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Júlia
Serra
Esta manhã já ouvi as notícias e o
Covid-19 continua a alastrar em Portugal e no mundo. Os políticos, preocupados
com a economia, os responsáveis sanitários aflitos com o crescente número de
casos, as empresas reclamando apoios, para poder cumprir as suas obrigações, os
pais, encerrados em casa, reclamam os seus salários, os representantes das
Misericórdias aflitos pelo contágio dos idosos nos lares, enfim, um conjunto de
situações elucidativas de um estado de crise. No meio destas notícias, ouvi uma
que me tocou: a falta de responsabilidade de certos cidadãos que não obedecem
ao estipulado pelo Estado de Emergência do país, obrigando as forças de
segurança a recorrer à prisão
Esta pandemia relembra-me o que li no
Romance de Camus, La Peste. Três personagens me ficaram: Rieux, o médico
humanista esforçado, mas não crente, Tarrou que surgiu como voluntário para
organizar as” formações sanitárias voluntárias” era um exemplo de coragem e o
Père Paneloux que considerava a peste como um castigo enviado por Deus, para
convidar os homens a converter-se. Rieux, achava que este castigo não se
coadunava com a imagem de um Deus bom e todo-poderoso. Estas personagens, cada
uma com visões diferentes do problema, lutavam lado a lado para minimizar os
efeitos da doença e aliviar os sofredores. Tarrou personalizava o efeito
coletivo de ajuda implícita nesta passagem, quando Rieux o interrogou:
(…)
qu’est-ce qui vous pousse à vous occuper de cela?
- Je ne sais pas. Ma morale peut-être.
-Et laquelle?
- La compréhension.
Esperemos que outras soluções sejam
encontradas, numa sociedade em permanente evolução e que os avanços
tecnológicos contribuam para a descoberta de novas estratégias para que isto
não se transforme numa miséria humana. Mas é, tal como nos narra la Peste, uma
tarefa de todos.
Neste tempo de isolamento, a pessoa pode
conhecer-se melhor, descobrir um caminho novo e aprender a valorizar a verdadeira
liberdade e fraternidade. Não podemos lamentar nem acusar as regras impostas
pela autoridade, só temos que aprender a descobrir os aspetos positivos desta
clausura.
Tenhamos
paciência e, juntos, miremos as andorinhas.
J.S-
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