Sófocles - 496-406 A.C. |
“Antígona, uma das filhas de Édipo, rei de Tebas, e de Jocasta, mãe de Édipo. Enterrou durante a noite Polinices, contrariando as ordens expressas de Creonte, que, ao ter essa notícia, ordenou que ela fosse enterrada viva. Antígona, contudo, suicidou-se antes que a sentença fosse executada; e Hémon, o filho do rei, que a amava apaixonadamente, e não conseguira fazê-la perdoar, suicidou-se igualmente no túmulo de Antígona. A morte de Antígona é o tema de uma das tragédias de Sófocles[1]. Os Atenienses apreciaram-na de tal maneira que, por altura da sua primeira representação, ofereceram ao autor o governo de Samos. A tragédia foi representada em Atenas 32 vezes consecutivamente[2]. Assim reza a Bibliotheca Clássica or A Classical Dictionary, por J. Lemprière, DD – 3ª ed., Londres, 1797.
Ed. Fundação Calouste Gulbenkian (1998). Reeditada em 2007. |
Polinices era seu irmão e Creonte seu tio. Hémon era o seu prometido. Esta tragédia relaciona-se com o mito de Édipo que mata o próprio pai e casa depois com a mãe sem saber. É o destino trágico do futuro rei sábio de Tebas e da sua descendência. Jocasta acabou por se suicidar e Édipo, depois de arrancar os olhos, partiu para o desterro com sua filha Antígona, que o acompanhou até à sua morte em Colono.
Esta obra (assim como outras de Euripedes -As Bacantes-, Esquilo – Oresteia - ou Homero - Ilíada e Odisseia) viria influenciar todo o mundo Ocidental. A tal ponto que foi tema de discussão entre os maiores Europeus durante um século como é lembrado por George Steiner em Antígonas (2008). A discussão começou em Hegel. Nas suas lições sobre estética (1820-29), fala da peça como de “uma das mais sublimes e, sob todos os aspectos, mais consumadas obras de arte criadas pelo esforço humano”.
Friedrich Hebbel descrevia a tragédia de Sófocles como “a obra-prima das obras-primas, com a qual nada de antigo ou novo se pode comparar”. Thomas de Quincey, na sua nota crítica sobre a Antígona representada no Teatro de Edimburgo (1846), afirma que nenhuma outra tragédia grega “atinge uma tão comovente grandeza”.
A morte de Antígona |
Na verdade, a imaginação romântica e idealista alcandorou Sófocles ao primeiro lugar entre os trágicos gregos. Friedrich Schlegel nos seus fragmentos (1795) dizia: “Os maiores poetas gregos são um coro harmonioso, S é quem dirige o coro…”, no sentido de que Sófocles era perfeito, completo. A.W. Schlegel nas suas lições sobre a história da literatura clássica (1796-1803) caracteriza Sófocles o mais destacado entre os seus pares. Dizia que Sófocles era um poeta “do qual é quase impossível falar a não ser em termos de adoração”. Schelling nas suas lições sobre A Filosofia da Arte (1802-5) informa que o poeta grego (por grande que seja o génio de Shakespeare) continua a ser “o verdadeiro cume da arte dramática”.
Ernest Renan referia-se ao milagre grego como “um tipo de eterna beleza…”, Descartes, Kant e Heidegger subscrevem a afirmação de Shelley: “somos todos gregos”. E Goethe, em observação dirigida a F. von Muller (30 de Agosto de 1827), sobre a forma de enfrentar os desafios do mundo contemporâneo, afirmava que um homem deve cuidar da rectaguarda “e apoiar-se, portanto, nos Gregos”.
Schelling, em 1795, na sua Décima Carta afirma que a tragédia grega “honra a liberdade humana porquanto consente que os seus heróis combatam contra o poder desmedidamente superior do destino”.
No fundo, nela se evidencia a diferenciação de caracteres, a discussão de grandes temas éticos e políticos, onde se demonstra ainda a fragilidade e insegurança do ser humano.
Antígona é um texto intemporal. O que mais nos fascina neste texto grego é a questão da justiça. Para Antígona chegou tarde[3].
Armando Palavras
[1] Com o desaparecimento da Biblioteca de Alexandria, das 123 peças de teatro de Sófocles, só sobreviveram 7.
[2] Outra peça, mas de Ésquilo, atingiu igualmente a glória: Oresteia. Os cidadãos de Atenas seleccionavam todos os anos uma nova peça para ser apresentada a expensas da cidade. Apenas durante esse ano. A Oresteia foi a única peça que a cidade pagou para ver representada ano após ano.
[3] Assim como para o Santo Soldado, recordado por Elísio Neves, num dos seus trabalhos publicados em História ao Café (Vila Real, 2008), publicação por ele dirigida em parceria com A. M. Pires Cabral.
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