Nasceu algures no século VII a.C.,
provavelmente entre 630 e 610, na ilha grega de Lesbos (cidade de Mitilene), no
mar Egeu, junto do território turco, provavelmente oriunda de uma família
aristocrata. Tinha, pelo menos, dois irmãos: Larico e Caraxo.
Charles-Auguste Mengin (n. 1853) |
Diz-se que era baixa e morena.
Alceu, um poeta seu amigo, descreveu-a de forma sublime: “ de cabelo violeta e
sorriso puro de mel”. A tradição informa que se casou com um homem rico –
Cercilas. De quem teve uma filha chamada Cleis.
Safo é uma mulher rodeada de
lendas. Uma delas conta que pôs termo à vida atirando-se do Rochedo Leucádio,
por amor a um jovem marinheiro chamado Faon.
O que se sabe é que tinha uma
grande influência nas mulheres jovens que a rodeavam. Era líder de uma
comunidade feminina, Thiasos, que
tinha como objectivo último desenvolver o conhecimento religioso e competências
sociais. O mistério das suas relações apaixonadas com mulheres jovens, está na
origem de numerosas lendas que deram corpo a numerosas obras de arte. O que é
certo é que, embora da sua obra tenham apenas sobrevivido fragmentos, Safo foi
idolatrada pelos poetas gregos e romanos. Muitas vezes imitada nos séculos que
se seguiram à sua morte.
Afrodite, a deusa grega do amor,
foi a sua guia. A ela dedicou grande parte da sua poesia. O homoerotismo era,
por isso, uma parte da iniciação e vinculação à Thiasos. Juntamente com a paixão que transborda na sua poesia, fez
de Safo um símbolo da homossexualidade feminina[1] ao
longo dos tempos.
Da sua obra enorme, pouco
sobreviveu. Afastando-se da tradição épica masculina, desenvolveu um estilo
lírico, intimo. Os seus poemas escritos em eólico[2],
destinavam-se a ser cantados[3] e
acompanhados por um instrumento. Escreveu poemas eróticos às suas amigas e
acerca delas, mas explorou diversos aspectos do amor, tanto no feminino como no
masculino, onde sentimentos de ódio, ciúme, paixão e até luxúria estão
presentes:
Fragmentos de Safo descobertos em Oxirrinco |
A minha carne arde de fogo suave,
Os meus olhos perdem a vista,
Os meus ouvidos apenas ouvem o rugir do vento.
Tudo está negro.
O suor corre dentro de mim,
Os tremores apoderam-se de mim,
A cor desaparece de mim como relva no Outono.
Quase morro.[4]
Durante séculos, a sua reputação
sofreu às mãos daqueles que achavam o seu conceito de feminilidade e erotismo
expresso, perigoso. Contudo, o que sobreviveu da sua obra, apenas nos permite
um mero vislumbre do seu génio.
Armando Palavras
[1] Amor
sáfico ou lésbico. Aliás, o termo “lésbica” tem aqui a sua origem: da ilha de
Lesbos associada à provável homossexualidade de Safo.
[2] Dialecto nativo.
[3] Normalmente por mais de
uma voz.
[4] Transcritos de MONTEFIORE,
Simon Sebag, 101 Heróis, Guerra e
Paz, Lisboa, 2008.
[5] Catulo viveu cinco séculos
depois da morte de Safo.
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