Virgilio Gomes |
Tenho
assistido com alguma preocupação ao abandono da chamada doçaria regional e
popular. Eu entendo que a doçaria conventual é mais rica e mais sofisticada.
Mas esta só existe porque já havia uma tradição doceira popular, e que com o
aparecimento do açúcar em abundância a partir do século XVI, foi mais fácil
aperfeiçoar. Há locais onde recomeçam a apresentar a doçaria popular, em
pastelarias, durante todo o ano e não só durante as romarias que alegram este
País.
Hoje
vou escrever sobre uns bolinhos que se vendiam nas feiras e nas romarias. Ainda
se chamam “Económicos” e não têm nada a ver com a crise que atravessamos.
Atualmente, em Bragança, é comum encontrá-los nas pastelarias e continuo a ter
bons amigos que me fazem presentes deles. A minha irmã Conceição quis ter a
gentileza de copiar o caderno de receitas da nossa Mãe, e oferecer aos irmãos,
e lá encontrei a receita. Alguns autores já se têm debruçado sobre este antigo
hábito de cadernos de receitas caseiras e de família. O seu conteúdo é curioso,
e a forma como está redigido varia de receita para receita. Parece-me que as
receitas de maior prática são as que têm menos detalhes e por vezes apenas os
ingredientes e estes nem sempre quantificados. Deixemos o caderno para outra
ocasião e vamos então à receita.
Para
meio quilo de açúcar são necessários seis ovos. Ainda meio litro de leite, um
cálice de aguardente, uma chávena de café de azeite, uma colher de chá de
bicarbonato ou fermento em pó, e farinha “a que precisar”. Textualmente como
está na receita. Mas eu desvendo já quanta farinha vai precisar. Sempre mais do
que açúcar. Vamos então começar com a mesma quantidade de açúcar e farinha que
se colocam num alguidar. Juntam-se os ovos inteiros e amassa-se bem. Depois
junta-se a aguardente, o leite, o azeite e o fermento. Continua-se a amassar
até sentir uma massa homogénea. E aqui vai o segredo, sem o ser. Vai-se
juntando farinha aos poucos até sentir que a massa está mais encorpada… é a
sensibilidade de quem está habituado a fazer (Há quem goste de juntar raspa de
casca de um limão). Prepara-se um tabuleiro de ir ao forno barrando com
manteiga e polvilha-se com farinha, e moldam-se pequenos bolos circulares (Há
quem goste de por um pouco de canela sobre os bolinhos). Vai a forno bem
quente.
Comer
estes bolinhos ainda mornos é uma delícia. Por vezes cortam-se a meio e
recheiam-se com geleia ou outro doce. Ou comem-se simples, e conservam-se bem
em caixas de folha.
Os
que recebo de presente separo primeiro os suficientes para dois ou três dias. O
restante congelo, embrulhados individualmente. Depois quando tenho apetite ou
saudades retiro do congelador, embrulho em guardanapo de papel e no micro-ondas
em vinte segundos ficam prontos. Desculpem a ousadia, melhor que “scones”!
António
Monteiro escreveu que estes económicos também são conhecidos por
"pobrezinhos", "matrafões", "desgovernados" ou
"bolos de romaria".
Em
força para a nossa doçaria popular.
Boas
Férias.
Publicado por:
©
Virgílio Nogueiro Gomes
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