quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O Cometa de Giotto e a estrela de Belém

Enrico Scrovegni, homem de negócios em Pádua (Itália), mandou construir em 1303, a Capela de Arena. Procurava, deste modo, expiar os pecados de seu pai, prestamista de nomeada, “condenado” ao sétimo círculo do Inferno, pelo poeta Dante.
A capela está toda ornada com frescos de Giooto di Bondone, pintor italiano, cuja vida se tornou, à época, lendária. Os frescos espelham cenas da vida de Cristo e sua mãe, a virgem Maria. Um desses frescos, A Adoração dos Magos, saltou para os píncaros da fama, pela natureza especial da sua estrela de Natal .
O corpo celeste que paira por cima do estábulo, parece que não apresenta as características iconográficas de uma estrela tradicional pontiaguda, com os raios a convergirem na direcção do Menino, mas sim as de um cometa, com a cauda apontada para cima, para o céu nocturno.
A historiadora de Arte, Roberta Olson está convencida que a representação de Giotto se refere ao cometa Halley; e Guy Otewell e Fred Schaff, autores de Mankind’s Comet, concordam.
Sabe-se que Halley apareceu nos céus italianos em 1301 e Giotto terminou o fresco em 1302. Se compararmos a representação de Giotto com fotografias de Halley na sua passagem em 1910, são muito semelhantes. Além do mais, a representação iconográfica não é de todo invulgar. Estes corpos celestes foram sempre associados a acontecimentos invulgares: nascimentos de reis e inícios de dinastias . Alguns dos principais teólogos do cristianismo primitivo assumiram que um cometa havia assinalado o nascimento de Cristo .
A hipótese de que a história da Estrela de Belém se baseia na aparição de Halley no ano 66 d.C. foi sustentada por William Phipps, professor de Religião e Filosofia, mas foi levantada, pela primeira vez, por R.M.Junkins no Journal of the British Astronomical Association. Contudo, em 2004, reviu essa posição no mesmo periódico, levantando objecções às suas conclusões anteriores.
O que temos como verdadeira certeza é que em 1985 a Agência Espacial Europeia lançou para o espaço uma sonda chamada Giotto, a qual viria a registar as primeiras fotografias do núcleo do cometa Halley.
Nós, porém, temos outra teoria. A sua argumentação ficará para outra altura.
Armando Palavras

Livros a consultar: Entre outros, Halley o Cometa da República, Circulo de Leitores, 2010 (Joaquim Fernandes)


Post-scriptum

Existem, contudo, várias teorias para explicar a Estrela de Belém. Além da do cometa, segundo uns seria uma estrela nova, ou super nova. Hipótese que parece impor-se com maior naturalidade, uma vez que o próprio Evangelho a sugere ao chamar estrela (astér) àquele fenómeno. Segundo os astrónomos, certas estrelas em determinados momentos das suas vidas adquirem uma intensidade tal, que chegam a multiplicar 100.000 vezes a sua própria luz. Este acidente no decurso da evolução de uma estrela, e que dura apenas uns meses, tem características tão espectaculares que parece o nascimento de uma nova estrela. Daí o seu nome. Embora este facto apenas tenha sido apenas demonstrado com a astronomia moderna, já Hiparco de Rodes no séc. II a.C. conta ter detectado uma super nova cerca do ano 134, de tal brilho que podia ver-se à luz do dia.
Segundo outros, não foi uma estrela que guiou os magos até Belém, mas dois planetas que, ao aproximarem-se, multiplicaram a sua luminosidade. A chamada conjugação tripla. Uma conjunção tripla é um fenómeno raro, que ocorre devido ao movimento retrógrado aparente de um dos dois planetas, que faz com que eles se cruzem no céu três vezes durante um período de poucos meses. Esta ideia foi sugerida pelo astrónomo alemão Johannes Kepler (1571-1630). De facto, observando os céus em Dezembro de 1603, contemplou atónito como entravam em conjunção Júpiter (o planeta real) e Saturno (a estrela dos gigantes) na constelação de Piscis (o signo da água, ligado ao rito cristão do baptismo). Esta conjunção, que volta a produzir-se cada 805 anos, ter-se-ia verificado no ano 7 a.C., mais exactamente a 29 de Maio.
Em geral não é possível observar uma conjunção de planetas à vista desarmada. Contudo, a do ano 7 a.C. foi visível, e no céu da Palestina os dois astros teriam aparecido como um só muito luminoso, insólito para a visão humana. Por este motivo, teria sido considerado como um sinal especial da divindade, sobretudo tendo em conta que se repetiu duas outras vezes naquele ano, em Outubro e em Dezembro.
E como hoje sabemos que Jesus não nasceu no ano I, como antes se julgava, mas cerca do ano 7 a.C., este fenómeno celeste coincidiria perfeitamente com a data mais provável do nascimento do Salvador. Tal facto faz com que esta hipótese seja a mais aceite entre os que interpretam literalmente o relato.





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