sexta-feira, 18 de maio de 2018

Futebol e política – dois poderes em erupção

  
Por BARROSO da FONTE
Ambos bateram no fundo. O primeiro cumpriu o vaticínio de Pimenta Machado: «o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira». A maneira como terminou o último campeonato de futebol, com jogos como o Rio Ave-Chaves e o Marítimo-Sporting, deixam no ar sentimentos de revolta porque desvirtuam a verdade desportiva. Quem viu e ouviu o decorrer do jogo arbitrado, em Vila do Conde, por Hugo Miguel, não acredita que houve lisura desportiva.
No semanário a Voz de Chaves já deixámos indícios de que esse árbitro anulou um golo limpinho ao Chaves e, já na segunda parte, marcou dois penáltis seguidos, contra o mesmo clube, para além de lhe expulsar dois jogadores. O Grupo Desportivo de Chaves foi apeado do 5º lugar por um «roubo de igreja».
O segundo poder vem perdendo a supremacia sobre o primeiro e é nele que vamos afundar-nos todos. As consequências selvagens daquilo que aconteceu, na sequência da derrota do Sporting na Madeira, com um ato terrorista em Alcochete, mostra a fragilidade da política, a desafiar o poder político, como o (ainda) Presidente do Sporting, veio a público, acusar os Presidentes da República e da Assembleia da República. Para incendiar a fogueira chegaram as denúncias sobre a compra de resultados, em jogos de duas modalidades desportivas que envolvem os mesmos e outros clubes. A facilidade com que estas «negociatas» se conseguem, quer na política quer no futebol, permitem concluir que urge redobrar os quadros da Polícia Judiciária, da GNR e da PSP porque, juntamente com o atual quadro do Ministério Público e com as denúncias das redes sociais, constituem a única forma de travar este terramoto.
«Há cerca de 11 anos a comunicação social começou a levantar suspeitas sobre a licenciatura de José Sócrates. Dia 11 do corrente a SIC Notícias convidou três jornalistas que em 2007 estiveram envolvidos nas reportagens que despoletaram a polémica que dividiu o país». De um lado os amigos do «mentiroso compulsivo», autor dessa primeira geringonça que nos atirou para a bancarrota financeira, moral e intelectual. Do outro lado aqueles que andam distraídos e que por hipocrisia ideológica tinham vergonha de abrir as hostilidades. Agora que já nada há a temer, porque são tais e tantos os sarilhos em que todos caímos, a crer nas investigações judiciais, que nos resta deitar as mãos à cabeça e concluir: - como foi possível, um homem só, «chegar ao poder e manter-se nele tantos anos, montado numa mentira», no dizer de Henrique Monteiro.
 Neste debate da SIC que o leitor encontra facilmente, online, no tema «José Sócrates na mira da Justiça», encontra o que atrás refiro e dá imagem e voz a esses três jornalistas que despoletaram no Público e no Expresso, esses sucessivos escândalos públicos: Ricardo Dias Felner, José Manuel Mendes e Henrique Monteiro. O primeiro dos três, esbarrou com algumas reações arriscadas  do assessor de imprensa  de Sócrates: Luís Bernardo. A falsa licenciatura prestou-se a embaraços que se estenderam à panóplia de casos que nos envergonham, visto que ele e alguns daqueles que teimam em estar com ele, não têm vergonha nenhuma.
 Como foi possível, desde 2007, até ao dia em que foi detido, iludir um país inteiro. Fintou a própria União Europeia, estendeu os tentáculos açambarcadores à Venezuela, ao Brasil, a Angola e enganou o Tribunal de Contas. Contratualizar adjudicações megalómanas, legitimou administrações bancárias, produziu e aprovou leis iníquas, seduziu procuradores e armadilhou toda a documentação que lhe permitiu acesso a tudo quanto era sigiloso. Nomeou e despediu gente séria, enfim, brincou com o Povo a quem prometeu fidelidade, deixando milhares na miséria e a nós todos na bancarrota.
Não se acusa aqui o partido político a que pertenceu. Infelizmente em todos eles há bons e maus militantes. Mas deplora-se que tenha havido políticos que foram, conscientemente, solidários com ele, dando cobertura a processos fraudulentos, a decisões erradas, a atitudes contra natura.
A esquerda radical teima em acusar a direita de ser autora da vinda da troika e de deixar o país na miséria. Como já deu para ver - afinal - foi a esquerda que, de braço dado com Ricardo Salgado, com as administrações da Caixa Geral de Depósitos e de outras instituições subservientes ao poder de Sócrates, ziguezaguearam, provocando a ruína por que passámos e ainda estamos a passar. Está provado que foi o BES, através de Ricardo Salgado que retirou aos clientes pobres, para dar à Fundação Mário Soares, a Sócrates, a Granadeiro, a Zeinal Bava, a Rui Horta e Costa e a tantos outros que estão a contas com a justiça.
Mas não foi apenas aquilo que Sócrates desviou. Foram também os «desvios» que alguns dos seus ministros: Mário Lino, António Mendonça e Paulo Campos, fizeram para auto-estradas e Parques Escolares. E também o seu ex-Secretário de Estado, João Vasconcelos, igualmente, já constituído arguido, com a agravante de ter atribuído fundos comunitários à empresa da própria mulher. E que dizer de Manuel Pinho, o tal ministro dos «corninhos», cuja dimensão fraudulenta ainda se desconhece?
Com a mudança do milénio, advieram para a sociedade portuguesa fenómenos estranhíssimos. 
Nos 890 anos que Portugal completa em 24 de Junho próximo, a História registou muitas e exóticas peripécias. D. João V, por exemplo, canalizou para o Vaticano, a maior parte do dinheiro da Coroa, «para que ele fosse absolvido dos pecados e pecadilhos» que o próprio cometia com as freiras do Convento de Odivelas. Mas roubar, pelo prazer de roubar, não se conhecem facécias tão descaradas. Que a democracia tem vindo a parir sósias, em grande escala, desse espécime político, todos sabemos. Mas esta mais recente praga é pior do que vespa asiática. Parabéns à PJ e à Justiça.

Comentário:
Por questões éticas não se comentam textos dos colaboradores. Mas, neste caso, porque se assina por baixo o texto do Doutor Barroso da Fonte, vêm mesmo a propósito os dados da organização não governamental Transparency Internationalpublicados a 21 de Fevereiro deste ano, (e que têm sido silenciados pela comunicação social).     
Dos 180 países e territórios avaliados de acordo com a percepção dos seus níveis de corrupção, Portugal fica em 29.º lugar, com a Nova Zelândia em 1.º e a Dinamarca em 2.º. Na Europa é o país que apresenta a Administração pública mais corrupta!     


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