Amadeu Ferreeira (Professor na Faculdade de Direito de Lisboa - Investigador) |
Oito notas para a apresentação da obra Trás-os-Montes e Alto Douro – Mosaico de Ciência e Cultura, a realizar em Lagoaça no dia 10 de Setembro de 2011 às 18:30
[estas notas foram depois, ligeiramente, desenvolvidas na intervenção oral feita em Lagoaça, mas condensam o que de essencial disse]
1. Começo por dar os parabéns à Comissão de Festas de Nossa Senhora das Graças por ter patrocinado a edição desta excelente obra. Esta é uma bonita maneira de festejar.
2. Cumprimento as pessoas da Mesa (Hirondino Isaías, Fernando Castro Branco, Modesto Navarro, Senhor presidente da Câmara e Senhor presidente da Junta de Freguesia).
3. É uma honra estar aqui, em Lagoaça, entre os convidados para apresentar esta obra. Obrigado por me trazerem até à vossa terra.
4. Estou aqui vindo de uma outra festa: hoje o meu pai fez noventa anos!
Fazer anos e festejar os anos é festejar a vida. Simultaneamente, é esse um acto de resistência, de vitória, pois é uma forma de dizer, chegamos aqui!
Também Lagoaça comemora este ano a atribuição do seu foral, pelo rei D. Dinis, em 1286. Lagoaça, esse então vilar, situado em Terra de Miranda.
No elo que trouxe Lagoaça até aqui, ao longo de muitas centenas de anos, quanta gente, quanta luta... Gente de que a esmagadora maioria já nem sabemos do nome ou sequer da sua existência. Mas foi devido a esses lagoacenses anónimos que a vossa terra chegou aqui, resistindo sabe-se lá a que dificuldades! Por isso, esta comemoração é um festejar da vida, e continua a ser um acto de resistência e de fé no futuro.
5. No texto do foral, D. Dinis convoca outras terras, assinala as confrontações de Lagoaça e a sua pertença, os seus vizinhos e o foral de Mogadouro pelo qual se vai passar também a reger. E esse convocar é muito importante, pois são os vizinhos que connosco vivem, funcionando como nossa referência.
Também nesta antologia se convoca muita gente através dos seus textos, gente da terra e das terras à volta, os vizinhos transmontanos que são convidados para a festa. Por isso, esta colectânea é um feito nobre de prova de vitalidade, com todos os vizinhos a atestarem tal, a servirem de testemunhas.
Lagoaça, parabéns! Viva por muitos anos quem assim celebra a vida.
6. Lagoaça mudou, mas continua a ser a mesma e este livro é também uma afirmação da terra a que pertence, da gente que é a sua. Há centenas de anos, esta era uma terra de fala leonesa, não se falava aqui o português em 1286, mas sim o leonês, língua da maior parte do território e da corte do Reino de Leão.
É um orgulho muito grande para mim ter podido escrever nesta colectânea em mirandês, a língua continuadora do leonês na terra portuguesa.
Hoje fala-se em Lagoaça o português, mas ninguém ignora que esta língua tem aqui uma cor muito própria – em parte já o deixou bem claro Victor Barros e, antes dele, Augusto Moreno. Essa cor é-lhe dada pelos leonesismos que continuam a subsistir a todos os níveis (fonético, morfológico, sintáctico, vocabular), sendo com as terras de alma leonesa que a alma da língua de Lagoaça se aproxima e com quem tem familiaridade. Também isto é história, e da mais profunda, e não convém esquecê-lo.
7. Quero aqui prestar a minha homenagem ao doutor Armando Palavras, alma deste trabalho, pois que integralmente o concebeu e organizou, por ele me ter convidado a escrever em mirandês. Esse não é, ainda, um convite muito usual. Bem hajas Armando!
Parabéns a António Neto por ter tornado possível esta obra.
8. Daqui em diante, quando nos interrogarmos sobre quem somos, como transmontanos, e o nosso pensamento voar em busca de referências, este Trás-os-Montes e Alto Douro – Mosaico de Ciência e Cultura será uma dessas referências, passará de aqui em diante a ser uma delas. E esse, acreditem, não é feito pequeno. Parabéns e, mais uma vez, muito obrigado!
Amadeu Ferreira
Lagoaça, 10 de Setembro de 2011
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