António Borges Coelho |
De
quando em vez, rebuscamos livros (ou revistas) antigos da nossa colecção. É uma
mania criada em criança. Gostamos de revisitar certos temas. Muitas vezes da
chamada Literatura fantástica. Desta
vez não recuamos muito longe. E, por casualidade, apareceu-nos um tema da
chamada Literatura séria. Parámos no
ano de 2009. Numa revista do INATEL: Tempo
Livre. E relemos com agrado a entrevista do Professor António Borges
Coelho, um reputado medievalista, referência incontornável da Cultura
Portuguesa[1],
natural de Trás-os-Montes, concretamente da vila de Murça.
A
entrevista abarca essencialmente dois temas: os Árabes e a Inquisição.
Debrucemo-nos sobre a questão dos Árabes, ainda pouco estudada.
“A
História avança empurrada por todos nós …”, é uma das frases chave da
entrevista. Borges Coelho foi, talvez – ressalvando a honrosa excepção de
Alexandre Herculano[2] –, o primeiro historiador
português a debruçar-se com profundidade sobre o tema. Assim o demonstra o seu
estudo recentemente reeditado: Portugal
na Espanha Árabe.
A
reflexão impôs-se-lhe desde cedo: Porque razão estando tantos séculos como
cultura dominante na Península Ibérica, não tenham “ficado quaisquer vestígios
na História portuguesa …”?Revista do INATEL (Tempo Livre) |
Existe
a ideia, segundo ABC, de que a Reconquista Cristã, os muçulmanos da religião e
os moçárabes, desapareceram. Mas não. As marcas perduraram na cultura,
especialmente na língua, nas “técnicas agrícolas e artesanais até ao século
XX”.
Reedição do livro |
Cita
Ibne Asside, um filósofo e matemático Árabe, quase contemporâneo de Dom Afonso
Henriques, e o seu “ Livro dos Círculos”. Refere ainda o testamento do primeiro
rei português. E diz-nos que os Cristãos medievais “herdaram a estrutura das
cidades islâmicas”. Ironiza sobre Marsial, um dos grandes poetas latinos, que
se dizia “celtibero mas tinha carapinha…”. Isto para nos informar da
antiguidade da influência Árabe (principalmente berbere) e da falta de rigor de
um estudo de genética que, à época, tinha badalado as nossas raízes
celtibéricas. Segundo ABC, esse estudo tinha uma virtude. A de constatar que,
afinal, “havia berberes até no norte do País e em Trás-os-Montes”.
Destaca,
como na obra supra, três grandes poetas Árabes nascidos em território
português: Ibne Sara, um poeta extraordinário “de uma actualidade espantosa”,
nascido em Santarém; o Almutamide, que foi rei de Sevilha, “um poeta
espantoso”, e nasceu em Beja; Ibne Amar, nascido em Silves, poeta e
aventureiro.
Ao
defender a influência Árabe a norte do Douro[3], remata
com a figura extraordinária do conde moçárabe Sisnando[4], “subestimado
pela generalidade dos historiadores portugueses”.
Armando Palavras
[1] E, apesar de tudo, nada
bem tratado pela imprensa.
[2] E
mesmo actualmente apenas Oliveira Marques e José Mattoso lhe dão algum relevo.
[3] Que
foi muito contestada, apesar do estudo do investigador espanhol Zozaya, sobre a
palavra “quinto”.
[4] Em
Sevilha tornou-se ministro do rei Almutadide. Foi diplomata excepcional.
Fernando Magno deu-lhe todos os poderes da cidade de Coimbra, refunda todo o
território central até ao Douro. O seu legado foi decisivo para a ligação do
condado de Coimbra com o condado Portucalense.
Este livro é lindíssimo e a não perder para nos conhecermos!
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