terça-feira, 2 de julho de 2013

A Lenda dos Brandos Costumes e os tempos actuais

GOYA

                                                                                                            “A história é a chave do presente”
                                                                                                                                  Eduardo Galeano
 
A lenda dos brandos costumes, quando se referem à paciência do povo português, não passa disso; de uma lenda. Basta-nos recuar ao século XIX para o verificarmos. O século XIX foi um século fratricida. Com muito sangue e bordoada à mistura. Passemo-lo em revista, apenas a primeira metade.

Em 1817 é executado o general Gomes Freire de Andrade e em 1818 forma-se o Sinédrio, no Porto, que irá influenciar a revolução de 1820 (começa com uma revolta militar). Em 1823 dá-se a sublevação contra o liberalismo em Trás-os-Montes, liderada pelo conde de Amarante, em Fevereiro. Em Abril surge a “Abrilada”, o duque de Loulé é assassinado, e em Maio dá-se a revolta da Vilafrancada. Em 1826 surge a conspiração absolutista da polícia de Lisboa e inicia-se a guerra civil, com a invasão de Trás-os-Montes. Em 1827, os exércitos absolutistas são derrotados e surgem motins populares em Lisboa (Archotada). Surge então a crise financeira (que em Portugal quer sempre dizer bancarrota!). Em 1828, novo golpe absolutista e revolta liberal no Porto (fracassada) e no Algarve. Em 1829, miguelistas e liberais enfrentam-se nos Açores. Em 1831, nova vaga repressiva anti-liberal, revolta do Regimento de Cavalaria 4, de Lisboa. Em 1832 dá-se o cerco do Porto pelos liberais e a batalha de Souto Redondo. Em 1833 o duque de terceira ocupa Lisboa; em 1834, dá-se a batalha de Almoster, seguida da de Asseiceira; em 1835 são destruídas as primeiras máquinas industriais pelos trabalhadores e em 1836 dá-se a revolução setembrista, o golpe de estado palaciano (Belenzada) e nova depressão económica; em 1837, Conspiração das Marnotas, crise bancária e a revolta dos Marechais; em 1838, revolta clubista e arsenalista de Lisboa; em 1840, sublevação do Arsenal; em 1842 surge o movimento revolucionário em Braga, dá-se a revolta contra Costa Cabral em Marvão, nova crise financeira; em 1843, tumultos no Porto, são encerradas as câmaras municipais de Évora, Faro e Vila Franca; em 1844, revolta popular setembrista em Torres Novas; em 1846, Revolta da Maria da Fonte, Golpe de Estado (“Emboscada”), revolta no Porto, inicio da Patuleia, batalha de Torres Vedras, crise financeira; em 1847, repressão às revoltas populares, Convenção do Gramido; 1948, criação da Carbonária Lusitana.
 
Daí em diante, nunca mais parou a bordoada. E culminou numa chacina brutal nos 16 anos da Primeira Republica, onde se assassinaram Presidentes da República e Primeiros-ministros. Só quando o Doutor Salazar toma conta do governo em 1928, esses 100 anos de mortandade terminaram. E foi com a estabilidade económica e social do seu governo que se criou esta lenda dos brandos costumes.
Basta que se acenda, de novo, o rastilho, como alguns o têm pretendido, e aí temos novos anos de bordoada e traulitada. A sorte que o país tem, neste momento, de ter como Presidente da Republica o professor Aníbal Cavaco Silva!
                                                            Armando Palavras


 

Post scriptum

Podemos dizê-lo, foram as várias crises económicas provocadas por uma classe politica medíocre, que originaram a bordoada e a mortandade. E foi a bancarrota de 2011 que nos pôs neste estado. Com custo o governo do Primeiro-ministro Pedro Passos Coelho tem procurado tirar o país do buraco para onde foi atirado pelos socialistas.
 
Ontem o professor Vítor Gaspar demitiu-se. Foi pena. Além de um grande ministro que conseguiu (com o esforço dos portugueses) restabelecer o crédito do país na Europa[1], era um intelectual, um daqueles que muda verdadeiramente as coisas. E mudou, porque hoje o país é respeitado e tem amigos. É certo que o cidadão comum tem os bolsos vazios, mas deve-o a quem nos conduziu à bancarrota.
Qual foi a primeira reacção de quem nos trouxe a este buraco? Pedir a demissão do Governo! Como se a demissão de um ministro desse origem à queda de um governo! É esta a formação “politica” desta gente!
Mal dos portugueses se este governo caísse. No espaço de dois meses estava instalada a velha bordoada e mortandade do século XIX e da Primeira República. Felizmente que este governo é liderado por gente com cérebro, que se não deixa influenciar, aguenta os parvos porque tem a missão histórica de nos livrar da bancarrota!
 

Nota: Esperamos voltar ao assunto com mais profundidade ainda esta semana




[1] Quando os socialistas deixaram o “poleiro”, Portugal era motivo de chacota!

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