A Tinta da
China acaba de publicar mais um livro de poesia de Pires Cabral, incluído
na colecção coordenada por Pedro Mexia.
O contexto, dirão, é o do costume: Trás-os-Montes. Mas não, a temática
abordada por Pires Cabral, é uma temática universal. É tão transmontana como
turca, russa, chinesa, americana ou outra qualquer.
Os grãos de
centeio são tanto as “pepitas de ouro menor” em Trás-os-Montes, como na Rússia,
na América ou em Israel. E a eira é a mesma, e a malhada também – em todo o
mundo. É aqui, em Trás-os-Montes, como na Ucrânia. Assim o relatou John
Steinbeck no seu “Diário Russo” com fotografias de Robert Capa (Livros Brasil,
2018). As diferenças estarão nos pormenores das geografias, mas o poder cósmico
é o mesmo.
Pires Cabral
traz-nos, neste volume, lembranças de outros tempos – da sua infância – o prego
que lhe marcou a alma!
Mas, embora o
poeta esteja em todas as páginas, está, sobretudo, em poemas como o da formiga.
Diz-nos, em meia dúzia de versos o que Edward O. Wilson (um dos maiores
conhecedores das formigas de todos os tempos e um dos maiores cientistas por
nós respeitado) diz em várias páginas. O poeta é assim. Por essa razão, mais descuidado do que o
melro (que, no momento seguinte, se oculta “em silêncio e a recato / nas
funduras da balça”), com o seu canto mais incauto “atrai gatos que facilmente o
colhem”.
Venham mais
livros. Quantos mais vierem de poetas como Pires Cabral, melhor para o mundo.
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