terça-feira, 19 de novembro de 2013

Voando com as libélulas de Portugal -Ernestino Maravalhas


Investiga sinistros a tempo inteiro e insectos nas horas vagas. Ernestino Maravalhas anda atrás das libélulas há mais de 30 anos e agora publica o primeiro guia de campo português para este grupo.


São libélulas ou libelinhas? Muitas pessoas acreditam que a diferença está no tamanho, com as libélulas maiores do que as libelinhas. É verdade que as libélulas têm um aspecto mais robusto e as libelinhas são mais delgadas. Mas o maior destes insectos voadores é, na realidade, a libelinha Megaloprepus caerulatus, com 12 centímetros de uma asa à outra. No livro As Libélulas de Portugal, Ernestino Maravalhas e Albano Soares revelam este e outros aspectos das libélulas e libelinhas.
Em caso de dúvida, chame-se libélulas a todas elas, que não estará errado, porque libélulas também é o nome comum do grupo — a ordem Odonata. E se a origem do nome libélula ou libelinha é incerta, Odonata vem do grego e diz respeito à estrutura bocal dotada de dentes. As mandíbulas destes predadores vorazes têm sobretudo quitina (açúcar complexo), tal como o exosqueleto dos insectos, e, quando serrilhadas, têm o aspecto de dentes afiados.
Mandíbulas dilacerantes e asas enormes fizeram com que estes animais de voos graciosos fossem temidos pelo homem. Reflexo disso é o conjunto de outros nomes comuns atribuídos às libélulas: tira-olhos, cavalinho-das-bruxas, dragões-voadores ou balanças-do-diabo.
Se ainda hoje tememos as libélulas, com uma envergadura de asas de 1,8 a 12 centímetros, o que pensaríamos se nos tivéssemos cruzado com a Meganeura monyi, com 75 centímetros de envergadura? Foi o maior insecto voador de todos os tempos, há 300 milhões de anos, antes mesmo de existirem dinossauros.
A este gigante do mundo dos insectos chamou-se Meganeura porque tinha nervuras muito distintas nas asas, que até ficaram conservadas no registo fóssil. “As asas da ordem Odonata são estruturas membranosas muito delgadas e reforçadas por inúmeras nervuras”, lê-se no guia. As nervuras têm assim função de conferir resistência à membrana alar.
O formato das quatro asas é uma das principais diferenças entre os dois grupos dos Odonata: nas libélulas, da subordem Anisoptera, o par de asas anterior (mais perto da cabeça) tem uma forma diferente do par posterior; nas libelinhas, da subordem Zygoptera, os dois pares de asas são semelhantes. Observar o formato alar, durante o voo destes animais que podem bater as asas mais de 50 vezes por minuto, pode ser complicado. Mas não em repouso, porque os insectos das duas subordens têm comportamentos distintos: as libélulas mantêm as asas abertas e as libelinhas fecham-nas sobre o corpo.
No livro As Libélulas de Portugal, um guia de campo, são também indicadas as diferenças nos olhos, nos segmentos do abdómen ou nas estruturas reprodutoras, que permitem identificar a espécie no terreno. Apresentam-se microfotografias para todos os pormenores relevantes.
Cada uma destas imagens de pormenor é composta pelo empilhamento digital de várias fotografias (um dos casos chega às 150) tiradas com diferentes profundidades de campo, para permitir focar o maior número de detalhes possível em cada plano. “É a primeira vez que esta técnica de stacking é utilizada num guia de entomologia [ciência que estuda os insectos]”, sublinha Ernestino Maravalhas, autor destas fotografias.




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