sexta-feira, 16 de agosto de 2024

O ciclo do cerejo


JORGE  LAGE



Na investigação sobre a castanha e o castanheiro, apercebi-me que os adágios são, na maioria, verdades absolutas. 

Por exemplo: «do cerejo ao castanho bem me amanho, mas do castanho ao cerejo, mal me vejo». Isto para dizer que a colheita dos frutos, em Portugal, começa com a cereja o período de abundância, e termina com a castanha. Mascarenhas é a «terra das cerejas», daí chamarmos aos seus habitantes de cerejeiros, por vezes depreciativo. As cerejas exerciam um fascínio sobre as crianças e jovens nos anos cinquenta e sessenta. 

Algumas, na feira dos três em Mirandela, vinham em raminhos ou pauzinhos de cerejas, como novidade, que eram a loucura das crianças e jovens. Ora bem, ao colher as mágicas cerejas deste ano dou comigo em cima duma cerejeira a sonhar e a deleitar-me e a pensar distribuir por amigos e vizinhos. Quando início a descida e tropeço num ramico, projecto-me para a frente com violência e a sangrar. Preferi pensar na felicidade das famílias a quem chegaram as cerejas. Mas, o bom senso recomenda sossego na velhice. (fotografia das minhas cerejas - Jorge Lage)

Jorge Lage – jorge.j.lage@gmail.com

Sem comentários:

Enviar um comentário

Os Kamov: incompetência ou corrupção