terça-feira, 27 de agosto de 2013

Memórias da Maria Castanha em livro

                                                                                                                                   Dr. Jorge Lage


 Memórias da Maria Castanha

Jorge Joaquim Lage nasceu em Chelas, freguesia de Cabanelas, concelho de Mirandela a seis de Abril de 1948.

Descrição

Obra composta por um volume com capa em tons acastanhados, nela sobressai, em primeiro plano, uma gravura de Henry Leveque (1812) emoldurada a branco. A contracapa é composta por uma imagem de um “ouriço com castanhas” (fotografia de Graça Gomes), um excerto de A.M. Pires Cabral e uma mensagem de José Posada, com quem o autor se fez fotografar junto de um castanheiro monumental no ano de 2010, no Parque Natural de Montesinho (p. 309).
É um volume digno de consulta que ocupou o autor durante quatro anos. São mais de três centenas de páginas que tratam de “vocabulário, variedades de castanhas, expressões, provérbios, receitas tradicionais e outros saberes etnográficos do castanheiro”.
O método seguido foi o da recolha de elementos junto de instituições várias e entidades anónimas, calcorreando 50 concelhos, incluindo as ilhas atlânticas.
Do prefácio de A.M. pires Cabral, à introdução do autor, segue-se uma compilação de saberes da ruralidade, terminando com posfácio de Francisco Tavares.

 
Comentário

“Mais le fruit d’entre les fruits, le Seul qui en même temps nourrit et symbolise, tombe de Hants hambres, immenses, centenaires, et qui, Purs comme des vestales, semblent incarner la virginité du paysage lui-même”.
TORGA, Miguel, Portugal, trad. Claire Cayron, Ibériques- José Corti (1996), pp.34-35.


Foi na lenda da Maria Castanha que o autor destas “Memórias” terá rebuscado o título do livro. Descrita nas páginas 184-185, conta-nos a história de uma provável heroína galega do século XIV, cabecilha na revolta contra o bispo de Lugo pelos abusos na cobrança de impostos ao povo.
Se em livros anteriores como Castanea, uma dádiva dos deuses (2006), o autor procurou um saber botânico e científico, neste desenvolveu um saber etnográfico; um saber popular.
Inicia com um belo “prontuário” de 136 páginas sobre o vocabulário e expressões da castanha e do castanheiro. Muito deste vocabulário e destas expressões já em desuso, são acompanhadas por notas de pé de página explicativas, nalguns casos pequenas compilações de conhecimento.
Aos provérbios, vai o autor buscar uma sabedoria da ruralidade, alguma já perdida no tempo. À castanha e ao castanheiro (ainda conhecido no norte de Itália como a “árvore do pão”) estão associadas quadras populares, adivinhas, lendas, trava-línguas, lengalengas, acrósticos, jogos, brinquedos … De tudo isto trata este livro. E de muito mais. Uma página (!) é dedicada às variedades de castanha. Outras, a castanheiros monumentais, à heráldica, às receitas, e por aí adiante.
Este livro é um repositório de saber sobre a castanha; uma verdadeira homenagem ao “fruto dos frutos”, como um dia lhe chamou Miguel Torga em Portugal, no texto “Um Reino Maravilhoso”, recordado em prefácio por A. M. Pires Cabral, a quem Jorge Lage dedica 308 páginas.
Armando Palavras

Actualizado em 29 de Agosto de 2013


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