terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Kalevala, o épico finlandês

A mãe Lemminkainen (1897) de Akseli Gallen-Kallela, é uma evocação recente dos temas da maternidade e da guerra. Representa uma cena do Kalevala, poema épico finlandês. Um guerreiro chamado Lemminkainen tinha sido assassinado, cortado em pedaços e lançado ao rio. A sua mãe recuperou os pedaços e ressuscitou-o.
Elias Lönnrot
Acabou de ser lançado pela Dom Quixote[1] aquele que é considerado o texto épico[2] (de fundação) da nacionalidade finlandesa, território russo até 1917 (altura em que se tornou independente): Kalevala, de Elias Lönnrot, uma obra de 1835.
Lönnrot reuniu, numa única narrativa épica bastante consistente, uma extensa colecção de antigas canções populares que permaneceram vivas na tradição oral finlandesa, sobretudo no distrito de Arcanjo, na Carélia. A essa narrativa ainda acrescentou alguns versos da sua autoria; muito poucos (alguns estudiosos apontam para uma percentagem entre os 2 e os 4%). 
A Velha Kalevala, como normalmente é conhecida a primeira edição da obra (1835), foi reeditada em 1849, onde existem alterações significativas[3]. Desde logo porque os 32 cantos originais passam a ser 50, e Väinämöinen já não é um deus. A tarefa da criação do mundo é agora levada a cabo pela sua mãe, a donzela do ar – Ilmatar.
Aí são descritas as façanhas de vários heróis míticos finlandeses: Väinämöinen, o bardo, Ilmarinen, o ferreiro e Lemminkäinen. A eles se junta Kullervo, um anti-herói de destino trágico.
Neste épico predomina a relação entre Kalevala (a terra de Kaleva) e Pohjola (a terra do Norte, por vezes conotada com a Lapónia).
Depois de uma narração da criação do mundo e do nascimento de Väinämöinen, nos primeiros 25 cantos, os três heróis da Kalevala (Väinämöinen, Ilmarinen e Lemminkäinen) visitam alternadamente a terra do Norte, cortejando a filha de Louhi, senhora do território.
Ilmarinen fabrica o Sampo (um misterioso objecto que traz prosperidade a quem o possui) para conseguir a mão da filha de Louhi, com quem se casa[4]. Nos segundos 25 cantos, Kalevala e Pohjola iniciam um período de hostilidade. Os heróis da Kalevala roubam o Sampo a Pohjola, dando origem a uma guerra pela sua posse. Intercaladamente, é inserida na narrativa a história trágica de Kullervo. E o poema acaba com o final da era mítica finlandesa, simbolizada pela chegada de um novo deus (Cristo) e na partida de Väinämöinen.
Em termos formais, na Kalevala não existe a separação de estrofes, nem rima. Os versos, emparelhados em dísticos (o segundo frequentemente expressa uma variação do significado do primeiro) são octossílabos e compostos, alternadamente, por uma sequência de sílabas longas e sílabas curtas.



[1]Em 2007 já havia sido feita uma tradução (de Orlando Moreira) integral, em português, pela editora Ministério dos Livros.
[2]Este poema heróico vai na linha das velhas sagas nórdicas, como as baladas irlandesas e escocesas, ou das velhas epopeias de Ossian, velho bardo cego (como Homero?), que recorda os feitos de seu pai Figal e de seu filho, bem como de outros heróis desaparecidos tragicamente. Goethe cita este velho bardo (fragmentos de The songs of Selma e parte de Berrathon) no seu romance epistolar, A Paixão do Jovem Werther.
[3]Jean Sibelius, compositor finlandês, inspirou-se em temas da Kalevala para muitas das suas obras.
[4] A magia desempenha um papel predominante na narrativa e todos os heróis têm poderes mágicos de algum género. Väinämöinen, por exemplo, é, ao mesmo tempo, bardo, mago e sábio. Na Kalevala conhecer uma coisa é cantá-la e ter poderes sobre ela.

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