João Castro - Manuel Dias Duarte - António Monteiro |
Ontem (17 de Janeiro, 2013 – Sexta-feira), em complemento da 93ª sessão das Noites com Poemas, teve honras de lançamento a público, na Biblioteca Municipal de São Domingos de Rana (Cascais), o livro do Professor Manuel Dias Duarte ("Vidas, doutrinas e sentenças de pré-socráticos ilustres"), apresentado com clareza, transparência e erudição pelo Professor António Monteiro.
É aos gregos pré
socráticos que Manuel Dias Duarte dedica o livro, que escreve juntamente (!)
com Diógenes de Laércio.
É de particular
interesse que se publiquem livros do género, não só porque como diz o próprio autor,
“Numa época de éticas sem moral alguma e de comportamentos e hábitos sem
qualquer eticidade, a releitura dos seus textos pode sem dúvida contribuir para
repensarmos os arquétipos da cultura europeia".
Mas ainda porque
é nos livros que estão todos os fundamentos da cultura europeia. Essencialmente
naqueles que originaram processos históricos. E, neste caso concreto, nem
sequer pensamos no contributo dos livros impressos por Joham Gutenberg (ou se
quisermos por Laurens Janszoom Coster), mas sim no processo que teve inicio na
Grécia 2000 anos antes de Gutenberg que, na opinião de Karl R. Popper, terá
fundado a cultura europeia.
Aquilo que se
convencionou chamar o Milagre de Atenas (muitas vezes referido como milagre
grego) nos séculos VI e V antes de Cristo. A época “da resistência aos
persas, da tomada de consciência da liberdade através da sua defesa, o
tempo de Péricles e da edificação do Parténon”, diz-nos Popper.
É exactamente o
século VI antes de Cristo que é abordado neste volume de Manuel Dias Duarte.
Uma das
explicações para o milagre grego (sobretudo o de Atenas), poderá ser
explicado parcialmente, segundo o filósofo alemão, pela invenção do livro e do
comércio livreiro.
Os poemas de
Homero foram publicados em forma de livro, oficialmente, por volta de 550 A.C.,
em Atenas, por iniciativa do soberano ateniense, o tirano Pisístrato, sendo
assim o primeiro editor europeu. E, em consequência, terá sido em Atenas que
teve origem o primeiro mercado livreiro da Europa. Homero era lido por toda a
gente em Atenas. E a ele se seguiram Hesíodo, Píndaro, Ésquilo e outros tantos
poetas. No ano 466 A.C. surgiu aquilo que hoje designamos por uma grande
tiragem da primeira publicação científica – a obra de Anaxágoras, Sobre a
Natureza.
Deixemos, pois,
esta questão para outra altura. Agora interessa realçar o volume de Manuel
Dias Duarte que a dado passos nos diz: "Os pré-socráticos gozam do
privilégio de terem vivido num período de transição de um modo de sociabilidade
para outro. E de terem sido não só os críticos mais consequentes da anterior
formação económica e social como os ideólogos de uma outra concepção do mundo e
da vida. Deles se pode dizer que não se limitaram a interpretar, antes quiseram
e conseguiram revolucionar e legitimar as novas relações sociais de produção e
de reprodução. Nisto consistiu o "milagre grego".
Numa época de éticas sem moral
alguma e de comportamentos e hábitos sem qualquer eticidade, a releitura dos
seus textos pode sem dúvida contribuir para repensarmos os arquétipos da
cultura europeia". Armando Palavras
Manuel Dias Duarte nasceu em
Lisboa no ano de 1943. Foi professor de Filosofia no Ensino Secundário e na
Universidade lusófona. Autor de manuais escolares, leccionou na Escola Superior
jean Piaget e foi Orientador de Estágios.
Colaborou em
diversos jornais e revistas , dirigiu a colecção Referências na Editora
Vega ( Os Sete Sábios – 2004; Tratado dos Três Impostores, Prefácio – 2004), e
é autor de uma vasta obra publicada, da qual se destacam: História da Filosofia
em Portugal (1987) e História de Portucália (2004), e na ficção: Pedra da Lua, Semelhante
à bondade, O Ser e o Tempo, Barco Encalhado na Areia
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