NOTAS DE RODAPÉ (102)
Jorge Lage |
2- Regras
para publicar ou apresentar livros nos Municípios – Alguém da cultura
de um município me explicava que se estavam a estabelecer regras para apresentação
de livros e apoiar autores. Claro que tem de haver regras: a qualidade e o interesse
da obra ou do tema. Em cultura temos que ter sempre na mão o rapeiro da
qualidade e se o que está na rasa não interessa rapa-se para fora. Em tempos
promovi apresentações de livros na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro em Braga
e tinha sempre a Casa cheia. Tenho a convicção que não defraudava ninguém
porque os crivos da qualidade e do interesse na Casa se ajustavam. Eu próprio
só aceito fazer apresentações dos meus livros se houver reconhecido interesse.
Não basta dizerem-me que me abrem as portas. Exijo, ainda, que o evento
cultural seja divulgado e, atempadamente, preparado. Por isso, este ano,
recusei ir a duas cidades trasmontanas. Na vida não vale tudo, mesmo os
momentos culturais em tempos difíceis, quando algumas pessoas não têm dinheiro
para comer, quanto mais para comprar livros. Aconselho antes de comprar um
livro deve-se ver se o assunto interessa ou não. Não interessa, não comprem.
3- O
gastrónomo Virgílio Nogueiro Gomes – É um dos maiores gastrónomos
portugueses e em termos culturais considero-o o maior. Nasceu em Bragança e tem
feito pela vida na capital, até se reformar do emprego, porque trabalho é com
ele. Consegue fintar a lógica da mitologia clássica e das estações do ano,
passando a parte fria do ano ao quente, no Brasil, e regressa na Primavera.
Custa-me a entender como é que o Município de Bragança deixa escapar a sua imensa
biblioteca privada de gastronomia com milhares de livros!... O Município de
Bragança anda pelo distrito (e arredores) a arregimentar tudo o que é cultura para
dentro das muralhas bragançanas e depois esquece-se desta raridade dos milhares
de livros de gastronomia da biblioteca do Virgílio Gomes que é um filho da
terra. Passe o dito bíblico: ninguém é profeta na sua terra. O Virgílio Gomes,
com o académico Armando Palavras, deu-me a honra de ser apresentador do meu
livro, «Memórias da Maria Castanha», na Casa de Trás-os-Montes em Lisboa. E
agora, vejam lá! A revista Tabu, n.º 379, do jornal Sol, de 6 de Dezembro,
dedica-lhe três páginas, a propósito do seu recente livro, «Tratado do Petisco e das grandes maravilhas
da cozinha nacional», que, logo que possa, hei-de ler e comentar. A sua
modéstia, humildade e trasmontanismo fazem do Virgílio uma pessoa discreta mas
com um saber gastronómico imenso. Envio-lhe um abraço de parabéns para Terras
de Vera Cruz, com votos de continuados e grandes sucessos.
4- Livro
de «Crónicas e sonhos» – Conheci o
advogado Fernando Trabulo no início da década de oitenta e mais de perto quando
me meti no cabo dos trabalhos para criar a Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro
em Braga, vindo ele fazer parte dos órgãos associativos. Recordo-o como pessoa
generosa e simpática e admirada e respeitada no meio bracarense. Agora, já
octogenário, ofereceu-me o seu livro «Crónicas e Sonhos», onde dá a conhecer a
sua história de vida, contada como um relatório fluente e que se lê com
interesse. O seu percurso de vida. Em jovem, passa por: Foz Côa onde nasceu
aquando da grande crise mundial de 1929; por Almendra, terra da mãe; Figueira
de Castelo Rodrigo, Trancoso, Angola e, por fim, radicou-se em Braga, sendo uma
referência nos Institutos de Emprego e do Trabalho e como advogado. Foi um
brilhante aluno e muito precoce a assumir responsabilidades. Por exemplo, com
13 amos já tinha sozinho o negócio do Volfrâmio em Almendra, enquanto o pai o
fazia em Foz Côa, avaliando a sua pureza, pesando e pagando. O volfrâmio era
preto e a chelite de cor creme. Bons depoimentos das terras por onde passou que
nos avivam memórias e nos inspiram. Fala dos jogos populares, como o pauteiro,
o batoque, a carronda e os brinquedos rurais. As «Crónicas e Sonhos» de
Fernando Trabulo que li com interesse não estão disponíveis nas livrarias apenas
podem ser adquiridas por oferta do autor, radicado em Braga.
5- Livros
para (oferta) o Natal
– Os livros são bons presentes para oferecer pelo Natal. Sugiro os livros de
contos do Nuno Nozelos (Mirandela),
do Jorge Tuela (Vinhais) porque
compra do melhor que temos. Na poesia as obras recentes «Introdução à Eternidade» e «Mulheres
de amor inventadas» do mirandelense Henrique Pedro, «Sou e Sinto» da macedense Virgínia do Carmo («Uma Luz que nasce por dentro» - contos), do maior autor
transmontano vivo, A. M. Pires Cabral, tem a novidade «Gaveta do Fundo» e de regionalismos trasmontanos a monumental «Língua Charra» e meu, disponível «Falares de Mirandela». Para gente pia
ou que quer recordar orações da mãe ou da avó, as «55 Orações Marianas» da murcense Manuela Morais (Editora
Tartaruga). Tem orações aos heterónimos de Maria Mãe de Jesus e tenho pena que
não constem a Nossa Senhora do Sameiro e a Nossa Senhora dos Remédios. Estas 55
orações são fruto de muita pesquisa, ao longo de anos, e é uma forma da Manuela
estar na vida: solidária e generosa. O prefácio é de Marcelo Rebelo de Sousa e na
contracapa de D. Duarte de Bragança. A parte final tem textos, poemas e
mensagens de autores vários e sinto-me honrado de eu lá ter «A vida com Maria
tem mais alegria». A Manuela na sua actividade editora tem promovido os autores
trasmontanos e já editou cerca de 80 títulos, Pode pedir o livro a tartaruga.editora@gmail.com, que
o fará chegar aos interessados.
6- Boas
Festas e Feliz Natal
– Os leitores têm tido a paciência de conviverem comigo, ao longo de mais de um
quarto de século. Uma vida. Alguns já partiram e tanta falta me fazem. A vida
sem amigos torna-se mais crua e os amigos ajudam-me a vencer as horas más. Sinto-me
um privilegiado com os bons amigos. Muita me alegrará se, neste Natal, apesar da
crise, chamarem a memória dos que já partiram para a mesa e para a lareira.
Eles vão sentir-se muito honrados e nós mais felizes, apesar das imensas
saudades. Saúdo o grande esforço do Jerónimo e Arnaldo em manter vivo o
Notícias de Mirandela. Tudo seria melhor, para Mirandela e para todos, se
alguns de nós não agíssemos só a pensar no nosso umbigo. A todos – directores
do jornal, assinantes e leitores Boas Festas e Feliz Natal!
Jorge
Lage – jorgelage@portugalmail.com
– 11DEZ2013
Provérbios ou ditos:
Ø Para o ano
não ir mal, hão-de os rios três vezes encher, entre o São Mateus e o Natal.
Ø Mirandela ou escalda ou gela.
Ø Pelo
Natal ao fogo e pela Páscoa ao jogo.
ORAÇÂO
DO POETA
Peço a esta pedra,
Onde acabo de me sentar,
Peço aquela rosa,
Que acabei de beijar.
Me sirvam de abrigo
Que dêem em terra comigo
E me ajudem a rezar.
A paz de Deus nesta montanha.
Me apague esta sede tamanha
De quase pedir tudo.
Para deleitar e possuir
E ficar quieto e mudo,
Sem saber que mais pedir.
Que o poema se engrandeça
Pelo fervor que me inspira,
Para vos louvar
E meu Deus, que mais quereis,
Se sabeis
Que só os acordes desta lira
Eu tenho para vos dar?
(Nelson Vilela in
Livro de Horas)
Nota: Vale mais um simples
verso que todos os natais comerciais em que o consumismo se aninha na máscara
da solidariedade e da amizade.
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