla terceirense, numa movimentada marina, num animado Clube Naval e numa Cooperativa de Artesanato, fundada, a 19 de Agosto de 1985, na antiga Casa do Peixe. À volta deste acolhedor espaço que em forma de concha o forte de Santa Catarina e o forte do Espírito Santo delimitam a sul e a norte, descreve José Vieira, em a TERCEIRA: " O porto dispõe, actualmente, de 500 metros de cais, estando previsto o aumento de mais 240 metros, e várias outras beneficiações com vista a uma maior operacionalidade. Entre essas beneficiações está a construção de um terminal de passageiros para dar resposta ao crescente tráfego que se verifica no Verão com a operação dos ferries. (O Porto da Praia faz de entreposto nas ligações de São Miguel com as restantes ilhas)". E em relação à marina, salienta o seguinte: "A Marina, recentemente ampliada, tem 200 postos de amarração. A presença de uma praia de excelentes condições, com um novo enquadramento paisagístico, na sua ligação à marginal e à cidade, deu à Praia da Vitória um ar moderno e agradável e constitui um espaço privilegiado para a realização de actividades náuticas". Também de realçar aqui é a homenagem que ao genial autor de VIAGENS NA MINHA TERRA consta gravado, em azulejo, no topo norte do amuralhado que pela marginal vem do Largo João de Deus ao encontro da Av. Álvaro Martins Homem e que do lado direito de quem desce a Rua da Alfândega se pode observar escrito:" A Garret que em menino andou por esta praia e em 1829 a cantou no exílio de Londres. E a Praia e só apenas se ouve a bulha compassada da ressaca gemendo e murmurando. MCMLIV".
Mas falar da Praia comercial, turística, cultural, artística e desportiva sem uma referência à igreja do Senhor Santo Cristo ou da Misericórdia, seria como ir a Roma e não visitar o Vaticano. Pois não obstante a primitiva igreja de 1521 ter sido destruída por um incêndio que a devorou em 1921, logo ao ser de seguida, em 1924, reedificada, prima em manter, na medida do possível, a sua anterior singularidade arquitectónica com duas torres sineiras, duas capelas-mores e uma colorida frontaria adornada de janelas rectangulares. No seu interior encontram-se as sepulturas de Pedro de Barcelos e de D. Leonor Pacheco de Melo. Um templo de valor histórico e digno de visita, cuja origem supomos andar relacionada com uma imagem do Senhor Santo Cristo, também destruída pelo dito incêndio, e que segundo a tradição: apareceu a boiar no mar, dentro de um caixote sem nunca se conhecer a sua proveniência. Foi uma imagem de grande devoção em toda a ilha.
Para além do património construído, a Praia da Vitória, fruto do seu labor e dinamismo tem vindo a desenvolver um papel importantíssimo no campo social e cultural que do desporto ao ensino se vem retratando evidenciado no esplendor das festas do Concelho a decorrem anualmente no mês de Agosto, de modo a incluir o dia 11, data em que se evoca a celebre batalha em que um modesto exército liberal derrotou a forte esquadra miguelista; na promoção de espectáculos artísticos e culturais, feiras gastronómicas e festivais de musica tradicional com destaque para o que se realiza com a designação de "Festival Internacional do Ramo Grande -Trovas, cantigas e folias", e no ensino é de realçar no âmbito da Universidade dos Açores, Campus de Angra, a acção do Laboratório de Ambiente Marinho e Tecnológico (LAMTec) que sediado na Praia da Vitória entre as diversas actividades tem como principal objectivo desenvolver a investigação que visa a utilização de hidrogénio, proveniente da electrólise da água, como fonte de energia.
Apoiada em modernas e sólidas infra-estruturas de que também são exemplo o Parque Industrial, com 32 empresas, algumas delas já instaladas e outras em construção, e o Auditório do Ramo Grande, inaugurado em Abril de 2003, a Praia da Vitória promete vir a ser uma das maiores e mais importantes terras açorianas e para isso muito deve à presença dos americanos nas Lages e da utilização feita por eles duma parte reservada do porto da Praia. Pese entretanto o poema de Vitorino Nemésio que, a propósito da metamorfose verificada na zona, se celebrizou:
"A moda da gasolina / Secou o trigo do chão / Fez das Lages um terreiro / Oh que dor de coração / Ó avião da carreira / Carregadinho de bombas / Tu que foste a nossa desgrácia / E espantalho das pombas!"
Das freguesias rurais do concelho da Praia da Vitória nos ocuparemos em próxima crónica. 

                                                                                                                Costa Pereira 

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