Barroso da Fonte |
“O primeiro ministro que
nunca o seria se tivesse um mínimo de decoro político, fartou-se de usar e
abusar do chavão: palavra dada é palavra honrada. Talvez este aforismo fosse
propício no tempo dos nossos avôs. Mas não hoje, quando se cometem crimes monstruosos
e se fazem comícios a arrancar palmas pelo seu sucesso.
Mal chegou ao governo deu ordens aos seus
colaboradores para zurzirem no governo anterior. Para tanto celebrou
«casamento» contra natura, com os partidos da esquerda que se comprometeram a
votar, favoravelmente, os orçamentos e as deliberações que entendesse levar ao
Parlamento. Logo no primeiro teste foram os dois partidos que desprezou e que
teima em provocar, sempre que as coisas lhe correm mal, a salvar a honra do
convento. Nos cerca de dois meses que leva de governo já sentiu vários puxões
de orelhas. O ultimo foi mais visível e, se tivesse um mínimo de humildade
perante aquele que o derrotou nas legislativas de 4 de Outubro, não viria a
correr, ao Porto, disfarçar a lição que Ângela Merkel lhe deu, de luva branca,
quando lhe disse, olhos nos olhos, que «o seu antecessor conduziu Portugal por
um período bastante conturbado. Não foi fácil mas conseguiram-se coisas
impressionantes e que ele, António Costa, terá que fazer tudo para conseguir continuar
este caminho bem sucedido». Qual quê?
Prometeu por imposição dos seus pupilos da
esquerda, não aumentar os impostos e foi a primeira desonra que cometeu perante
o país. País que no dia 24 de Janeiro, em ato eleitoral da máxima importância,
lhe mostrou o cartão amarelo, como que a preveni-lo de que use mas não abuse,
porque 52% dos eleitores estão contra si e contra os seus comparsas de
governação. Lembre-se de que um Presidente da República, por mais benévolo que
seja e mesmo que tenha sido seu professor de direito, não poderá «abençoar»
deslizes tão graves como foi a venda do BANIF. Num fim de semana, à socapa,
como se assaltam as residências, os bancos e as bombas de combustíveis, vendeu
um banco que em 30 de Setembro valia 675 milhões de euros, por tuta e meia, a
um outro banco estrangeiro, surpreendendo os gestores e deixando de boca aberta
tantos outros bancos que poderiam dar muito mais pelo negócio se fosse essa
operação às claras? Terá António Costa assistido ao programa que a RTP2 exibiu no
dia 29 de Janeiro, com o seu amigo Rui Rio? Acaso lhe ouviu dizer que os
Portugueses têm o direito de saber porque motivo, num delírio de fim de semana
deitou à fogueira «mais de 2 mil milhões de euros»? O economista Rui Rio, seu confidente do tempo
em que ele Presidente da Câmara do Porto e o Senhor da de Lisboa, disse que a
equipa que lidera «não tem condições para bater o pé o Bruxelas». E perante
esta reprimenda pública, da qual parece
não ter tirado ilações, ainda teve coragem de baixar a «bolinha» ao plano e
orçamento que Bruxelas não aceitou, tendo que rastejar junto de Jerónimo de
Sousa e de Catarina Martins para que aceitassem aquilo que nem agradou ao PC
nem ao PSD nem ao CDS. Afinal com que orçamento vai governar: com o do PS ou
com o da esquerda (des)unida?
António Costa, em surdina, pela calada da
noite, malbaratou mais de dois mil milhões de euros com a venda do BANIF. O
Parlamento já designou uma comissão para
averiguar esse ruinoso negócio. Os eleitores cada vez mais fogem das urnas ou então, por respeito
ao voto, fazem-no por protesto nos «Tinos» de cada eleição. Mas a equipa de
Finanças do atual governo terá que prestar contas na praça pública. Disso não
se livra, mais cedo ou mais tarde, pelo facto dos políticos poderem fazer todo
o tipo de negócios, com a prévia certeza de que não são criminalizados. É mais
uma aberração da democracia que escandaliza o zé povinho que já começou a pagar
mais impostos no combustível, nas
viaturas, no tabaco, no acesso à banca,
na poluição automóvel etc. etc.
Como prémio destes dois meses de governo,
António Costa encenou para as televisões mostrarem que tudo vai bem no reino da
Capadócia. O pretexto foi a reversão da venda da TAP. Quem assistiu a essa
geringonça ficou atónito: como é possível ao Estado e à Empresa que adquiriu a
TAP, geri-la, se cada uma das duas partes fica com metade do capital e do
poder? Que benefícios recuperou com mais esta reversão? Tinha prometido
recuperar, pelos menos os 51%. Até Jerónimo de Sousa ficou irritado. Foi coerente.
Para terminar, mais uma «desonrada à palavra»: qual o motivo porque anunciou
que já pagava, no mês de Janeiro, a reversão das reformas aos pensionistas e a
raia miúda a que pertenço, não viu reversão alguma?”.
- Barroso da Fonte
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