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“A história é a chave do presente”
Eduardo Galeano
A
lenda dos brandos costumes, quando se referem à paciência do povo português,
não passa disso; de uma lenda. Basta-nos recuar ao século XIX para o
verificarmos. O século XIX foi um século fratricida. Com muito sangue e
bordoada à mistura. Passemo-lo em revista, apenas a primeira metade.
Em
1817 é executado o general Gomes Freire de Andrade e em 1818 forma-se o
Sinédrio, no Porto, que irá influenciar a revolução de 1820 (começa com uma
revolta militar). Em 1823 dá-se a sublevação contra o liberalismo em
Trás-os-Montes, liderada pelo conde de Amarante, em Fevereiro. Em Abril
surge a “Abrilada”, o duque de Loulé é assassinado, e em Maio dá-se a revolta
da Vilafrancada. Em 1826 surge a conspiração absolutista da polícia de Lisboa e
inicia-se a guerra civil, com a invasão de Trás-os-Montes. Em 1827, os
exércitos absolutistas são derrotados e surgem motins populares em Lisboa
(Archotada). Surge então a crise financeira (que em Portugal quer sempre dizer
bancarrota!). Em 1828, novo golpe absolutista e revolta liberal no Porto
(fracassada) e no Algarve. Em 1829, miguelistas e liberais enfrentam-se nos
Açores. Em 1831, nova vaga repressiva anti-liberal, revolta do Regimento de
Cavalaria 4, de Lisboa. Em 1832 dá-se o cerco do Porto pelos liberais e a
batalha de Souto Redondo. Em 1833 o duque de terceira ocupa Lisboa; em 1834,
dá-se a batalha de Almoster, seguida da de Asseiceira; em 1835 são destruídas
as primeiras máquinas industriais pelos trabalhadores e em 1836 dá-se a revolução
setembrista, o golpe de estado palaciano (Belenzada) e nova depressão
económica; em 1837, Conspiração das Marnotas, crise bancária e a revolta dos
Marechais; em 1838, revolta clubista e arsenalista de Lisboa; em 1840,
sublevação do Arsenal; em 1842 surge o movimento revolucionário em Braga, dá-se
a revolta contra Costa Cabral em Marvão, nova crise financeira; em 1843,
tumultos no Porto, são encerradas as câmaras municipais de Évora, Faro e Vila
Franca; em 1844, revolta popular setembrista em Torres Novas ; em
1846, Revolta da Maria da Fonte, Golpe de Estado (“Emboscada”), revolta no
Porto, inicio da Patuleia, batalha de Torres Vedras, crise financeira; em 1847,
repressão às revoltas populares, Convenção do Gramido; 1948, criação da
Carbonária Lusitana.
Daí
em diante, nunca mais parou a bordoada. E culminou numa chacina brutal nos 16
anos da Primeira Republica, onde se assassinaram Presidentes da República e
Primeiros-ministros. Só quando o Doutor Salazar toma conta do governo em 1928,
esses 100 anos de mortandade terminaram. E foi com a estabilidade económica e
social do seu governo que se criou esta lenda dos brandos costumes.
Basta
que se acenda, de novo, o rastilho, como alguns o têm pretendido, e aí temos
novos anos de bordoada e traulitada. A sorte que o país tem, neste momento, de
ter como Presidente da Republica o professor Aníbal Cavaco Silva!
Armando
Palavras
Post scriptum
Podemos
dizê-lo, foram as várias crises económicas provocadas por uma classe politica
medíocre, que originaram a bordoada e a mortandade. E foi a bancarrota de 2011
que nos pôs neste estado. Com custo o governo do Primeiro-ministro Pedro Passos
Coelho tem procurado tirar o país do buraco para onde foi atirado pelos
socialistas.
Ontem
o professor Vítor Gaspar demitiu-se. Foi pena. Além de um grande ministro que
conseguiu (com o esforço dos portugueses) restabelecer o crédito do país na
Europa[1], era
um intelectual, um daqueles que muda verdadeiramente as coisas. E mudou, porque
hoje o país é respeitado e tem amigos. É certo que o cidadão comum tem os
bolsos vazios, mas deve-o a quem nos conduziu à bancarrota.
Qual
foi a primeira reacção de quem nos trouxe a este buraco? Pedir a demissão do
Governo! Como se a demissão de um ministro desse origem à queda de um governo!
É esta a formação “politica” desta gente!
Mal
dos portugueses se este governo caísse. No espaço de dois meses estava instalada
a velha bordoada e mortandade do século XIX e da Primeira República. Felizmente
que este governo é liderado por gente com cérebro, que se não deixa
influenciar, aguenta os parvos porque tem a missão histórica de nos livrar da
bancarrota!
Nota: Esperamos voltar ao assunto com mais profundidade ainda esta semana
[1] Quando os socialistas deixaram o “poleiro”, Portugal
era motivo de chacota!
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