Pedro Correia,
proprietário do blogue http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/ , contactou-nos há dias para escrevermos artigo em
rúbrica própria. Aproveitámos para lhe enviar súmula de ensaio sobre a
Literatura Russa, que pode ser lida AQUI. Na
qual nos vimos na obrigação de cortar uma quantidade de notas explicativas.
Publicado, deu origem a
certos comentários, como é costume nestas publicações online.
Um dos comentadores, Luís Lavoura , estendeu-se em questões de forma, em vez de conteúdo, e em pormenores
que mais respeita às atrocidades nazis do que às comunistas soviéticas.
A
dado passo comenta: “Chernyshevski - Para leitores portugueses, dever-se-ia escrever
"Tchernychevski". O mesmo se aplica, penso eu, a Chalamov e Chmeliov.
O melhor é ver a ortografia russa dos nomes para tirar dúvidas”. E acrescenta:
Evgueni Zamiatine - "Yevgueni
Zamiatin" estaria mais de acordo com a forma de ler".
Para um texto de seis páginas, o que é que este comentário acrescenta ao
conteúdo? Nada! Nem mesmo à ortografia; à nomenclatura russa.
Um comentador anónimo diria: “Aproveito para esclarecer que a forma
como se escrevem os nomes russos depende das edições”.
É claro que Luís Lavoura botou a
“faladura” de certos “eruditos”:
“a forma como se escrevem os nomes russos
depende das edições - Não. Os nomes
russos escrevem-se de uma só forma, no alfabeto cirílico. Quando se
transcreve esses nomes para o alfabeto latino, podem-se usar diferentes
convenções - a convenção de leitura alemã, a inglesa, a francesa, a portuguesa,
etc.
Por exemplo, os franceses escrevem
"Poutine" para o nome que nós escrevemos "Putin". Os
alemães escrevem "Gorbatschow" para o nome que nós escrevemos
"Gorbatchov". E assim por diante.
Se o Armando Palavras quer escrever este
texto em bom português, então deve utilizar sistematicamente a transcrição
fonética do português. Por exemplo, em português
"ch" não se lê "tch" como em inglês.
Deve ter em atenção que alguns sons
"e" se lêem "ie" em russo. Por exemplo, no nome Ievgueni.
Isso é claro na escrita cirílica do nome”.
Peguemos neste primeiro ponto – na nomenclatura russa -, ao segundo já lá iremos.
É óbvio que “Os nomes russos escrevem-se
de uma só forma, no alfabeto cirílico”. Como em qualquer alfabeto se escrevem
todos os nomes! Mas Luís Lavoura sabe muito bem que tudo depende do tradutor
(da convenção que cada um segue, como ele próprio diz). Os exemplos que
poderíamos rebuscar não caberiam nesta página. Referimo-nos inclusivamente a
nomes da Antiguidade! Ou a obras como a Vulgata,
traduzida do Grego por São Jerónimo.
E como Luís Lavoura quer entrar nesta “conversa
fiada”, sobre esta questão temos a dizer o seguinte: Evgueni Zamiatine foi
traduzido, para português, por exemplo, por Manuel João Gomes, a partir da
versão inglesa. E por Nina Guerra e Filipe Guerra. Ambas usam a mesma
nomenclatura. A que nós usamos para o “ensaio”, porque foram essas traduções
que lemos.
José Milhazes, por
exemplo, escreve na sua tradução dos contos de Kolima (que Luís Lavoura não
leu), o nome de Varlam Chalamov de forma diferente de outros tradutores que
utilizam o “S”. Aliás, na tradução de Milhazes até acontece coisa interessante: na capa do livro, o nome do autor russo aparece escrito com "C" e no texto, com "S". É preciso não esquecer que Milhazes domina o russo. Viveu na Rússia vários anos. Qual será a transcrição (correcta) fonética do português? O
douto Luís Lavoura saberá explicar?
Para outras transcrições da nomenclatura tivemos de nos servir dos ensaios de George Steiner ou Marshall Berman, porque não existem obras vertidas desses autores para português. Por exemplo, "Le ciel de La Kolyma" de Evguénia S. Guinzbourg só conhecemos a versão francesa, publicada há mais de 30 anos! Já agora, como se escreverá Kolyma? Com "i" ou com "y"? Esperamos que Luís Lavoura nos elucide!
Para outras transcrições da nomenclatura tivemos de nos servir dos ensaios de George Steiner ou Marshall Berman, porque não existem obras vertidas desses autores para português. Por exemplo, "Le ciel de La Kolyma" de Evguénia S. Guinzbourg só conhecemos a versão francesa, publicada há mais de 30 anos! Já agora, como se escreverá Kolyma? Com "i" ou com "y"? Esperamos que Luís Lavoura nos elucide!
Mais, se Luís Lavoura
conhecesse esta Literatura, verificaria que muitos termos russos são “quase
iguais” a termos portugueses, como foi notado por Z. Consiglieri Pedrozo no
século XIX (nota elucidativa a que não teve acesso, porque se encontra no
ensaio original). E que, ao contrário do que diz, o “ch”, em regiões como
Trás-os-Montes se lê “tch” (como no inglês). Basta que consulte uma obra
recente de Jorge Lage – “Mirandela, outros falares”. Ou "Língua Charra" de A.M. Pires Cabral.
Mas nem é necessário recorrer ao erudito novecentista. Nós próprios que não temos formação académica nessa área linguística (mas com formação cultural considerável, dizem-nos) lhe arranjaremos uma dúzia de termos, em qualquer obra russa, iguaizinhos a termos portugueses. Muitos deles iguaizinhos a termos transmontanos! Termos e frases completas!
Mas nem é necessário recorrer ao erudito novecentista. Nós próprios que não temos formação académica nessa área linguística (mas com formação cultural considerável, dizem-nos) lhe arranjaremos uma dúzia de termos, em qualquer obra russa, iguaizinhos a termos portugueses. Muitos deles iguaizinhos a termos transmontanos! Termos e frases completas!
Quanto ao segundo ponto, o comentador diz em
primeiro comentário: “a libertação dos campos de extermínio de Treblinka e
Majdanek - Treblinka não foi libertado, já que tinha sido encerrado pelos nazis
em finais de 1943. Os nazis tiveram aliás todo o cuidado em demolir e
dissimular os restos do campo, pelo que, provavelmente, quando os soldados
soviéticos por lá passaram nem viram nada de distintivo. Creio que, após a
guerra, foi necessário fazer um trabalho não-trivial de pesquisa para se
descobrir onde se situava o campo”.
O comentador anónimo
respondeu: “E sobre Treblinka é fundamental a leitura de um testemunho de Chil
Rajchman: "Sou o Último Judeu".
Ora Luís Lavoura não foi
de modas: “a libertação dos campos de extermínio de Treblinka e Majdanek - É
difícil ter estado na libertação desses dois campos, dado que Treblinka (que,
repito, já tinha sido destruído e camuflado quando as tropas soviéticas lá
chegaram) fica no norte da Polónia, a uns 100 quilómetros a nordeste de
Varsóvia, enquanto que Majdanek fica no sudeste da Polónia, mesmo ao pé de
Lublin. Certamente que foram colunas distintas do Exército Vermelho que
ocuparam os dois campos.
É
provável que se queira referir às libertações dos campos de Majdanek e
Auschwitz, esses sim situados no sudeste e sudoeste da Polónia,
respetivamente, e que provavelmente terão sido libertados pela mesma coluna do
Exército Vermelho (em datas distintas, claro)”.
Quanto a este segundo
ponto, que nenhum interesse tem para o “ensaio”, porque trata da questão
soviética, Luís Lavoura tem alguma razão, sobre o facto de Treblinka ter sido
destruído pelos nazis. Até porque foram os próprios presos que se revoltaram
dando origem a um levantamento. É bom, portanto, que leia o testemunho de Chil
Rajchman, traduzido por Telma Costa: "Sou o Último Judeu".
Mas a questão da
libertação é outra história. O autor do ensaio não afirma que foram libertados
este ou aquele campo. Nem se refere concretamente a nenhum campo. O que o autor
diz é que Vassili Grossman (veja lá se também aqui encontra alguma questão de albabeto cirílico!) reproduziu nas suas crónicas a libertação de Treblinka e Majdanek. E
o seu artigo “O Inferno de Treblinka” servirá de prova nos julgamentos de
Nuremberga”. Como se diz no “ensaio”. Não se diz mais nada do que isso.
Nós conhecemos o tipo de
retórica (inquisitorial) utilizado por Luís Lavoura. É antigo. Por essa razão
nos Evangelhos Jesus a uma pergunta, responde com outra! Mas nós não somos
Jesus e a uma “aldrabice” procuramos responder com a “verdade”. Cícero também a
usou, mas com virtude!
Quanto à localização dos
vários campos de extermínio descrita pelo comentador, o mapa que apresentamos
regista bem o seu desconhecimento geográfico polaco.
Em
suma, Luís Lavoura nada acrescentou ao debate. Ao contrário de Pedro Correia, Maria Dulce Fernandes , ou De singularis alentejanus que,
com prosa singela, disseram mais numa linha que Luís em vinte!
A
retórica de Luís Lavoura é a mesma das (retóricas, não vá aqui arranjar alguma
questão de alfabeto cirílico) do costume – “sem tirar nem pôr”, como diz o vulgo.
Armando Palavras
NOTA: Não lhe respondemos
no blogue de Pedro Correia, em comentário, porque não temos o direito de incomodar ninguém.
Respondemos-lhe neste, que apenas nos incomodamos nós. Aqui, Luís Lavoura pode
comentar à vontade, porque lhe responderemos à vontade. E, se quiser, tem
direito de resposta. Porque a liberdade é, para nós, o valor mais sagrado. E o
apuramento da verdade, o segundo.
Actualizado a 1 de Setembro de 2017
Actualizado a 1 de Setembro de 2017
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