quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

"frentes de fogo" de A. M. Pires Cabral



A Tinta da China acaba de publicar mais um livro de poesia de Pires Cabral, incluído na colecção coordenada por Pedro Mexia.  O contexto, dirão, é o do costume: Trás-os-Montes. Mas não, a temática abordada por Pires Cabral, é uma temática universal. É tão transmontana como turca, russa, chinesa, americana ou outra qualquer.
Os grãos de centeio são tanto as “pepitas de ouro menor” em Trás-os-Montes, como na Rússia, na América ou em Israel. E a eira é a mesma, e a malhada também – em todo o mundo. É aqui, em Trás-os-Montes, como na Ucrânia. Assim o relatou John Steinbeck no seu “Diário Russo” com fotografias de Robert Capa (Livros Brasil, 2018). As diferenças estarão nos pormenores das geografias, mas o poder cósmico é o mesmo.
Pires Cabral traz-nos, neste volume, lembranças de outros tempos – da sua infância – o prego que lhe marcou a alma!
Mas, embora o poeta esteja em todas as páginas, está, sobretudo, em poemas como o da formiga. Diz-nos, em meia dúzia de versos o que Edward O. Wilson (um dos maiores conhecedores das formigas de todos os tempos e um dos maiores cientistas por nós respeitado) diz em várias páginas. O poeta é assim.  Por essa razão, mais descuidado do que o melro (que, no momento seguinte, se oculta “em silêncio e a recato / nas funduras da balça”), com o seu canto mais incauto “atrai gatos que facilmente o colhem”.
Venham mais livros. Quantos mais vierem de poetas como Pires Cabral, melhor para o mundo.

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