Massacre na Nigéria a cristãos |
A
Federação da Nigéria data de 1914. O Norte foi gerido pelo Britânicos de acordo
com a indirect rule, e o Sul,
cristianizado, era mais escolarizado, onde se formaram elites numerosas. As
clivagens regionais, religiosas e étnicas permaneceram. Este gigante africano
acede à independência em 1960. Porém, o país é rapidamente rasgado por vários
conflitos. O mais violento foi a guerra do Biafra (1967-70), que opunha os Ibo
(apoiados pela França, Israel e Portugal) à federação (apoiada pela
Grã-Bretanha e a antiga URSS). O número de mortos desse conflito calcula-se em
mais de um milhão. Desde essa altura tem-se observado uma alternância de
regimes civis e militares, de Chefes de Estado muçulmanos e cristãos.
Atlas das Relações internacionais, Plátano, , 2009 |
Com
924.000Km2, para os actuais 160 milhões de habitantes (290 milhões previstos
para 2050), o Estado federal da Nigéria continua a ser um “gigante com pés de
barro”, pois combina fortes desigualdades de rendimentos com recursos
petrolíferos importantes (3% do total mundial), mas mal geridos. No delta do
Níger, o roubo de barris de petróleo está calculado em 100.000 barris diários.
A sua instabilidade económica e o seu potencial de potência regional foram reduzidos
pela constante instabilidade politica. As linhas de fractura são de três
ordens: confessional, regional e histórica. O mosaico étnico está distribuído
por três grandes grupos: Haussa e Peul muçulmanos a norte (33%), Irouba a
sudoeste (31%) e Ibo cristianizados a leste (12%). O exército que ocupa o poder
por intermitência, participando na distribuição do rendimento petrolífero,
desempenha um papel central. Os movimentos islâmicos são plurais, sufisma das
confrarias tradicionais, movimentos de tipo salafista e movimento mahdistas.
Acontece
que, no passado dia 25 (dia de Natal), duas igrejas cristãs foram incendiadas e
os seus fies (cerca de 35, diz a comunicação social sem vergonha alguma) foram
queimados vivos, como é visível em imagem que nos chegou através de mão amiga
onde se observa que ultrapassa, em muito, o número avançado pela comunicação
social[1]. Acompanhada
de legenda: “Merece a atenção e
divulgação de todo aquele que professa a fé em Jesus Cristo !!! Um
verdadeiro absurdo! Triste demais, mas a pura realidade! “.
Na
verdade, é a repetição de Pompeia e Herculano. Só que desta vez não foi a
Natureza, foi o próprio Homem.
Armando Palavras
Alguma
bibliografia para consulta:
ALMEIDA,
Eugénio Costa, África, Trajectos Políticos, religiosos e Culturais, Autonomia
27, 2004
BONIFACE,
Pascal; VÉDRINE, Hubert, Atlas das Crises e dos Conflitos, Plátano Ed. 2010
BUTCHER,
Tim, Á Caça do Diabo, Bertrand, 2011
BUTCHER,
Tim, Rio de Sangue, Bertrand, 2009
CORREIA,
Amílcar, A Balada do Níger, Civilização, 2007
SINGER,
Peter, Crianças em Armas, Pedra da Lua, 2008
BEAH,
Ishmael, Uma Longa Caminhada, Casa das Letras, 2007 (relato pessoal)
[1] Em
África estes crimes são comuns após a época das independências. Na África
Central além da Nigéria, temos casos como os da Serra Leoa e Libéria. O caso do
Ruanda, do Congo (a que já dedicamos artigo neste blogue), Somália, Eritreia,
Sudão, Drafur, Zimbabué, etc., etc.
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