sábado, 3 de setembro de 2011

As Raízes Árabes de António Borges Coelho



António Borges Coelho
De quando em vez, rebuscamos livros (ou revistas) antigos da nossa colecção. É uma mania criada em criança. Gostamos de revisitar certos temas. Muitas vezes da chamada Literatura fantástica. Desta vez não recuamos muito longe. E, por casualidade, apareceu-nos um tema da chamada Literatura séria. Parámos no ano de 2009. Numa revista do INATEL: Tempo Livre. E relemos com agrado a entrevista do Professor António Borges Coelho, um reputado medievalista, referência incontornável da Cultura Portuguesa[1], natural de Trás-os-Montes, concretamente da vila de Murça.
A entrevista abarca essencialmente dois temas: os Árabes e a Inquisição. Debrucemo-nos sobre a questão dos Árabes, ainda pouco estudada.
“A História avança empurrada por todos nós …”, é uma das frases chave da entrevista. Borges Coelho foi, talvez – ressalvando a honrosa excepção de Alexandre Herculano[2] –, o primeiro historiador português a debruçar-se com profundidade sobre o tema. Assim o demonstra o seu estudo recentemente reeditado: Portugal na Espanha Árabe.
A reflexão impôs-se-lhe desde cedo: Porque razão estando tantos séculos como cultura dominante na Península Ibérica, não tenham “ficado quaisquer vestígios na História portuguesa …”?
Revista do INATEL
(Tempo Livre)
Existe a ideia, segundo ABC, de que a Reconquista Cristã, os muçulmanos da religião e os moçárabes, desapareceram. Mas não. As marcas perduraram na cultura, especialmente na língua, nas “técnicas agrícolas e artesanais até ao século XX”.
Reedição do livro
Cita Ibne Asside, um filósofo e matemático Árabe, quase contemporâneo de Dom Afonso Henriques, e o seu “ Livro dos Círculos”. Refere ainda o testamento do primeiro rei português. E diz-nos que os Cristãos medievais “herdaram a estrutura das cidades islâmicas”. Ironiza sobre Marsial, um dos grandes poetas latinos, que se dizia “celtibero mas tinha carapinha…”. Isto para nos informar da antiguidade da influência Árabe (principalmente berbere) e da falta de rigor de um estudo de genética que, à época, tinha badalado as nossas raízes celtibéricas. Segundo ABC, esse estudo tinha uma virtude. A de constatar que, afinal, “havia berberes até no norte do País e em Trás-os-Montes”.
Destaca, como na obra supra, três grandes poetas Árabes nascidos em território português: Ibne Sara, um poeta extraordinário “de uma actualidade espantosa”, nascido em Santarém; o Almutamide, que foi rei de Sevilha, “um poeta espantoso”, e nasceu em Beja; Ibne Amar, nascido em Silves, poeta e aventureiro.
Ao defender a influência Árabe a norte do Douro[3], remata com a figura extraordinária do conde moçárabe Sisnando[4], “subestimado pela generalidade dos historiadores portugueses”.

Armando Palavras


[1] E, apesar de tudo, nada bem tratado pela imprensa.
[2] E mesmo actualmente apenas Oliveira Marques e José Mattoso lhe dão algum relevo.
[3] Que foi muito contestada, apesar do estudo do investigador espanhol Zozaya, sobre a palavra “quinto”.
[4] Em Sevilha tornou-se ministro do rei Almutadide. Foi diplomata excepcional. Fernando Magno deu-lhe todos os poderes da cidade de Coimbra, refunda todo o território central até ao Douro. O seu legado foi decisivo para a ligação do condado de Coimbra com o condado Portucalense.

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