Elias Lönnrot |
Acabou de ser lançado pela Dom
Quixote[1]
aquele que é considerado o texto épico[2] (de
fundação) da nacionalidade finlandesa, território russo até 1917 (altura em que
se tornou independente): Kalevala, de
Elias Lönnrot, uma obra de 1835.
Lönnrot reuniu, numa única
narrativa épica bastante consistente, uma extensa colecção de antigas canções
populares que permaneceram vivas na tradição oral finlandesa, sobretudo no
distrito de Arcanjo, na Carélia. A essa narrativa ainda acrescentou alguns
versos da sua autoria; muito poucos (alguns estudiosos apontam para uma
percentagem entre os 2 e os 4%).
A Velha Kalevala, como normalmente é conhecida a primeira edição da
obra (1835), foi reeditada em 1849, onde existem alterações significativas[3].
Desde logo porque os 32 cantos originais passam a ser 50, e Väinämöinen já não
é um deus. A tarefa da criação do mundo é agora levada a cabo pela sua mãe, a
donzela do ar – Ilmatar.
Aí são descritas as façanhas de
vários heróis míticos finlandeses: Väinämöinen, o bardo, Ilmarinen, o ferreiro
e Lemminkäinen. A eles se junta Kullervo, um anti-herói de destino trágico.
Neste épico predomina a relação
entre Kalevala (a terra de Kaleva) e Pohjola (a terra do Norte, por vezes
conotada com a Lapónia).
Depois de uma narração da criação
do mundo e do nascimento de Väinämöinen, nos primeiros 25 cantos, os três
heróis da Kalevala (Väinämöinen,
Ilmarinen e Lemminkäinen) visitam alternadamente a terra do Norte, cortejando a
filha de Louhi, senhora do território.
Ilmarinen fabrica o Sampo (um misterioso objecto que traz
prosperidade a quem o possui) para conseguir a mão da filha de Louhi, com quem
se casa[4]. Nos
segundos 25 cantos, Kalevala e Pohjola iniciam um período de
hostilidade. Os heróis da Kalevala
roubam o Sampo a Pohjola, dando origem a uma guerra pela sua posse.
Intercaladamente, é inserida na narrativa a história trágica de Kullervo. E o
poema acaba com o final da era mítica finlandesa, simbolizada pela chegada de
um novo deus (Cristo) e na partida de Väinämöinen.
Em termos formais, na Kalevala não existe a separação de
estrofes, nem rima. Os versos, emparelhados em dísticos (o segundo
frequentemente expressa uma variação do significado do primeiro) são
octossílabos e compostos, alternadamente, por uma sequência de sílabas longas e
sílabas curtas.
[1]Em
2007 já havia sido feita uma tradução (de Orlando Moreira) integral, em
português, pela editora Ministério dos Livros.
[2]Este poema heróico vai na linha das velhas sagas
nórdicas, como as baladas irlandesas e escocesas, ou das velhas epopeias de
Ossian, velho bardo cego (como Homero?), que recorda os feitos de seu pai Figal
e de seu filho, bem como de outros heróis desaparecidos tragicamente. Goethe
cita este velho bardo (fragmentos de The
songs of Selma e parte de Berrathon)
no seu romance epistolar, A Paixão do
Jovem Werther.
[3]Jean
Sibelius, compositor finlandês, inspirou-se em temas da Kalevala para muitas
das suas obras.
[4] A
magia desempenha um papel predominante na narrativa e todos os heróis têm poderes
mágicos de algum género. Väinämöinen, por exemplo, é, ao mesmo tempo, bardo,
mago e sábio. Na Kalevala conhecer
uma coisa é cantá-la e ter poderes sobre ela.
Gostei de ver. Vou dedicar mais tempo disponível.
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