terça-feira, 6 de agosto de 2024

A ceira do azeite

JORGE  LAGE


E com um ramo de oliveira o homem se purifica totalmente. Esta frase de Vigílio (70 a.C. – 19 a. C.), grande poeta italiano, autor da famosa Eneida, mostra-nos a importância do azeite desde tempos muito antigos. Conhecido há mais de 6000 anos, abundantemente cultivado no chamado Crescente Fértil, serviu de protetor contra o frio, para o enfrentamento das batalhas e jogos, ocasiões em que as pessoas se untavam com ele. O também chamado “ouro líquido” foi e ainda hoje é utilizado para fins religiosos: símbolo da presença do Espírito Santo, está presente nos santos óleos usados nos rituais de batismo, do crisma e da extrema unção. Na Bíblia encontram-se várias referências à oliveira e ao azeite: a pomba que Noé soltou da sua arca, após o dilúvio, regressou trazendo no bico um ramo de oliveira, símbolo de paz e tranquilidade; Cristo, pouco antes da Sua morte, recolheu-se para orar no monte das oliveiras. Para além da sua utilização durante séculos nas diversas lamparinas e candeias, também foi usado no fabrico do sabão; mas a grande utilização está na nossa alimentação, cozinhado ou em cru. 

A peça de hoje é uma ceira antigamente usada para o fabrico do azeite nos respetivos lagares. Feito o trabalho da mó, o bagaço, pasta moída das azeitonas, era metido dentro desta peça. Suportada por dois homens que a elevavam pelas suas quatro pegadeiras, era colocada, com outras duas, na grande prensa constituída por um fuso de madeira onde se suspendia o enorme peso de pedra, tudo ligado à vara superior, feita de grosso, comprido e pesado tronco de carvalho. E o azeite lá ia escorrendo, escorrendo.

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Nota: Este texto foi escrito pela ASSOPS-Associação de Passos de Silgueiros 232952001, museudesilgueiros@gmail.com, «www.assops.pt». A foto da ceira ou capacho é do Museu Etnográfico de Silgueiros, com o nº., de inventário 1459. A alma deste imenso acervo é o Inspector do ensino, António Lopes Pires. Relembro que este Museu merece uma visita (fica a cerca de 10 quilómetros de Viseu), porque é um dos mais completos do país, nesta área temática. Hoje, o azeite está a projectar-se como um bem precioso e que vai ajudar o mundo rural a sobreviver.

1 comentário:

  1. E que linda ceira! e bem trabalhada... Pena que Jesus agora já não reza sentado nela, no Jardim das Oliveiras - reza pelo computador, de certeza. Aproveita a inteligência artificial e o smartfone, e pronto. Como nós; todos, todos, todos. Pena já não haver tradição ...Era lindo e misterioso rezar à luz da lamparina de azeite - até na minha casa era assim, quando recebíamos o oratório com a Sagrada Família...

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