domingo, 25 de dezembro de 2011

O Natal do Sr. Scrooge

Nasceu em Porton, Inglaterra, em 1812, e morreu em Londres em 1870. O rapaz de que falamos sonhava ser escritor, mas tudo parecia conspirar contra o seu desejo. Seu pai foi preso por não poder saldar as dívidas, e ele teve que abandonar a escola, que apenas frequentou quatro anos. Experimentando, por vezes, as agruras da fome, conseguiu, finalmente, empregar-se num armazém onde colava rótulos em frascos de graxa, comungando a comida com os roedores que infestavam o lugar. Em atmosfera quase irrespirável, dormia com outros companheiros nas águas-furtadas de um cortiço londrino. Após dezenas de contos lhe serem recusados, para que ninguém se risse dele, uma noite, às escondidas, mandou pelo correio um manuscrito anónimo à revista “ The Monthly Magazine “. Este, finalmente aceite, foi elogiado pelo editor e aquele rapaz que tão tenazmente tinha lutado contra a adversidade, vagueou pelas ruas londrinas, deixando correr lágrimas de felicidade.
A aceitação e publicação deste conto, haveria de mudar para sempre a sua vida, e alentou Charles Dickens a mandar mais material escrito que de futuro apareceria sob o título “ Sketches by Boz “.
Em 1836 publicou os “ Arquivos Póstumos do Pickwick Club”, o seu primeiro romance. A partir de 1858, com uma audiência composta por amigos e artistas, fazia leituras dos seus textos. Em 1859 publicou um dos seus melhores romances – “ História de Duas Cidades “. Dickens foi, também, autor de obras notáveis que retrataram a Inglaterra vitoriana: “ Oliver Twist, “ David Copperfield “ e “ Contos de Natal “.
“ O Natal do senhor Scrooge “, sem dúvida o mais conhecido, influenciou o renascer da tradição, cada vez menos festejada. A descrição que Dickens faz do Natal, é a da sua verdadeira essência: tempo de paz, de caridade e de bondade para com os outros.
É o próprio Dickens que paga o custo da edição e estabelece o preço em cinco xelins, para que, deste modo, fosse acessível a todos. O livro foi publicado na semana anterior ao Natal de 1843, tornando-se num êxito imediato. No livro, destaca-se o contraste de uma infância infeliz com uma sociedade avarenta, através da história de um agiota sovina, ao qual três espíritos mostram o seu passado, o seu presente e o futuro que o espera se não mudar de atitude.
   É dele que retiramos este trecho:
-         Aqui está a Marta, mãe – gritaram os dois Cratchits mais pequenos. – Viva ! Marta, temos cá um destes gansos ! ( ... )
-         Bom, não importa, o que interessa é que vieste – disse a senhora Cratchit. – Senta-te aqui em frente do lume, aquece-te que Deus te abençoe! ( ... )
( ... ) o pequeno Tim, escoltado pelo irmão e pela irmã, dirigindo-se ao seu banquinho junto da lareira, enquanto Bob, arregaçando os punhos – pobre diabo, como se fossem susceptíveis de se gastar mais -, preparava num jarro uma mistura quente com gim e limão, mexia e remexia e punha-a na chapa do fogão para ferver a fogo lento. O menino Peter e os dois irmãos, com o dom da ubiquidade , foram buscar o ganso e em breve regressaram com ele em procissão. ( ... ) A senhora Cratchit fazia o molho ( pronto antecipadamente, numa pequena caçarola ) chiar de quente; o menino Peter esmagava as batatas com um incrível vigor, a menina Belinda adoçava o molho de maçã, Marta limpava os pratos quentes, Bob levou o pequeno Tim para o pé dele, a um cantinho da mesa, os dois pequenos Cratchits puseram as cadeiras para todos (... ).Por fim os pratos foram postos e foram dadas graças. Sucedeu-se um silêncio em que nem se respirava, quando a senhora Cratchit, olhando lentamente ao longo da faca de trinchar, se preparou para a espetar no peito; mas quando assim fez e quando brotou o jorro de recheio, ergueu-se um murmúrio de prazer em volta da mesa, ( ... ) . Aumentado com o molho de maçã e com o puré de batata, era um jantar suficiente para toda a família, ( ... ). Agora, e enquanto os pratos eram mudados pela menina Belinda, a senhora Cratchit saiu da sala sozinha - demasiado nervosa para suportar testemunhas - , para desenformar e trazer o pudim. (... ) . Eia! Muito vapor! O pudim saira da caldeira. Cheirava como em dia de barrela! Era do pano! ( ... ). Todos tiveram algo a dizer sobre ele, mas niguém disse ou pensou que fosse um pudim pequeno para tão grande família. (... ) . Por fim o jantar estava acabado, a toalha foi limpa, a lareira varrida e o lume aceso. Foi provada a mistura do jarro e considerada perfeita, puseram-se na mesa laranjas e maçãs e no lume uma pazada de castanhas. Então toda a família Cratchit se reuniu em volta da lareira (...). Dois copos e uma chávena almoçadeira sem uma asa.
Contudo, todos eles tiravam o conteúdo do jarro como se usassem taças de ouro e Bob servia-o com olhares brilhantes, enquanto as castanhas estalavam barulhentamente e saltavam no fogo. Então Bob propôs:
-         Um feliz Natal para todos nós, meus queridos, Deus vos abençoe!
 Porque o lugar de Deus e do “ filho do homem pobre” é junto um do outro, terminamos este belo fragmento com os versos admiráveis daquela extraordinária canção do já lendário Bob Dylan:

 Toca esses sinos, doce Martha
Pelo filho do homem pobre.
Toca esses sinos para que o mundo saiba
que Deus é Um.”
Armando Palavras

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