BARROSO da FONTE |
Por iniciativa da
Direção da Grã-Ordem Afonsina, no dia 8 de outubro de 2019, no auditório da
Santa Casa da Misericórdia de Guimarães, realizou-se um Encontro|Debate sob o
tema da Revalorização do Património Cultural (Religioso) de Guimarães (Material
e Imaterial), em que participaram a Senhora Vereadora da Cultura da Câmara
Municipal de Guimarães, Drª Adelina Paula Pinto, o Senhor Vigário-Geral da
Cúria Arquiepiscopal de Braga, Cónego José Paulo Leite de Abreu, o Presidente
do Conselho de Administração da Fundação Lusíada, Senhor Dr. Abel Augusto
Madeira de Lacerda Botelho e várias instituições culturais de Guimarães.
Presidiu à sessão o
Presidente da Direção, Dr. João Barroso da Fonte, que, depois dos cumprimentos
da praxe, deu a palavra ao Presidente da Assembleia Geral, em exercício, Dr.
Florentino Armando Faria Cardoso, para apresentar o projeto de criação de uma
Cooperativa com o objetivo principal de preparar as comemorações dos 900 anos
da batalha de S. Mamede ao longo do ano de 2028, envolvendo o maior número de
instituições políticas e culturais locais, regionais, nacionais e dos Países de
Língua Oficial Portuguesa.
No uso da palavra, o
Dr. Florentino Cardoso começou por referir que Guimarães é um destino turístico
em que a cultura se afirma como o principal referencial da procura, seja pelo
caráter excecional do seu património arquitetónico, classificado como
Património da Humanidade desde 2001, seja pela riqueza do seu património
histórico, representado pela figura de D. Afonso Henriques, o Rei Fundador da
Nação Portuguesa e também pela imagem de Santa Maria de Guimarães, agora
conhecida como Nossa Senhora da Oliveira e cuja veneração constituiu um dos
fenómenos mais marcantes do cristianismo português ao longo da idade média.
Afirmou, ainda, que estes dois ícones vimaranenses constituem os dois pilares
históricos sobre os quais se construiu Portugal e, nessa medida, formam um eixo
capaz de potenciar o desenvolvimento turístico do Município de Guimarães.
De seguida, fez
alusão à ESTRATÉGIA TURÍSTICA 2019/2029 - um Estudo|Plano apresentado pela
Câmara Municipal de Guimarães no passado dia 17 de setembro - onde se aconselha
a criação de uma equipa composta pela Câmara Municipal, associações e atores
locais para a implementação de projetos, bem como uma Plataforma de Gestão que
assegure a análise periódica sobre ponto de situação e resultados de cada
projeto. Salientou que, neste enquadramento, poderão surgir programas, projetos
ou sub-projetos direcionados para o melhor aproveitamento turístico de
Guimarães, se os agentes responsáveis pela gestão do património se interligarem
e, sob um espírito de cooperação, forem capazes de desenvolver ideias e
dinâmicas inovadoras no âmbito da referida Estratégia Turística. A este
propósito acrescentou ainda que, segundo notícias publicadas no dia 18|04|2018,
o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Guimarães, Dr. Domingos Bragança,
desafiou as instituições culturais a envolverem-se em projetos comuns. Lembrou
também as recentes palavras do Senhor Arcebispo de Braga, relatadas no Diário
do Minho de 03|10|2019, em que o ilustre Prelado, no mesmo sentido, realçou a
importância dos projetos, dos planos e das políticas em comum para a
valorização do nosso património. Deste modo, concluiu que todas estas circunstâncias
constituiram um lenitivo para a apresentação do projeto que hoje aqui vem
fazer.
Sobre a importância
da figura de D. Afonso Henriques para Guimarães citou as palavras de Bernardo
Sá Nogueira, que um dia disse:
"Guimarães é
seguramente a cidade portuguesa que mais se apropriou da memória coletiva do
reinado de Afonso Henriques, pois até o clube de futebol local usa a imagem
estilizado do monarca".
E quanto ao valor de
D. Afonso Henriques para a marca Portugal, citou Carlos Coelho, Presidente da
Associação Portugal Genial, que em dois artigos de opinião referiu, no primeiro
que:
"D.Afonso
Henriques foi o primeiro a criar uma marca-país no sentido contemporâneo do
termo...."
e, no segundo, que:
"O fundador da
nossa marca tornou o país independente, dotou-o de meios, assumiu um modelo de
governação e incorporou uma energia subtil que perdurou no tempo e se manteve
até aos nossos dias e, por isso, somos feitos de um sonho que dura há quase 900
anos".
Invocou, ainda, a
conhecida trilogia "Futebol, Fados e Fátima" para afirmar que ela
simboliza as três grandes paixões do género humano (Desporto, Pátria e Fé) e
não é uma marca do Estado Novo, como muitos têm considerado a partir do 25 de
Abril. Para desfazer este mito, basta observar o crescimento exponencial
registado desta trilogia no período democrático! E por isso, ela pode ser
usada, sem preconceito, para representar as três grandes paixões, ou a
"garra", dos vimaranenses. O "Futebol" será a representação
do fervoroso amor clubístico ao Vitória Sport Clube, prestes a cumprir um
século de vida. Os "Fados" traduzem o amor à Cidade, a Portugal e aos
momentos mais marcantes da sua história, como a Fundação e a Independência. E
"Fátima" reflete o papel de Nossa Senhora na história de Guimarães e
de Portugal, uma vez que a veneração a Santa Maria de Guimarães constituiu um
fenómeno marcante do cristianismo do povo português ao longo da idade média, a
ponto de Portugal ser muitas vezes designado de Terras de Santa Maria.
Salientou também que
o chamado "Turismo de Experiência" deve ser o novo paradigma para o
melhor aproveitamento do património cultural|religioso de Guimarães,
operando-se através do desenvolvimento de dois braços: o Turismo da História e
o Turismo Religioso. Neste contexto, afirmou que a cidade de Guimarães pode
posicionar-se como um verdadeiro "Santuário de História e de Fé",
onde se manifestem ao vivo os mais profundos sentimentos dos vimaranenses e dos
portugueses, tornando-se um lugar imperdível para o turista do século XXI, já
que agora a tendência é
"viajar para
destinos onde, mais do que contemplar e visitar, seja possível sentir, viver,
emocionar-se e ser personagem da sua própria viagem" (in OMT, Estudos Estratégicos do Turismo para 2020).
Aludiu ainda ao facto
de, no século passado, o antigo regime ter aproveitado o ano de 1940 para
comemorar, conjuntamente, os 8 séculos da Fundação da Nacionalidade e os 3
séculos da Restauração da Independência, avocando estes valores para a
ideologia nacionalista do regime comemorar, através da realização em Lisboa da
chamada Grande Exposição do Mundo Português, que acabou por se traduzir numa
gigante manifestação de propaganda do regime. Por isso, a verdade histórica
impõe que, neste século, as comemorações do nono centenário de Portugal ocorram
no local e no dia do seu nascimento. Defendeu, portanto, que Guimarães tem
obrigação de se preparar para, no ano de 2028, ser o palco principal das
comemorações dos 9 séculos de Portugal, uma vez que a Batalha de S. Mamede,
ocorrida em território vimaranense no dia 24 de junho de 1128, foi a Primeira
Tarde Portuguesa, como proclamou o ilustre historiador JOSÉ MATTOSO.
Em conclusão, propôs
que a solução para a realização desse grandioso evento (como objetivo
principal), e para alavancar o esforço de estruturação dos recursos turísticos
históricos e religiosos de Guimarães (como objetivo complementar ou acessório),
deverá passar pela criação de uma entidade social dotada de personalidade
jurídica, com objetivos sociais comuns e sob um modelo jurídico que contemple a
entreajuda dos seus membros. E que, na nossa ordem jurídica, o melhor modelo
que se vislumbra para tal objectivo é a “Cooperativa”, regulada pela Lei nº
119/2015º (Código Cooperativo).
Seguidamente usaram
ainda da palavra, a Senhora Vereadora da Cultura, o Senhor Vigário-Geral, o
Senhor Administrador da Fundação Lusíada, acima referidos, bem como o
Presidente da Direção de OSMUSIKÉ, Dr. Jorge do Nascimento Pereira da Silva e o
membro da Direção do Chorus Anima Populi, Dr. Júlio Esteves Dias. Por todos foi
aplaudida a ideia de Guimarães preparar, de forma atempada, as comemorações dos
900 anos da batalha de S. Mamede e por todos foi manifestada a vontade de as
respetivas instituições contribuirem para este patriótico objetivo.
Não havendo mais nada
a tratar, o Presidente da Direção, Dr. João Barroso da Fonte, agradeceu a
colaboração dos participantes e deu por encerrada a sessão.
Guimarães,
08|outubro|2019
João Barroso da Fonte
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