sexta-feira, 31 de maio de 2024

Sobre o último livro de Armando Palavras


BARROSO da FONTE


A fim de metodizar, tanto quanto possível, a sucinta exposição, acerca daquilo que se me oferece dizer sobre os Artistas e Artífices do Século XVIII - Nas Periferias Transmontana, Beirã e Duriense - percorri, numa leitura de Basílio de Magalhães, inserida em Escola de Belas Artes - A Renascença e a sua floração Artística (Casa da Imprensa, Rio de Janeiro, 1917), uma espécie de síntese, um século antes. Aí se pode ler: «graças à transformação da sociedade, operada com o movimento das cruzadas e das comunas, graças ao progresso das cidades e à nova organização do trabalho, graças, principalmente, ao patriotismo municipal, que transformou a igreja em domicílio do povo, concentrando nela toda a actividade cívica, ou, em resumo, graças aos elementos políticos, sociais e religiosos, mentais e morais, que já então se aparelhavam, para julgar o regimen católico-feudal, - a arte das construções, ainda por muito tempo preponderante, sobre a pintura e a escultura, deixou de ser monopólio das igrejas e mosteiros, passando das mãos e do espírito dos clérigos regulares e seculares para as mãos e espírito dos leigos

Esta reflexão que Basílio de Magalhães registou há um século atrás e no âmbito de uma matéria tão evidente, serviu de preocupação ao investigador Armando Palavras que ele próprio a elegeu para clarificações científicas nos seus dois estudos académicos, entre 2001 e 2011.

No primeiro, chamou a atenção para a Actividade Construtora Setecentista em Penaguião. São dele as explicações científicas da sinopse mencionadas na contracapa:

Igreja da Lavandeira -
Carrazeda de Ansiães
«O presente volume inclui um conjunto de artistas e artífices que durante todo o século XVIII, deambularam pela periferia do norte do país, deixando a sua marca em obras de talha, carpintaria, alvenaria e pintura, tanto em edificações públicas, como religiosas. É um conjunto documental investigado pelo autor, em 22 anos e em vários Arquivos Nacionais. Este primeiro volume é uma espécie de dicionário de artistas que calcorrearam toda a região do Douro, da Beira Transmontana e de Trás-os-Montes e Alto Douro ».

Armando Palavras apaixonou-se pelo tema e as pesquisas prosseguiram, nos mesmos e noutros territórios periféricos. E deste alargado estudo resultou também a tese de doutoramento. Na sua ânsia de explorar o passado e de estimular o gosto pelo desconhecido, Armando Palavras, desde que atingiu o topo da carreira académica e estabilidade social e profissional, envolve-se na sociedade civil e, com este estatuto cívico e humanista, entrega-se às causas que domina e de que a sociedade precisa.

Igreja Penela da Beira 

O volume de trabalho intelectual que se lhe reconhece, a qualidade do Saber que irradia e o gosto que tem em ajudar aqueles que, constantemente, precisam dos seus préstimos, estimulam os muitos comprovincianos e amigos de raiz que dele precisam a cada instante.

Tem sido uma referência ascendente em colaborar, por exemplo, com a solidária Comunidade Transmontana, mormente da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro que julgo ser a mais antiga da Lusofonia. Tem sido um elemento fundamental para as causas mais envolventes em função dos objetivos da centenária Associação. Tem sido um conselheiro permanente e exemplar ao serviço da Transmontanidade. Além de executor de tarefas, sempre complexas, é um promotor insistente na imprensa onde colabora e, sobretudo, através do seu blogue Tempo Caminhado, que substitui jornais diários porque tem a vantagem do tempo certo para ler, ouvir e responder. É, por outro lado, o emissário e o recetor. Participa nos grandes eventos culturais que a Casa de Trás-os-Montes de Lisboa promove, e desloca-se a sessões quer em Lisboa, quer na Província.

Igreja de S. Pedro de Paus
Foto Município de Resende

Falo deste Transmontano que conheço desde há várias décadas. Sempre me ajudou e deu cobertura os meus pedidos e outras solicitações, sobretudo nesta fase etária que já me aconselha a fechar a loja.

Parabéns por mais este volume que enriquece a cultura portuguesa.

Artistas e Artífices do Século XVIII veio a público neste mês de Maio. Com a chancela da editora portuense 5 Livros, este volume tem duzentas páginas cheias de informação, dividida pelos seguintes tópicos: Artistas e artífices de Penaguião e outros locais da periferia duriense, Artistas das igrejas do Padroado da Universidade de Coimbra – Bispado de Lamego; São João da Pesqueira e Artistas de Vila Real.

B. F.

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