quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Crianças soldado fruto da corrupção governamental


No suplemento “Reportagem” do jornal i (25/06/2010), vem descrita uma grande reportagem do The New York Times de autoria de Jeffrey Gettleman, sobre a questão das crianças soldado em Mogadíscio (Somália). São usadas como “carne para canhão”, por ambos os lados dos beligerantes: Movimentos rebeldes e Governo.
Em todo o mundo onde existem conflitos, lá estão elas. Mas África distingue-se dos outros continentes. Sobretudo porque se alistam nos exércitos por causa da fome. E estes aproveitam-nas para o tráfico das suas riquezas, sobretudo de diamantes. Já conhecidos por “Diamantes de Sangue”. O tema já foi tratado no cinema, precisamente intitulado dessa forma: Diamantes de Sangue (Blood Diamond, titulo original). Do realizador Edward Zwick, com actores como Leonardo DiCaprio, Djimon Hounsou e Jennifer Connelly. Passado na Serra Leoa, anos 90. Altura em que o país se desintegra num banho de sangue.
Peter Singer, descreveu-as em todo o mundo, onde existem conflitos, num livro memorável: Crianças em Armas (pedra da Lua, 2009); Jorge Araújo descreve a história do Comandante Hussí (Clube de Autores, 2011), também ele um menino soldado; Ishmael Beah, narra a sua história pessoal na Serra Leoa (Uma Longa Caminhada, Casa das Letras, 2007); José Eduardo Agualusa, na sua Estação das Chuvas (Dom Quixote, 1997), refere-as nas batalhas de Catengue e Quifangondo, em 1974, travadas pelo MPLA contra o FNLA e sul-africanos. E A. Passos Coelho em Angola , Amor Impossivel, aos Pioneiros do MPLA.
Ainda não passou tempo suficiente e as marcas do colonialismo continuam a prejudicar o “continente negro”. Mas, neste momento, são mais prejudiciais a África os seus governantes (na sua grande maioria corruptos) que a marca colonial. Desde a época das descolonizações, sobretudo focada nos anos 60 do século passado (a este respeito pode consultar-se África de Eugénio Costa Almeida – 2004, ou Meio Século de Independências Africanas, Janus 2010, UAL) que em cerca de 156 presidentes africanos, apenas seis deixaram o cargo livremente, dando lugar às novas gerações. Um deles foi Joaquim Chissano de Moçambique.
Os exemplos de corruptos são imensos. Frederik Chiluba, antigo presidente da Zâmbia, tinha uma conta bancária secreta de uma agência de informação em Londres, com o objectivo de roubar dinheiro do governo. Ao que parece, só dessa conta subtraiu cerca de 40,5 milhões de euros. Para se não falar de extravagâncias do tipo de possuir cerca de 100 pares de sapatos, muitos deles com as iniciais de Chiluba em bronze (Jornal i, 3/07/09). O caso de Robert Mugabe do Zimbabwe é conhecido de todos. Também já foi retratado em filme, onde Nicole Kidman, assumia o papel principal. No jornal Público (23/06/2010) relata-se que os diamantes do Zimbabwe, onde recentemente foi encontrado um grande campo, “poderão servir para financiar a continuação dos 30 anos de poder do Presidente Robert Mugabe”. Que ainda por cima não tem cumprido os requisitos mínimos do Processo Kimberley, criado pela ONU em 2001 para acabar com o comércio dos chamados diamantes de sangue que financiaram conflitos no Congo, Serra Leoa ou em Angola. Teodoro Obiang, ditador africano que lidera a Guiné Equatorial desde o golpe de 1979 que depôs e eliminou fisicamente o seu tio, Macias Nguema. Se este manteve um regime de terror, aquele tem mantido uma cleptocracia, onde 77% da população continua a viver abaixo do limiar da pobreza apesar deste país ser o terceiro maior produtor de petróleo da África subsariana (Público, 10/07/2010). E na Mauritânia Ahmed Taya manteve-se no poder durante 21 anos, sendo deposto em 2005 por golpe militar (Amílcar Correia, A Balada do Níger, civilização, 2007).
Armando Palavras


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