sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Velhos e abandonados

 

JORGE  LAGE


Velhos e abandonados – Os distritos de Trás-os-Montes e do Alto Douro tinham, há dois ou três anos atrás, cerca de 8.000 velhos/as a viver isolados e, a maioria, abandonados. Porém, ao mesmo tempo, em Mirandela promovia-se a adopção de cães. Os cães e gatos passaram a ser mais importantes que os nossos velhos, apesar de os gatos serem os maiores exterminadores das espécies à face da Terra. Eu vejo os gatos como dos maiores assassinos das espécies e não os quero por perto e à solta. Ver pintassilgos, rolas, ferreiros e outros pássaros mortos junto a minha casa deixam-me de coração despedaçado. Mas, a situação de abandono a que chegaram os velhos fez soar as sirenes da vergonha e criou-se o «Plano de Acção de Envelhecimento Activo e Saudável» (PAEAS), que tenta chegar aos velhos. Hoje vive-se, em média, em Portugal, cerca de 81 anos. O PAEAS procura implementar rastreios das doenças precoces: oncologia/cancro, cardiovascular/coração, saúde mental e demências. As câmaras e as juntas devem fazer a ligação com os velhos devido à proximidade. Muitas autarquias só se lembram das pessoas (e muito mais dos velhos) em período eleitoral. Por isso, quando o bispo de Bragança e Miranda, Dom Nuno Almeida, tomou posse o alertei para que fossem criados grupos de voluntários/as, nas paróquias e arciprestados da diocese, para visitarem, mensalmente, os velhos abandonados pelas cidades, vilas, aldeias e lugarejos. Estes grupos de voluntários, identificados e credenciados, teriam como fim último levar uma palavra amiga de esperança e de ajuda. Este trabalho poderia passar a ser feito com conhecimento da GNR e da Segurança Social. Até se podiam chamar «Samaritanos Nordestinos», à semelhança do «Bom Samaritano» dos Evangelhos. O que observo em certas aldeias é olhar-se para os velhos (a palavra idosos foi criada para mascarar os maus-tratos e abandono a que são votados; eu sou velho e ai de quem não chega a velho) como objectos que nada valem, quando são bibliotecas vivas de saberes e práticas. Depois, quando alguém de meia-idade abandona ou trata mal um velho está a dizer aos mais novos como eles devem ser cuidados na velhice. A velhice chega num ápice. Quando se nasce começa-se a envelhecer. Como dizia o poeta, João de Deus, «a vida é um ai que mal soa». Abramos os flancos da solidariedade e da bondade aos velhos com quem nos cruzamos e aos que vivem na vizinhança. As pessoas na velhice não se devem isolar ou refugiar em casa, com vergonha da velhice. Um velho com limitações, auxiliado por canadianas/moletas ou andarilho e vem para a rua fazer uma curta caminhada deve merecer o nosso respeito e admiração. Não se deve ter vergonha de se andar em cadeira de rodas. Há três situações que os velhos devem paticar: o exercício físico/caminhadas, a leitura (livros, jornais e revistas) e manter contactos com a família e amigos. Deixo o ditado: «Se os velhos pudessem e os novos soubessem, não havia nada que não se fizesse».

 

Jorge Lage

Jorge.j.lage@gmail.com


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NTMAD - LISBOA- nº 177 - Agosto 2024

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