Nasceu em Porton,
Inglaterra, em 1812, e morreu em Londres em 1870. O rapaz de que falamos
sonhava ser escritor, mas tudo parecia conspirar contra o seu desejo. Seu pai
foi preso por não poder saldar as dívidas, e ele teve que abandonar a escola,
que apenas frequentou quatro anos. Experimentando, por vezes, as agruras da
fome, conseguiu, finalmente, empregar-se num armazém onde colava rótulos em
frascos de graxa, comungando a comida com os roedores que infestavam o lugar.
Em atmosfera quase irrespirável, dormia com outros companheiros nas
águas-furtadas de um cortiço londrino. Após dezenas de contos lhe serem
recusados, para que ninguém se risse dele, uma noite, às escondidas, mandou
pelo correio um manuscrito anónimo à revista “ The Monthly Magazine “. Este, finalmente aceite, foi elogiado
pelo editor e aquele rapaz que tão tenazmente tinha lutado contra a
adversidade, vagueou pelas ruas londrinas, deixando correr lágrimas de
felicidade.
A aceitação e publicação deste conto,
haveria de mudar para sempre a sua vida, e alentou Charles Dickens a mandar mais material escrito que de futuro
apareceria sob o título “ Sketches by Boz
“.
Em 1836 publicou os “ Arquivos Póstumos do Pickwick Club”, o seu primeiro romance. A partir
de 1858, com uma audiência composta por amigos e artistas, fazia leituras dos
seus textos. Em 1859 publicou um dos seus melhores romances – “ História de Duas Cidades “. Dickens
foi, também, autor de obras notáveis que retrataram a Inglaterra vitoriana: “ Oliver Twist, “ David Copperfield “ e
“ Contos de Natal “.
“ O Natal do senhor Scrooge “,
sem dúvida o mais conhecido, influenciou o renascer da tradição, cada vez menos
festejada. A descrição que Dickens faz do Natal, é a da sua verdadeira essência:
tempo de paz, de caridade e de bondade para com os outros.
É o próprio Dickens que paga o custo da
edição e estabelece o preço em cinco xelins, para que, deste modo, fosse
acessível a todos. O livro foi publicado na semana anterior ao Natal de 1843,
tornando-se num êxito imediato. No livro, destaca-se o contraste de uma
infância infeliz com uma sociedade avarenta, através da história de um agiota
sovina, ao qual três espíritos mostram o seu passado, o seu presente e o futuro
que o espera se não mudar de atitude.
É dele que retiramos este trecho:
-
Aqui está a
Marta, mãe – gritaram os dois Cratchits mais pequenos. – Viva ! Marta, temos cá
um destes gansos ! ( ... )
-
Bom, não importa,
o que interessa é que vieste – disse a senhora Cratchit. – Senta-te aqui em
frente do lume, aquece-te que Deus te abençoe! ( ... )
( ... ) o pequeno Tim, escoltado pelo irmão e pela irmã, dirigindo-se
ao seu banquinho junto da lareira, enquanto Bob, arregaçando os punhos – pobre
diabo, como se fossem susceptíveis de se gastar mais -, preparava num jarro uma
mistura quente com gim e limão, mexia e remexia e punha-a na chapa do fogão
para ferver a fogo lento. O menino Peter e os dois irmãos, com o dom da
ubiquidade , foram buscar o ganso e em breve regressaram com ele em procissão.
( ... ) A senhora Cratchit fazia o molho ( pronto antecipadamente, numa pequena
caçarola ) chiar de quente; o menino Peter esmagava as batatas com um incrível
vigor, a menina Belinda adoçava o molho de maçã, Marta limpava os pratos
quentes, Bob levou o pequeno Tim para o pé dele, a um cantinho da mesa, os dois
pequenos Cratchits puseram as cadeiras para todos (... ).Por fim os pratos
foram postos e foram dadas graças. Sucedeu-se um silêncio em que nem se
respirava, quando a senhora Cratchit, olhando lentamente ao longo da faca de
trinchar, se preparou para a espetar no peito; mas quando assim fez e quando
brotou o jorro de recheio, ergueu-se um murmúrio de prazer em volta da mesa, (
... ) . Aumentado com o molho de maçã e com o puré de batata, era um jantar
suficiente para toda a família, ( ... ). Agora, e enquanto os pratos eram
mudados pela menina Belinda, a senhora Cratchit saiu da sala sozinha -
demasiado nervosa para suportar testemunhas - , para desenformar e trazer o
pudim. (... ) . Eia! Muito vapor! O pudim saira da caldeira. Cheirava como em
dia de barrela! Era do pano! ( ... ). Todos tiveram algo a dizer sobre ele, mas
niguém disse ou pensou que fosse um pudim pequeno para tão grande família. (...
) . Por fim o jantar estava acabado, a toalha foi limpa, a lareira varrida e o
lume aceso. Foi provada a mistura do jarro e considerada perfeita, puseram-se
na mesa laranjas e maçãs e no lume uma pazada de castanhas. Então toda a
família Cratchit se reuniu em volta da lareira (...). Dois copos e uma chávena
almoçadeira sem uma asa.
Contudo, todos eles tiravam o
conteúdo do jarro como se usassem taças de ouro e Bob servia-o com olhares
brilhantes, enquanto as castanhas estalavam barulhentamente e saltavam no fogo.
Então Bob propôs:
-
Um feliz Natal para todos nós, meus
queridos, Deus vos abençoe!
“Toca esses sinos, doce
Martha
Pelo filho do homem pobre.
Toca esses sinos para que o mundo saiba
que Deus é Um.”
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