Memórias da Maria Castanha
Jorge
Joaquim Lage nasceu em Chelas, freguesia de Cabanelas, concelho de Mirandela a
seis de Abril de 1948.
Obra composta
por um volume com capa em tons acastanhados, nela sobressai, em primeiro plano,
uma gravura de Henry Leveque (1812) emoldurada a branco. A contracapa é
composta por uma imagem de um “ouriço com castanhas” (fotografia de Graça
Gomes), um excerto de A.M. Pires Cabral e uma mensagem de José Posada, com quem
o autor se fez fotografar junto de um castanheiro monumental no ano de 2010, no
Parque Natural de Montesinho (p. 309).
É
um volume digno de consulta que ocupou o autor durante quatro anos. São mais de
três centenas de páginas que tratam de “vocabulário, variedades de castanhas,
expressões, provérbios, receitas tradicionais e outros saberes etnográficos do
castanheiro”.
O
método seguido foi o da recolha de elementos junto de instituições várias e
entidades anónimas, calcorreando 50 concelhos, incluindo as ilhas atlânticas.
Do
prefácio de A.M. pires Cabral, à introdução do autor, segue-se uma compilação
de saberes da ruralidade, terminando com posfácio de Francisco Tavares.
Comentário
“Mais
le fruit d’entre les fruits, le Seul qui en même temps nourrit et symbolise,
tombe de Hants hambres, immenses, centenaires, et qui, Purs comme des vestales,
semblent incarner la virginité du paysage lui-même”.
TORGA, Miguel, Portugal, trad. Claire Cayron,
Ibériques- José Corti (1996), pp.34-35.
Foi
na lenda da Maria Castanha que o autor destas “Memórias” terá rebuscado o
título do livro. Descrita nas páginas 184-185, conta-nos a história de uma
provável heroína galega do século XIV, cabecilha na revolta contra o bispo de
Lugo pelos abusos na cobrança de impostos ao povo.
Se
em livros anteriores como Castanea, uma
dádiva dos deuses (2006), o autor procurou um saber botânico e científico,
neste desenvolveu um saber etnográfico; um saber popular.
Inicia
com um belo “prontuário” de 136 páginas sobre o vocabulário e expressões da
castanha e do castanheiro. Muito deste vocabulário e destas expressões já em
desuso, são acompanhadas por notas de pé de página explicativas, nalguns casos
pequenas compilações de conhecimento.
Aos
provérbios, vai o autor buscar uma sabedoria da ruralidade, alguma já perdida
no tempo. À castanha e ao castanheiro (ainda conhecido no norte de Itália como
a “árvore do pão”) estão associadas quadras populares, adivinhas, lendas,
trava-línguas, lengalengas, acrósticos, jogos, brinquedos … De tudo isto trata
este livro. E de muito mais. Uma página (!) é dedicada às variedades de
castanha. Outras, a castanheiros monumentais, à heráldica, às receitas, e por
aí adiante.
Este
livro é um repositório de saber sobre a castanha; uma verdadeira homenagem ao
“fruto dos frutos”, como um dia lhe chamou Miguel Torga em Portugal, no texto “Um Reino Maravilhoso”, recordado em prefácio
por A. M. Pires Cabral, a quem Jorge Lage dedica 308 páginas.
Armando
Palavras
Actualizado em 29 de Agosto de 2013
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