05AGO20
“Isto dá vontade de morrer!”
Alexandre Herculano, ao deixar
Lisboa para Vale de Lobos
Explica Oliveira Martins:
“Isto deviam ser muitas coisas:
a liberdade naufragada, a vida vivida em vão, a pátria miserável, os homens
cada vez mais rasos!”
O
Ministro da Defesa Nacional (MDN) apôs a sua assinatura em mais um despacho.
Os
despachos de S. Excelência costumam ser, por norma, apenas obnóxios. Mas tem
havido alguns que são infames e infamantes para as Forças Armadas (FA) e a
Instituição Militar (IM). É o caso deste último, que tem o número 35, do
corrente ano.
O
despacho tem como destinatários todos os principais responsáveis das áreas
tuteladas pelo dito cujo ministro que já provou à saciedade não ter a menor
ideia do que anda por lá a fazer.
Qual
é então o objecto desta peça do mais puro nojo, retinto e repenicado? Pois é o
de instaurar um sistema de delação dentro das FA, tendo em vista “um
procedimento formal de denúncia, eficaz e confiável …” (sic) tendo em vista “como
uma das primeiras prioridades deve ser dada ao combate à discriminação, ao
assédio e à violência relacionada com o género…”.
Esta
gentalha que tanto critica a Inquisição (para atacar a Igreja), sem normalmente
saber bem ao que anda, quer agora instituir, em pleno século XXI, um sistema
soez, imoral e amoral e repugnante à natureza humana bem formada.
Querem
infamar e difamar as FA e a IM!
É
preciso ter tolerância zero com estes aprendizes de tudólogos! Tratá-los mal e
desobedecer-lhes.
Espero
que não haja nenhum camarada meu a colaborar neste acto abjecto – sim, não
pouparei nas palavras – pois o seu carácter ficará conspurcado para todo o
sempre!
Como
se sabe a Defesa Nacional, isto é, as FA, pois aquela está confinada ao que resta
destas, não tem problemas nenhuns e vive um dos mais esplendorosos momentos da
sua existência secular (como é público e notório).
Como
tal os respectivos responsáveis à falta de terem com que se preocupar, criam
“fait divers”, e à míngua de serem objecto de notícias ou comentários
televisivos, ou aparecerem fotografados nas revistas cor-de-rosa, inventam
patetices.
É
o caso de um “Plano Sectorial da Defesa Nacional para a Igualdade”, 2019-2021,
onde aparentemente esta iniciativa canalha se insere.
E
têm a lata de escrever (no despacho) visar “uma participação plena e inclusiva
assente no princípio da não discriminação e no combate a estereótipos”. Mas
alguma vez houve discriminação nas FA? Naquelas que eu conheci (e conheci
bem!), nunca dei conta…
E
que “estereótipos” se refere, quererá elucidar-nos?
E
acrescentam com supina desfaçatez que “assumiu-se como objectivo estratégico um
acréscimo de recrutamento, incluindo mulheres, para as FA, a par da melhoria
dos níveis de retenção”, querendo dar a entender, que é por haver problemas na
igualdade de género que os níveis de recrutamento são risíveis e entraram em
falência técnica! Razões há muitas, mas deste teor?
Razões que os responsáveis pela
Política de Defesa Nacional dos últimos 30 anos são os principais responsáveis
pela actual situação! E são responsáveis, não só por negligência,
irresponsabilidade e ignorância, são-no também por propósito e dolo, como qualquer
análise superficial a tudo o que se tem passado no país, evidencia à saciedade.
E
como é que o MDN a quem ostensivamente não trato por “senhor” se propõe
realizar tão ingente tarefa? Simples, manda criar um Grupo de Trabalho (GT),
mais um, para dentro de 120 dias, lhe apresentar o resultado da sua diarreia
mental (só pode) ou seja, “uma proposta de modelo de
procedimento de denúncias relacionadas com o género a implementar na Defesa
Nacional”…
É
isto que está lá escrito. Quem pensa que já viu tudo, desengane-se, o calvário
ainda vai a meio, e não tem fim à vista.
Sejamos claros, precisos e concisos: se alguém dentro das
FA tem razão de queixa são os militares machos em relação às militares fêmeas e
não o contrário…
Sabem quantos elementos vai ter
este GT? Doze; leram bem, doze? Nem vou entrar noutras considerações.
Ensandeceram.
O
MDN, e quem o rodeia, pois seguramente não fez isto sozinho - duvido até que
dedique mais do que 30 minutos diários aos assuntos pelos quais é responsável –
veja-se as tristes declarações do dia 4/8, sobre mais uma “bronca” relativa às
contrapartidas relacionadas com a aquisição do avião C295 – será (serão) tão
ignorantes, falhos de capacidade e de vergonha no bestunto, que não tenham a
mais leve noção de como um despacho destes é infamante e ofensivo para a IM e
os militares?
Nunca
lhes passou pela cabeça, ou alguém teve paciência para lhes chamar a atenção,
de que qualquer sistema de delação é a subversão da lealdade, que é um dos
pilares da IM? Que um sistema destes é vexatório e jamais se poderá aplicar a
quem tem que cultivar um conjunto de virtudes militares e humanas, que são o
sustentáculo da vivência diária nas unidades e o fundamento da vitória e
sobrevivência em combate?
Acaso
pensam que a guerra é uma actividade lúdica, cuja preparação é compatível com
rodriguinhos da baixa política; charadas de taradice sexual, ou experiências
socias delirantes?
O
ministro Cravinho ofendeu-me e a todos os militares que se prezam de o ser. Não
ficará surpreendido, por isso, que eu o trate da forma mais acutilante que me
for possível.
Não
sabe que as FA e a IM têm (há séculos) mecanismos, regulamentos de disciplina,
códigos de conduta e de justiça, que quem vem para as FA, estuda e aprende (e
tem que cumprir)?
E
onde qualquer forma de delação era reprovada e combatida tanto oficial como
oficiosamente?
E
agora aparece um político de meia tigela que calhou cair na sopa da Defesa e
sai-se com uma destas?
O
Ministro enxerga-se?
E
quererá porventura, explicar – pode ser com palavras, desenhos, bonecos,
gestos, etc. – para que serve a cadeia hierárquica? Ou entende que “eles” não
vêm, não ouvem e não falam? Ainda não aprendeu que o RDM (e não só), – que
ainda não conseguiram destruir totalmente – obriga qualquer militar a reportar
oficialmente (não a delatar), qualquer anomalia de que tenha conhecimento,
assumindo a respectiva responsabilidade e consequências?
Já
chega, o destino natural deste despacho é a pia; e o ministro pode ir a seguir “afogando-se”
na sandice que pariu.
O
escrito está desagradável? Está, que os leitores me perdoem.
Mas,
acreditem, ficou muito aquém do asco que este maldito despacho me causou e
inspira.
E
quem não se sente não é filho de boa gente.
Oliveira Martins tinha razão, “os
homens (agora também as mulheres) cada vez mais rasos”…
João
José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador (Ref.)
Tenho que dizer que no início pensei que estava a ser irónico, mas, com o andar do texto, vi que não. Não me vou alongar no comentário. Posso apenas dizer que, apesar de para os militares "graúdos" poder ser infame, duvido que o seja para os subalternos. É verdade que os militares são obrigados a reportar oficialmente quaisquer anomalias, e reportam, excepto as que não reportam. Deixe-me contar-lhe um segredo: como em qualquer área profissional, as forças armadas têm partes boas e partes más. Sim, também têm partes más. Quantos não são os casos de humilhação, disfarçados de "instrução" que não existem por aí. Ainda se lembra do caso da morte nos comandos? Pois, um exemplo claro de "ter a mania" que se é rijo, mandão e querer formar pessoas física e psicologicamente fortes. Se nuns casos a instrução é dada com vigor e respeito, em muitos casos, até de convívio no dia a dia, é nada mais do que "ter a mania" e pensar que se "é o maior" só porque se tem uma patente superior. E o que é que alguém que é "humilhado" ou tratado com menos respeito do que devia pode fazer? Ir queixar-se ao superior? Pois, ainda é pior. Por isso, sim, tudo o que seja para dar mais dignidade às pessoas, garantir um local de trabalho "normal" e em igualdade de condições é algo positivo. Obviamente que a guerra é outra coisa completamente diferente, mas a guerra não é para aqui chamada.
ResponderEliminarEu sei, desta não estava à espera, mas é assim, paciência.