José Malhoa, O Fado (1910), Museu da Cidade, Lisboa |
O Fado é uma das mais carismáticas e célebres obras de José Malhoa.
Foi pintada em 1910 e hoje encontra-se exposta no Museu da Cidade, em Lisboa. Malhoa
retratou o Portugal do seu tempo, quer burguês e citadino, quer popular e
campónio, numa análise romântica. O Fado
tornou-se um verdadeiro ícone não só da cidade de Lisboa mas também de uma
pretensa “alma nacional”.
O cenário deste quadro mostra-nos
um interior modesto, pobre, típico do quotidiano popular de Lisboa no início do
século XX. Uma atmosfera íntima entre os personagens, talvez num quarto barato
de bordel, ou a sala suja e gordurosa de uma taberna de bairro. O guitarrista de
cabeça levantada, coberta por um chapéu, dirige o olhar para fora da tela. O
vinho está presente. E o desarranjo da indumentária da mulher em pose
desleixada, de perna estendida, assente sobre o banco, cigarro pendente entre
os dedos da mão direita, cabeça apoiada na outra, olhando o fadista, são o
pronúncio de uma certa decadência de costumes. A sua postura lânguida e
sensual, iluminada pela janela que se pressente à sua frente e que o espelho do
toucador no canto superior esquerdo reflecte, bem como a cor vermelha da saia,
domina o aspecto visual da composição.
Malhoa usou como modelos duas
figuras típicas das noites alfacinhas da Mouraria: O fadista Amâncio[1] da
Rua do Capelão e a Adelaide da Facada, assim conhecida por possuir uma cicatriz
no lado esquerdo da face. A que esconde na tela.
Malhoa jamais pensou que um
século depois, o fado se tornaria uma canção do mundo, reconhecido como tal pela
UNESCO – Património Imaterial da Humanidade.
Armando Palavras
[1] Personagem endiabrada e
várias vezes a contas com a polícia.
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