O calendário, agora redescoberto e trazido a uma “nova luz de conhecimento”
por Vítor Serrão, é um “verdadeiro tesouro” que, “quase milagrosamente”, chegou
íntegro aos nossos dias e num notável estado de conservação.
O Museu da Terra de Miranda, em Miranda do Douro, inaugura, no próximo dia
11 de outubro, pelas 17h00, a exposição “os retratos dos Meses da Sé de Miranda
do Douro: uma rara alegoria pintada em Antuérpia por Pieter Balten”.
“Trata-se de uma série pictórica conhecida como ‘O Calendário da Sé de
Miranda do Douro’, com cerca de 440 anos, que agora é mostrado ao público pela
primeira vez. É um extraordinário conjunto de doze pequenos quadros, pintados
sobre madeira, representando, de forma intimista e evocando o quotidiano rural,
o ciclo dos meses do ano”, explica à Renascença a diretora do
Museu da Terra de Miranda (MTM), Celina Pinto.
De acordo com a recente investigação feita pelo historiador de arte Vitor
Serrão, os quadros foram encomendados em 1580, pelo 5.º bispo da diocese de
Miranda do Douro, Jerónimo de Meneses, em Antuérpia, na Flandres (Bélgica),
atribuindo-se a autoria da obra a Pieter Balten, pintor, gravador e ilustrador.
“Rara pela sua integridade, autoria, antiguidade, proveniência e estado de
conservação, este “Calendário” é agora (re)descoberto e trazido a uma nova luz
de conhecimento por Vítor Serrão, que o atribui a Pieter Balten (Antuérpia,
1527-1584), um dos principais inventores da pintura de cenas do quotidiano na
arte flamenga e holandesa, sucedido nesse estilo por um seu discípulo, o famoso
pintor brabantino Pieter Bruegel”, observa a diretora do MTM.
A responsável sublinha que “o conhecimento académico do ‘Calendário’ é
relativamente inédito em muitos aspetos”, na medida em que “estabelece o novo
patamar de valor artístico, histórico e museológico”.
“É um conhecimento alicerçado tanto na grande qualidade intrínseca das
obras, como pela exemplaridade e singularidade com que se inserem no contexto
histórico nacional da região de Trás-os-Montes e, em particular, da vitalidade
cultural da sede do bispado de Miranda do Douro”, explicita.
O conjunto de pinturas dos “Meses”, outra designação pela qual é conhecido,
desde há muito decora as paredes da sacristia da concatedral de Miranda do
Douro, mas poderá ter sido originária nas coleções artísticas outrora
conservadas no Paço Episcopal, anexo à Catedral de Miranda, um impressionante
palácio desaparecido no século XX e de que subsiste apenas a arcaria do
claustro.
Obras de Pieter Balten |
Ainda segundo a diretora do MTM, a divulgação deste conjunto pictórico
torna-se, agora, possível no âmbito do programa NORTEAR que visa o
desenvolvimento cultural e patrimonial, de âmbito transfronteiriço, envolvendo
instituições portuguesas e espanholas.
No programa NORTEAR estão envolvidas entidades como o Agrupamento Europeu
de Cooperação Territorial – Galiza e Norte de Portugal (AECT-GNP), a Direção
Regional de Cultura do Norte, em articulação com o Museu da Terra de Miranda e
com a Concatedral de Miranda do Douro, e a Xunta de Galicia.
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